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Do capital e do trabalho

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Mensagem por Vitor mango Sex Jun 26, 2009 12:28 am

nuno Rogeiro
Do capital e do trabalho
03h28m

"Quando amanhã
fugirem os banqueiros
dos palácios roubados
E em vez deles
homens verdadeiros
Forem monges, poetas ou soldados

Então,
na Mão Direita de Deus
Rolará a terra
E será perfeita"

Pedro Homem de Mello (*)


Da banca dos burgueses, no crepúsculo medieval, à banca das assembleias-gerais e das sociedades anónimas, passando pela banca das grandes famílias, vai um abismo. Dos operários que atiravam sapatos de madeira (os "sabots") para os teares mecânicos (que afastavam muitos homens da produção), à "paz social" da Autoeuropa, vai um grande fosso.
Dos cambistas da Antiguidade, que se limitavam a trocar (e a manipular) moeda estrangeira pela divisa dos impérios ou da polis, aos modernos gigantes, que se fundem com seguradoras, vai um oceano.Das uniões operárias que agitavam bandeiras negras, promoviam a greve geral, enforcavam o busto da República e assaltavam a Bolsa, aos modernos sindicatos burocratizados e empresariais, vai um mundo, ou vários.
Mas não mudaram duas coisas.
Primeiro, a percepção de que há lucros ilegítimos, ou injustos, ou injustificados, no capitalismo, reciclados de forma legal ou semilegal, ou cuja ilegalidade só muito tarde se demonstra.
Segundo, a sensação de que, no mundo do trabalho, se perde muitas vezes a noção da humanidade, do esforço, do valor social, do aperfeiçoamento (do produtor e do produto), do "bem comum", para se divergir no plano político, pessoal, partidário, ou das "estratégias imediatas" (uma contradição nos termos).
Por outras palavras, também na Banca há crime. E, espera-se, castigo.
Por outras palavras, também no trabalho há desumanidade e loucura. Não se trata de julgar com base em critérios morais.
Muitos bons pais de família são arrastados em falcatruas. Há muitos inocentes a proteger muitos culpados. Muitos julgadores não possuem estatura ética para ilibar ou condenar. Precisamos só de nos ater aos factos.
Quando há lucros, os bancos querem que os governos tirem as mãos da sua propriedade. Quando há prejuízos, os bancos desejam que os governos se tornem gestores das suas fortunas em risco.
Esta chantagem tem sido o pão nosso de cada dia, na Europa e no Mundo. O agiota em queda ameaça: "se não me ajudam, lanço milhares para o desemprego!".
É aqui que entra o sentido de prudência, previsão, controlo, decisão e avaliação do Estado.
No mundo laboral, não é diferente.
Se empresas e trabalhadores, por cegueira, distorção, culpa unilateral, ganância ou irrealismo, arriscam o todo, em nome da parte, o Estado que deixou investir, que suavizou impostos, que abriu créditos, que adequou legislação, não pode fingir que não é nada consigo, e que tudo se deve resolver no mundo "privado".
A verdade é que, na actual crise, já não há "mundo privado".
Ou, se há, está tão dependente do "público", que deve esperar deste não só apoio, mas responsabilização.

(*) A poesia, do injustamente esquecido e minimizado Homem de Mello, poeta maior das nossas raízes (honra a Vasco Graça Moura, entre outros, pela revisitação qualificada), terá sido urdida ainda nos seus tempos da Presença, denotando o ambiente "nacional-sindicalista-revolucionário-modernista-místico" da época.
A melhor versão cantada é a de José Campos e Sousa (infelizmente, só a tenho numa velhinha cassete). O texto está aqui na forma original, e respeitando a métrica oral
Vitor mango
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