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A política do carácter

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A política do carácter Empty A política do carácter

Mensagem por Viriato Ter Fev 17, 2009 2:08 am

A política do carácter

17/02/09 00:01 | Pedro Adão e Silva


Credibilidade, seriedade, trabalho, verdade. Nos últimos anos, estes termos tornaram-se estruturantes da disputa política, diluindo progressivamente a diferença baseada em distinções ideológicas.

A tendência tem-se acentuado. Dois casos recentes são bem ilustrativos: o cartaz da JSD que chama mentiroso ao primeiro-ministro e a iniciativa "Portugal de verdade" do PSD.

Num caso de modo explícito, noutro não tanto, a sugestão é clara: um dos campos afirma-se pela credibilidade e pela verdade, detendo o monopólio destas categorias. A verdade é naturalmente uma categoria ética louvável, mas como critério para a escolha tem como efeito um empobrecimento da disputa política, funcionando como obstáculo para a afirmação de projectos alternativos. Enquanto os partidos se afirmam pela verdade, evitam objectivamente a diferenciação e, em última análise, transformam a escolha política numa opção entre carácteres - entre quem mente e quem é fiel à verdade. Esta tendência tem vários problemas.

Um primeiro é o empobrecimento dos termos do debate político. O princípio-base da política é a diferença, a negação de que há uma verdade única sobre os factos. O que há são diferentes apropriações, igualmente verdadeiras, dos factos. Ao contrário do que sugeriu Cavaco Silva durante a campanha para as presidenciais, duas pessoas sérias com a mesma informação não têm de concordar. Pelo contrário, espera-se que discordem, alicerçadas num comprometimento com diferentes visões do mundo. Por isso, o recurso sistemático a categorias como verdade e credibilidade, que são categorias morais que remete para o carácter dos protagonistas, torna as escolhas indiferenciadas, não permitindo a mobilização em torno dos projectos enraizados ideologicamente em que devem assentar as preferências de sociedade. Quando a afirmação dos projectos partidários assenta na avaliação do carácter dos protagonistas, estamos perante o grau zero da política.

Sintomaticamente, entre nós, de cada vez que se inicia uma discussão eminentemente política ela é rapidamente substituída por um debate despolitizado. Veja-se como, nas últimas semanas, um debate político relevante - o papel da fiscalidade como instrumento para a promoção da redistribuição - foi rapidamente abandonado, sem que todos os campos políticos tentassem afirmar a sua posição, passe o pleonasmo, política. Com a natural excepção do PS que iniciou o debate e do CDS que não hesitou em posicionar-se criticamente face ao tema (apresentando, aliás, um conjunto de alternativas), os restantes partidos optaram por sublinhar ou a natureza eleitoralista da discussão ou a sua não exequibilidade. De posicionamento político, sobrou pouco. Exemplos deste tipo, envolvendo todos os partidos, não são difíceis de encontrar.

Em segundo lugar, as escolhas políticas baseadas em avaliações de carácter abrem caminho para todos os populismos. Desde logo porque não se conhecem formas credíveis de escrutinar no espaço público os carácteres. Aliás, o que se sabe é que a política baseada na superioridade de carácter resvala, frequentemente, para lideranças fortemente personalizadas, que estão na génese de populismos. De Chavez a Berlusconi, todos os populistas se afirmam pelo carácter exemplar das suas lideranças - exemplificado invariavelmente pelas mais diversas façanhas - e por estes serem detentores da verdade.

Não é preciso andar excessivamente atento para perceber que, nos dias que correm, a mobilização política em Portugal é particularmente baixa.

Num ano com três eleições num curto espaço de tempo e num contexto económico e social já de si muito complexo, este facto não pode deixar de ser visto com preocupação. Tem sido sugerido que esta desmobilização radica, em importante medida, no descrédito da classe política e na relação flutuante desta com a verdade. Contudo, não há nada que afecte tanto a mobilização política como a indiferenciação entre as ofertas partidárias ou a tentativa de, em lugar dos projectos políticos se apresentarem como alternativos, distinguirem-se com base no carácter dos seus protagonistas.

Se nada nos é dado a escolher e o que temos de fazer é optar, como se estivéssemos num plebiscito moral, entre personalidades, torna-se na verdade difícil encontrar uma boa razão para votar.
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Pedro Adão e Silva, Professor universitário
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A política do carácter Empty O situacionismo e o gamanço

Mensagem por Viriato Ter Fev 17, 2009 2:17 am

O mundo está cada vez mais «situacionista».

O «situacionismo» que hoje está na mó de cima nos Estados Unidos destapou a corrupção de altas patentes do exército norte-americano no Iraque. Parece – suspeita-se – que se abotoaram com milhões de dólares destinados à «recuperação» do Iraque, bagatelas que o «situacionismo» anterior, o de Bush, foi encobrindo. Se os norte-americanos tivessem o melhor especialista em «situacionismo», como nós temos, já há muito tempo que estes militares de gabinete estavam presos e o Iraque já estaria completamente recuperado da destruição que a invasão provocou. (Outros tempos: nessa altura os «situacionistas» eram os que se opuseram à invasão e os «anti-situacionistas» os que juravam ter visto as «provas» das armas de destruição massiva. O «nosso» anti-situacionista-mor chegou a dizer, numa entrevista, que não era possível detectar as ditas armas porque estas se deslocavam de camião de um lado para o outro. As voltas que o mundo dá, mantendo sempre o mesmo ar sério.) Bem faz o ministro das Finanças do Japão que se borrifou para o «situacionismo» e se entregou à bebida para esquecer as mágoas da crise.

Etiquetas: marmeleira, situacionismo

Por Tomás Vasques
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A política do carácter Empty Re: A política do carácter

Mensagem por Vitor mango Ter Fev 17, 2009 3:37 am

Bem faz o ministro das Finanças do Japão que se borrifou para o «situacionismo» e se entregou à bebida para esquecer as mágoas da crise.

lol! lol! lol! lol!
Vitor mango
Vitor mango

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A política do carácter Empty Re: A política do carácter

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