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Olaias: presidente da Junta de Freguesia diz

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Mensagem por Vitor mango Seg Mar 09, 2009 2:54 am

Olaias: presidente da Junta de Freguesia diz que local é "barril de pólvora"
09.03.2009 - 08h27 Andreia Sanches, Ana Henriques, com José António Cerejo
Houve tiros, cenas de pancada, carros partidos à pedrada. Vários moradores de etnia cigana e africana do Bairro Portugal Novo, nas Olaias, a minutos do centro de Lisboa, envolveram-se ontem à tarde em confrontos e a polícia fez alguns "disparos de intimidação" para acalmar os ânimos. Na origem do conflito estará a disputa de uma casa.

À noite o clima mantinha-se tenso, as carrinhas do corpo de intervenção permaneciam nas ruas e trocavam-se acusações. "Tudo isto se passa em pleno centro de Lisboa", gritava revoltado Marco Pereira, 22 anos, um técnico de artes gráficas que vive desde criança no Portugal Novo.

Muitos moradores dizem que os problemas entre ciganos e africanos não são de agora. E o próprio presidente da Junta de Freguesia do Alto do Pina, o social-democrata Fernando Braancamp, classifica o local como "um barril de pólvora, uma segunda edição da Quinta da Fonte", o bairro dos subúrbios de Lisboa onde no verão houve intensos confrontos étnicos.

Não há, mesmo assim, memória de se usarem armas para resolver os problemas. Ontem, as duas comunidades apontavam o dedo uma à outra. As famílias ciganas diziam que tinham sido os africanos a disparar. As africanas garantiam que tinham sido os ciganos a atirar.

O sub-comissário Gil, da 5ª Divisão da PSP, confirmou que houve tiroteio, mas não avançou mais detalhes. "Houve tiros por parte dos elementos da contenda" por volta das 17h. E "dada a forma como as pessoas das duas comunidades se agrediam mutuamente, a polícia usou os meios estritamente necessários e proporcionais para pôr termo à situação". Não há notícia de feridos, fez saber.

Construído há perto de três décadas por uma cooperativa em terrenos camarários, o Portugal Novo entrou numa senda irreversível de degradação logo à nascença.

A falência da cooperativa deixou os habitantes a morar em prédios cheios de deficiências de construção que o tempo foi agravando. Quase todos deixaram de pagar as prestações ao antigo Fundo de Fomento da Habitação, tendo muitos deles acabado por vender as casas - que ainda não eram suas - a baixo preço a famílias de diferentes etnias. Noutros casos os apartamentos terão sido ocupados de forma selvagem. "As entidades competentes, o Estado e a câmara, demitiram-se das suas funções e aquilo ficou sem rei nem roque", descreve o presidente da Junta de Freguesia do Alto do Pina.

"Poderá ser uma segunda Quinta da Fonte", diz Virgínia Estorninho, a sua antecessora no cargo. A autarca conta que, quando era presidente da junta, nos anos 1990, tentou, sem sucesso, ajudar a resolver os problemas do bairro, onde sabe existirem negócios ilícitos. "É um cancro e só tem uma solução: a demolição. Não se sabe quem é o dono daquilo, quem ali manda."

No Largo Roque Laia, o centro do bairro pejado de graffiti, as vozes ainda se alteravam ontem à noite. Alguns receavam mais confrontos. "Os ciganos não nos respeitam. Basta que alguém adoeça e vá para o hospital, ou saia por uns dias, e eles tentam logo ocupar as casas", dizia, nervoso, Marco Pereira.

Vários moradores queixam-se de que a polícia pouco faz. E ontem revoltavam-se: quando tentaram impedir a saída de uma carrinha de uma família cigana - "levavam armas", alega Pereira - a polícia terá, supostamente, carregado sobre eles com bastões e tasers (armas de choques eléctricos).

O porta-voz da PSP negou, contudo, que os seus homens tenham utilizado armas eléctricas. E adiantou que a PSP iria manter-se no Portugal Novo pela noite dentro no âmbito de "um esquema preventivo de segurança". Terão estado várias dezenas de agentes no bairro. A PSP já tinha sido chamada no sábado, quando uma jovem cigana tentou ocupar um apartamento que diz ter comprado. A proprietária, Elizabete Silva, 44 anos, funcionária pública, garante que não vendeu nada a ninguém. Mas quando chegou a casa - num dos muitos prédios degradados do Portugal Novo - tinha a porta arrombada, explicava ontem aos jornalistas que foram entrando pela sua minúscula sala em desalinho.

"Eles queriam bater-nos"

As vizinhas, a maioria naturais de Cabo Verde, tentaram impedir a ocupação, dizia Emília Tavares, 31 anos, cabo-verdiana. E assim estava dado o mote para o conflito.

O clima ficou crispado e a irmã de Marco Pereira, de etnia africana, terá sido agredida, pouco depois, por um grupo de mulheres ciganas. "Ela está grávida de sete meses e foi espancada. E nem tem nada a ver com isto, nem mora no bairro, mora em Santa Iria, veio cá para nos visitar. Ia apenas a passar na rua."

"Eles queriam bater-nos", contava Maria da Conceição, 45 anos, uma mulher cigana que vive há 30 no Portugal Novo. "Eles" são os moradores africanos. "A polícia esteve cá e até nos disse para não sairmos de casa. Mas eles queriam entrar-me dentro de casa para nos agredir."

Certo é que o que se terá passado ontem à tarde e à noite foi a continuação do episódio do dia anterior. Joaquim Pereira, irmão de Marco, garantia, enquanto ia limpando vestígios de sangue de uma mão, que tinham sido os ciganos a provocá-los. "Como estavam a levar foram buscar as armas e começaram a disparar."

Já Conceição diz que os tiros vieram do lado dos africanos. E que logo ao início da tarde eles estavam à espera. "Não fomos nós que disparámos, não fomos."
Vitor mango
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