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LUÍS FILIPE MALHEIRO Obama, a Europa e a Turquia .

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LUÍS FILIPE MALHEIRO Obama, a Europa e a Turquia 	     . Empty LUÍS FILIPE MALHEIRO Obama, a Europa e a Turquia .

Mensagem por Admin Qui Abr 09, 2009 1:35 am

LUÍS FILIPE MALHEIRO
Obama, a Europa e a Turquia




Barak Obama ainda nem tinha sido eleito e já estava transformado numa vedeta à escala global, em grande medida graças ao mediatismo alcançado junto da comunicação social, mas essencialmente devido ao discurso de mudança que prometeu a uma América e a um mundo farto de George Bush e das asneiradas de oito anos de uma administração que não deixa saudades. O espaço conquistado por Obama era inevitavelmente seu, mesmo que os resultados eleitorais não tenham sido tão esmagadores como todas as sondagens apontavam. Foram convincentes, os suficientes para que os democratas e Obama alcançassem uma margem confortável de apoio no Congresso e no Senado. Os eleitores americanos responderam ao apelo de mudança, deram a Obama um voto de confiança mas agora esperam pelo retorno, nomeadamente por via da resolução dos problemas económicos e sociais que devassam a América. “Yes we can” foi a sua palavra de ordem mais conhecida. Mas não chega, porque não resolve o desemprego, nem reanima o sector industrial, não recupera a confiança dos consumidores, não trava o aumento da pobreza. Resta saber o que vai fazer a Casa Branca perante a realidade dramática com que se confronta num pais que perdeu mais de 5 milhões de empregos com a crise económica e monetária, que vê a pobreza crescer para números preocupantes e que não possui um sistema de protecção social que assegure uma intervenção governamental de apoio aos mais carenciados e penalizados pela crise.
Penso, essencialmente pela conjuntura mundial vigente, que no caso de Barak Obama, possivelmente mais cedo do que ele esperaria, terminará o estado de graça com que os presidentes recém-eleitos habitualmente contam. A campanha eleitoral já faz parte do passado e o enunciar de intenções ou de promessas, deixou de interessar à opinião pública. As pessoas querem medidas concretas, pedem pragmatismo, querem a recuperação económica, querem que se restaure a confiança no sistema financeiro e monetário abalado por nalguns casos de descarada corrupção. Parecem. A equipa de Obama entendeu rapidamente que o seu espaço de manobre é curto e que não há tempo para esperas demasiado longas, muito menos para hesitações.
Obama sabia que, depois de eleito, tinha dois desafios prioritários para resolver: recuperar a confiança dos europeus na administração americana, estabilizando o relacionamento transatlântico, e encontrar uma porta pela qual pudesse fazer chegar aos muçulmanos, uma mensagem de apelo ao diálogo e de normalização de um relacionamento político e diplomático que sucessivos conflitos bélicos no Médio Oriente, foram destruindo e radicalizando ainda mais os apologistas da chamada linha dura mais fundamentalista. Irão e Iraque eram o calcanhar de Aquiles da política externa americana, e nem falo na situação afegã e no impasse em que parece ter caído o conflito com os talibans porque isso é mais do que evidente. Aliás, essa deve ser a única explicação plausível para que Obama tenha anunciado o reforço dos militares dos EUA presentes neste país.
No caso da Europa, Obama parte claramente do pressuposto que consegue impor-se à opinião pública europeia, independentemente da posição que os seus aliados assumam, postura que lhe pode valer algum desaire incomodativo. Aos poucos os europeus vão percebendo que Obama, graças a uma operação de charme iniciada muito antes da campanha eleitoral, mas sobretudo devido ao impacto negativo causado pela administração Bush (oito anos), está mais interessado em criar raízes junto do Velho Continente, num quadro de solidariedade partilhada, o que pode implicar a ousadia de ir mais além do que se esperaria e seria recomendável. Atente-se ao facto de Obama ter aproveitado a sua viagem também para deixar recados, um dos quais envolvendo a Turquia e a sua integração europeia, cada vez mais olhada com desconfiança. E já nem sequer falo numa clara tentativa de imposição à Europa das orientações militares americanas, com o Presidente a afirmar que os EIA não podiam combater sozinhos o terrorismo (numa resposta à decisão unilateral espanhola de retirar as suas tropas do Médio Oriente) e que a Europa é muito mais vulnerável perante a ameaça terrorista, correndo por isso o risco de sofrer piores consequências que os EUA, em caso de um atentado terrorista.
O caricato de tudo isto é que, partindo de Obama, essa pressão encontra fácil apoio entre os europeus, influenciados pelas “sugestões” e pela dimensão “marketeira” dos meios de comunicação social. Caso estas pressões subtis tivessem como autor George Bush, as reacções não se tinham feito esperar, perdia-se a conta de manifestações e Bush já estaria a ser ostracizado. No caso de Obama, e até ver, as coisas mudam.
Acho que a Turquia, por razões históricas, culturais, políticas, sociais e religiosas, não é território europeu e que, só por razões políticas de descarado oportunismo, integra a NATO (algo que sempre interessou mais aos EUA que aos europeus), o mesmo oportunismo idiota que insiste em trazer os turcos para a União Europeia, cenário que me leva a temer esta hipotética adesão possa constituir um primeiro passo para grandes conflitos na Europa. Não podemos esquecer que os turcos pretenderam impedir, na recente cimeira da OTAN (de que fazem parte), a nomeação do novo secretário-geral da organização, para cederem às pressões políticas de muçulmanos radicais que recordaram o episódio das caricaturas de Maomé publicadas num jornal de Copenhague.
Felizmente que alguns dirigentes europeus – Merkel e Sarkosy entre outros – depois de uma primeira hesitação que adiou a confirmação da esperada nomeação do secretário-geral da OTAN, resolveram irritar-se e dar um murro na mesa, acabando com as pressões da Turquia, que se remeteu ao silêncio, confrontada com o isolamento e com o patético da sua posição por encomenda.
Se dúvidas existissem, este episódio é suficiente para demonstrar que a Turquia, para além de ser uma democracia de consistência bastante duvidosa (será que não estaremos perante uma sociedade apressadamente “democratizada”, apenas para agradar os europeus mais cépticos e cumprir um dos requisitos que lhe foram exigidos?), dificilmente deixará de funcionar como um porta-estandarte de fundamentalismos que agitam o Médio Oriente e que podem ter consequências graves na Europa.
Foi neste quadro de descarado “amanteigamento” da diplomacia americana à Turquia, e que todos percebem ter motivos relacionados com questões de geoestratégia militar - dada a localização do país (a Casa Branca nunca deixará de pensar na Rússia…) - que Obama, tal como Clinton e depois Bush, mas sobretudo o primeiro, várias vezes o fizeram, se afirmou defensor de uma entrada forçada da Turquia na União Europeia, algo que os europeus têm que se opor. Há ainda muita coisa para ser discutida sobre a Turquia, há mais incertezas e dúvidas que convicções, a dimensão do mercado turco não pode constituir a única razão para que uma Europa em crise, até de identidade, se aventure num alargamento aventureirista que pode trazer para a Europa problemas de segurança complicados. Além de que o futuro da União Europeia é matéria que diz respeito sobretudo aos europeus e não aos americanos.


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Mensagem por Admin Qui Abr 09, 2009 1:38 am

Foi neste quadro de descarado “amanteigamento” da diplomacia americana à Turquia, e que todos percebem ter motivos relacionados com questões de geoestratégia militar - dada a localização do país (a Casa Branca nunca deixará de pensar na Rússia…) - que Obama, tal como Clinton e depois Bush, mas sobretudo o primeiro, várias vezes o fizeram, se afirmou defensor de uma entrada forçada da Turquia na União Europeia, algo que os europeus têm que se opor. Há ainda muita coisa para ser discutida sobre a Turquia, há mais incertezas e dúvidas que convicções, a dimensão do mercado turco não pode constituir a única razão para que uma Europa em crise, até de identidade, se aventure num alargamento aventureirista que pode trazer para a Europa problemas de segurança complicados. Além de que o futuro da União Europeia é matéria que diz respeito sobretudo aos europeus e não aos americanos.
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