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Todos somos suspeitos

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Mensagem por Socialista Trotskista Qui Fev 26, 2009 10:50 am

Publicado 26 Fevereiro 2009 14:01
Opinião
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Todos somos suspeitos Manuel_Caldeira_Cabral_RX5YRL-KIFOI9Manuel Caldeira Cabral
Todos somos suspeitos

Por que é que há tantos casos com o Sócrates? As duas teses em confronto são a da cabala ou a de que não há fumo sem fogo.

Por que é que há tantos casos com o Sócrates? As duas teses em confronto são a da cabala ou a de que não há fumo sem fogo. Proponho uma terceira: Houve uma alteração na forma de fazer jornalismo e na relação deste com o poder. Será que esta mudança é positiva? Será que contribui para melhorar o sistema político?

Os casos jornalísticos que evolveram José Sócrates partilham algumas características comuns. A primeira é que todos se referem ao passado e nenhum à sua actuação como primeiro-ministro. A segunda é que todos são baseados em evidência dificilmente aceite em tribunal e em nenhum é clara a acusação feita a José Sócrates. A terceira é que em quase todos estiveram envolvidos aspectos da vida pessoal. A quarta é todos terem alimentado notícias por mais de uma semana, embora, em muitos casos, nada de relevante, novo ou diferente tenha surgido nas semanas subsequentes.

Embora algumas destas características já tenham surgido em anteriores casos, não foram a prática corrente no passado. Muito menos aplicadas à vida dos anteriores primeiros-ministros. Nenhum de nós soube grande coisa sobre a forma e preço pelo qual Sá Carneiro, Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso ou Santana Lopes compraram as suas casas. Se estas foram compradas mais caras ou mais baratas que as dos vizinhos.

Num artigo recente soubemos o preço pelo qual José Sócrates comprou o seu apartamento. Ficámos a saber também o preço pelo qual a sua mãe comprou um apartamento no mesmo prédio e os preços registados por todos os seus vizinhos. No fim, o preço pago por José Sócrates era muito semelhante ao pago pela maioria dos restantes proprietários, excepto um. Tal era apresentado como suspeito. Não se dizia de quê.

Esta situação significa que, até prova em contrário, todos são suspeitos. Todos os vizinhos de Sócrates. Todos nós. Se no meu prédio toda a gente tiver pago o mesmo que eu, eu já serei suspeito.

Esta situação não é em nada positiva. Revelando duas coisas muito preocupantes. Uma é a falta de confiança que a sociedade portuguesa tem em si mesma. As pessoas em Portugal têm a noção de que a maioria não cumpre quer as suas obrigações fiscais, quer o código da estrada, quer muitas outras regras e leis. Têm ainda mais a noção de que há uns anos as coisas ainda eram piores. Conduzir alcoolizado era prática corrente, subavaliar as casas para não pagar Siza também, pagar serviços sem IVA também. Quem o fazia há vinte anos é hoje político ou professor universitário ou jornalista. O ser prática corrente não desculpa estes comportamentos no passado e muito menos os desculpa hoje. No entanto, significa que se quisermos encontrar podres, encontramos em qualquer um.

Neste contexto é fácil levantar suspeitas. Se alguém trabalhou numa câmara, é suspeito. Se alguém construiu uma casa, é suspeito. Se alguém estudou numa universidade privada, é suspeito. A verdade é que em todas estas instituições havia coisas pouco claras, como também havia nas empresas, nos partidos ou nos jornais, onde havia relações viciadas com fontes, conflitos de interesse, viagens de luxo pagas a jornalistas por empresas cotadas que estes deviam fiscalizar, ou circulação de jornalistas para assessores. Hoje já nada disto acontece? Ou continua a acontecer. Não devíamos antes discutir mudanças de regras que limitem estas práticas e dêem mais credibilidade ao sistema?

Em vez disso parece que nos queremos centrar no caso único, pessoal e fulanizado. Quando um destes "escândalos" se torna o caso do momento, teremos notícias todos os dias e muito tempo dedicado nos telejornais, quer existam novidades, quer não. Foi assim no caso da licenciatura, no Freeport, e também no caso Maddie ou no da pequena Esmeralda. Não há aqui cabala, há vendas e audiências. No fim, uma pessoa pergunta-se: o que é que se provou no caso da licenciatura? Ou mesmo, qual era a acusação? A resposta depois de mês e meio em que este foi o tema único deveria ser clara. É estranho que não seja.

Esta situação merece três conclusões. A primeira é a de nos questionarmos sobre se este escrutínio e jornalismo de acusação centrado na insinuação vai contribuir para melhorar a "classe" política ou se, pelo contrário, vai contribuir para afastar pessoas sérias que não querem ficar sujeitas ao arrastar do seu nome pela lama.

A segunda questão é saber se a discussão centrada no passado e no carácter das pessoas deve substituir a discussão sobre as políticas e as propostas. É que se assim for, enquanto nos distrairmos a discutir o passado da vida dos nossos políticos, estes poderão fazer grandes asneiras, nas quais ninguém repara.

A terceira é a de que devemos dar mais atenção às regras que temos e ao seu cumprimento. É preciso menos regras e regras mais claras, adaptadas à sociedade e que sejam de cumprimento generalizado. É preciso, e é urgente, um sistema judicial que funcione. Aqui, a responsabilidade é de todos. Dos políticos, que não as mudam. Mas também de nós próprios, que não protestamos e que colaboramos com esta situação podre. O deixa andar significa que amanhã continuaremos a ser todos suspeitos.


Departamento de Economia, Universidade do Minho
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Mensagem por RONALDO ALMEIDA Qui Fev 26, 2009 10:55 am

Todos somos suspeitos Socialismo

O que eu penso do SOCIALISMO!!
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