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O extraterrestre nipónico que sonha com uma UE na Ásia

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O extraterrestre nipónico que sonha com uma UE na Ásia Empty O extraterrestre nipónico que sonha com uma UE na Ásia

Mensagem por Joao Ruiz Sáb Set 05, 2009 11:34 am

O extraterrestre nipónico que sonha com uma UE na Ásia

por Abel Coelho de Morais
Hoje

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Dias antes da extraordinária vitória nas legislativas de 30 de Agosto do Partido Democrata do Japão (PDJ), que dirige, Yukio Hatoyama publicou um ensaio em que toma como referência reflexões feitas nos anos 30 por um dos pais do pensamento pan-europeu e defensor de um projecto de união política da Europa, o austro-nipónico Coudenhove-Kalergi.

Hatoyama recorda que este autor condenou em O Estado Totalitário Contra o Homem (tradução em inglês, de 1939) o comunismo assim como o nazismo e as "profundas desigualdades sociais geradas pelo capitalismo", propondo o princípio da "fraternidade" como freio ao extremismo político e aos defeitos dos sistemas económicos. O líder japonês sugere como exemplo da "fraternidade" a desenvolver no Japão o princípio da subsidiariedade praticado na União Europeia (UE). Hatoyama gosta de definir a política "como um acto de amor" e uma das suas propostas eleitorais era a criação de uma sociedade "fundada em relações de afecto".

Intitulado A Minha Filosofia Política, o longo ensaio de Yukio Hatoyama é todo um programa de intenções para o seu Executivo - mal recebido nos Estados Unidos. O nipónico critica os EUA pelo "fundamentalismo" na defesa do mercado e da globalização, o seu "unilateralismo" e - ao mesmo tempo que elogia o pacto de segurança EUA-Japão - assinala o "declínio" da influência americana no mundo e a afirmação do poder global chinês, cuja economia "num futuro não muito distante ultrapassará a japonesa".

Embora estas asserções não constituam novidade - comentadores recordaram que algo semelhante foi dito no passado por dirigentes do agora derrotado Partido Liberal Democrático (PLD) -, o certo é que parecem ter soado tão bizarras como as declarações de Miyuki Hatoyama, a mulher do novo primeiro-ministro, que se distinguiu ao afirmar ter sido raptada por naturais de Vénus. Ideias a que não serão alheias as modas psicadélicas que fizeram furor nos anos 60 e 70 na Califórnia, onde Miyuki vivia quando conheceu Yukio.

A Miyuki não deve ter passado despercebido este compatriota de expressão distante, com um rosto em que olhos exorbitam das órbitas, que martela as palavras de forma mecânica, características que lhe valeram a alcunha de extraterrestre. Um extraterrestre que descende de uma longa linhagem de dirigentes políticos e herdeiro, com o seu irmão Kunio, de uma das grandes fortunas do Japão, a de empresa de pneus Bridgestone. A mãe dos dois irmãos era filha do fundador da empresa.

Antiga actriz, designer e chef, Miyuki define-se como uma "compositora da vida", cujo "espírito foi transportado num OVNI de aspecto triangular até Vénus" - "lugar extremamente belo e verde". As suas relações astrais vão mais longe e incluem o próprio Sol, astro que petisca ao pequeno-almoço todos os dias. Miyuki explicou que esta experiência era parte do seu programa de saúde e consistia em fechar os olhos virada para o Sol, fazendo depois o gesto de quem lhe retira pedacinhos e os leva à boca. "É assim que ganho energia. E o meu marido faz o mesmo."

Verdade ou não, Yukio vai precisar de toda a energia para lidar com os problemas que esperam o seu Governo.Um destes desafios será a relação com os EUA e com os países asiáticos. Neste ponto, o líder do PDJ inspira-se ainda na "experiência da UE", que mostra como "a integração regional neutraliza conflitos territoriais".

Forte adepto daquela, Yukio desvaloriza a negociação bilateral - método privilegiado pela China -, considerando-a um modo de inflamar "as emoções em cada país". Admite que, devido a "distintas massas populacionais, diferentes estádios de desenvolvimento e de sistema político", não será possível a "integração económica" a curto prazo, ao contrário do sucedido na CEE. Nem por isso Hatoyama deixa de se inspirar nas palavras de Coudenhove-Kalergi numa forma subtil de se legitimar como líder político ou não fosse - ironia das ironias - o seu avô o tradutor do livro do austro-nipónico e um dos fundadores do PLD. A citação de Coudenhove-Karlegi por Yukio: "todas as grandes ideias da história começaram como utopia e acabaram como realidade". Uma declaração de grande optimismo.

A formação inicial de Yukio foi em Engenharia, tendo estudado em Tóquio e na Universidade de Stanford, na Califórnia, onde conheceu Miyuki, então casada com o proprietário de um restaurante. Sobre a sua mulher e o casamento, considerado algo escandaloso para alguém do seu perfil, o líder do PDJ diz que "a maioria dos homens escolhe a sua mulher só entre as solteiras, eu escolhi entre todo o género feminino."

Yukio e seu irmão tiveram uma infância dourada, nada indicando que o primeiro seguiria uma carreira política. O que só sucedeu nos anos 80 quando Yukio se torna secretário político do pai e herda o seu lugar de deputado. Nos anos 90, deixa o PLD até surgir com um outro antigo dirigente do PLD, Ichiro Ozawa - considerado o real arquitecto da vitória de há uma semana - entre os fundadores do PDJ.

Estes são olhados com cepticismo pelos eleitores que lhe deram a vitória. A maioria das sondagens mostra que os inquiridos duvidam das qualidades políticas de Yukio Hatoyama - que nunca desempenhou cargos governativos - e das propostas do PDJ. Talvez por que poucos conhecerão a asserção de Coudenhove-Kalergi de que "todas as grandes ideias da história começaram como utopia".

DN

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Joao Ruiz
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