Xiitas são alvo de carnificina no Iraque

Xiitas são alvo de carnificina no Iraque

por ABEL COELHO DE MORAIS

A nove semanas do início da retirada americana dos principais centros urbanos, multiplicam-se as acções terroristas numa tentativa de desestabilização do poder político em Bagdad.

A comunidade xiita no Iraque foi alvo, pelo segundo dia consecutivo, de ataques suicidas que causaram, pelo menos, 60 mortos e 125 feridos, muitos deles em estado grave.

O duplo ataque sucedeu nas imediações de uma das mesquitas mais importantes para esta denominação do islão, o mausoléu do imã Mussa al-Kadhim, num dos bairros de Bagdad, e foi realizado por duas mulheres que fizeram detonar os cintos de explosivos que traziam consigo no momento do início das orações e foi realizada de modo a maximizar o número de vítimas. Entre estas, contam-se inúmeros peregrinos provenientes do Irão, como já sucedera nos ataques da véspera.

As explosões de ontem sucederam, a primeira junto a um grupo de peregrinos iranianos e a segunda num mercado próximo do mausoléu, onde se encontravam também alguns naturais daquele país. Dados provisórios das autoridades iraquianas indicavam que, pelo menos, 20 iranianos tinham morrido e outros 80 tinham ficado feridos.

A recente série de ataques coincide com uma época em que inúmeros turistas iranianos visitam os lugares santos do xiismo no Iraque.

O atentado de ontem é o mais grave na região de Bagdad desde Março de 2008, quando se verificaram 68 mortos e mais de 150 feridos numa explosão na capital iraquiana.

Quinta-feira foi o dia mais sangrento no Iraque no espaço de um ano, tendo morrido 87 pessoas em três atentados, sendo o mais mortífero num restaurante da cidade de Baquba onde morreram 56 pessoas, das quais 52 fiéis iranianos.

Após uma época de acalmia quase geral em Bagdad, entre finais de 2008 e início de 2009 voltaram a verificar-se atentados suicidas que tomam, quase invariavelmente, como alvo elementos da comunidade xiita, quer sejam iraquianos quer peregrinos do vizinho Irão. O objectivo parece ser, como foi no passado, alimentar as tensões interconfessionais e aumentar a tensão entre Bagdad e Teerão.

Um ciclo de violência e retaliação entre xiitas e sunitas foi desencadeado em 2006 como resultado de uma série de atentados, como os ocorridos nos últimos três dias.

As autoridades iranianas reagem em termos duros quando são mortos peregrinos deste país, acusando Teerão quer o Governo de Bagdad quer os Estados Unidos por não conseguirem garantir a segurança no Iraque.

A estratégia de recurso a atentados como instrumento de polarização sunita-xiita intensificou-se nas últimas semanas, observando-se o recrudescimento das acções bombistas à medida que se aproxima a data do início da retirada americana das cidades, que deve iniciar-se em meados de Junho.

A saída dos efectivos dos EUA em Junho marca o princípio dum processo que deve ficar concluído até finais de 2011, nos termos do acordo de segurança assinado em Novembro entre Washington e Bagdad.

Nos termos do acordo, está excluída a cidade de Mossul, no Curdistão iraquiano, para onde a Al-Qaeda concentrou as acções desde que foi neutralizada a sua liberdade de actuação em Bagdad.

Foi precisamente David Petraeus, o comandante das forças americanas para o Médio Oriente, a emitir um diagnóstico sombrio sobre o clima de segurança a curto prazo no Iraque. Falando ontem perante o Congresso, Petraeus declarou que, "ainda que enfraquecidos, a Al-Qaeda e seus aliados continuam a ameaçar a segurança e estabilidade" daquele país.

"O Iraque vai demorar muito tempo a neutralizar todos os elementos extremistas"; as "forças iraquianas são hoje muito mais eficazes do que no passado, mas os atentados ainda vão continuar durante algum tempo", explicou o comandante americano