Contradições alegristas

Acabar com democracia para melhor debater?

DN

Afinal, tal como o DN conta nesta edição, Manuel Alegre já não quer que o secretário-geral do PS seja eleito directamente pelos militantes. Diz o poeta e deputado que este modelo "fracassou" porque "todo o debate fica muito centrado nas pessoas e pouco nas ideias".

Ele que é o mentor e fundador do Movimento Intervenção e Cidadania (MIC), defensor da democracia das bases, que em tempos defendia que o sistema de "um homem, um voto" era o único verdadeiramente democrático para eleger o líder do PS, queixa-se de quê? O "unanimismo" de que fala Alegre só acontece porque quem está contra o poder depois não tem a coragem de ir a votos quando é chegada a hora de fazer escolhas, dentro ou fora dos partidos.

Se tivessem surgido outros candidatos - porque não o próprio Alegre? -, o debate destas directas teria sido certamente mais rico, mais ideológico e menos focado em Sócrates.

Manuel Alegre já o fez uma vez, é certo. Mas perdeu. Vir agora defender o regresso aos congressos electivos, retirando o poder aos militantes, é apostar na eloquência, na retórica e na capacidade oratória em detrimento da democracia de base. Mais, Manuel Alegre tem certamente, até pelo seu papel histórico no Partido Socialista, total legitimidade para propor alterações à forma de eleição do líder do PS. Mas quando se opta por não votar perde-se, obviamente, autoridade moral para criticar.