Os limites da decência por Fernanda Câncio
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Os limites da decência por Fernanda Câncio
Os limites da decência
por Fernanda Câncio
Enganei-me sobre Cavaco. Nunca lhe reconheci grandeza (lembro por exemplo, na campanha que o elegeu, em 2006, a forma desastrada, canhestra, como reagiu à acusação de Santana Lopes de que não resistiria, como presidente, a ingerir-se na área do Governo: primeiro disse que não sabia do que os jornalistas falavam, sendo óbvio que só podia saber; depois abriu a boca de forma desmesurada, como quem encena surpresa, conseguindo apenas fazer uma figura ridícula e menorizando-se face a um homem que fora seu secretário de Estado e a quem intitulara de "má moeda"), mas nunca esperei o espectáculo deplorável do seu discurso de 29 de Setembro.
Antecipava que tivesse ao menos a inteligência e o instinto político de não se enredar mais na impossível teia daquilo a que apropriadamente caracterizou como "toda aquela manipulação" - a teia iniciada com as célebres notícias do Público de 18 e 19 de Agosto e laboriosamente continuada com o seu silêncio e declarações dúbias, sibilinas, para culminar na revelação do papel do seu assessor para a comunicação, Fernando Lima, na respectiva demissão (negada dias mais tarde, sempre por fonte anónima) e em mais "notícias" atribuídas a fontes anónimas da presidência reiterando a tese das escutas, na véspera do "dia de reflexão".
Manipulação, sim: muita. E toda a apontar para o mesmo sítio: a presidência. Perante essa evidência e após um resultado eleitoral avesso ao aparente objectivo de tanta manipulação, Cavaco não podia sair bem desta história, mas podia sair melhor do que está. Como? Demarcando-se. Tranquilizando. Fazendo um comunicado sobre a situação efectiva de Fernando Lima. Mas duas semanas passadas sobre a revelação do mail que sem apelo nem agravo mostra como o seu assessor tentou plantar num jornal, "a partir da Madeira", uma suspeita de "vigilâncias", não sabemos, nós, o povo que o Presidente representa e em nome do qual admite e demite, se Lima foi realmente demitido ou se ainda está a trabalhar para nós e a fazer o quê. Note-se: nem sequer sabemos o que Cavaco acha do comportamento de Lima descrito no mail. Mas tendo ouvido e lido o discurso só podemos deduzir que a hipótese de ter ocorrido ("tenho sérias dúvidas", disse) não lhe merece sequer condenação pública. E isso é intolerável.
Mais grave ainda é que, ao nem sequer esclarecer o que tem a dizer sobre as suspeitas de vigilâncias governamentais à Presidência, Cavaco transformou a sua alocução em mais uma peça da manipulação. Quando alguém pode acabar com dúvidas - no caso, tem a obrigação estrita de acabar com elas - e não o faz, sustenta-as. Ao nada esclarecer, o Presidente optou por deixar o País a marinar num caldo podre de fontes anónimas e insinuações. A verdadeira dúvida, porém, é se o País está onde e como ele o julga ou se no caldo ficaram só os que o fizeram. Por outras palavras, se foi só o incompreensivelmente reverente e antidemocrático tabu que impedia críticas ao ocupante de Belém que acabou ou se foi tudo com ele.
por Fernanda Câncio
Enganei-me sobre Cavaco. Nunca lhe reconheci grandeza (lembro por exemplo, na campanha que o elegeu, em 2006, a forma desastrada, canhestra, como reagiu à acusação de Santana Lopes de que não resistiria, como presidente, a ingerir-se na área do Governo: primeiro disse que não sabia do que os jornalistas falavam, sendo óbvio que só podia saber; depois abriu a boca de forma desmesurada, como quem encena surpresa, conseguindo apenas fazer uma figura ridícula e menorizando-se face a um homem que fora seu secretário de Estado e a quem intitulara de "má moeda"), mas nunca esperei o espectáculo deplorável do seu discurso de 29 de Setembro.
Antecipava que tivesse ao menos a inteligência e o instinto político de não se enredar mais na impossível teia daquilo a que apropriadamente caracterizou como "toda aquela manipulação" - a teia iniciada com as célebres notícias do Público de 18 e 19 de Agosto e laboriosamente continuada com o seu silêncio e declarações dúbias, sibilinas, para culminar na revelação do papel do seu assessor para a comunicação, Fernando Lima, na respectiva demissão (negada dias mais tarde, sempre por fonte anónima) e em mais "notícias" atribuídas a fontes anónimas da presidência reiterando a tese das escutas, na véspera do "dia de reflexão".
Manipulação, sim: muita. E toda a apontar para o mesmo sítio: a presidência. Perante essa evidência e após um resultado eleitoral avesso ao aparente objectivo de tanta manipulação, Cavaco não podia sair bem desta história, mas podia sair melhor do que está. Como? Demarcando-se. Tranquilizando. Fazendo um comunicado sobre a situação efectiva de Fernando Lima. Mas duas semanas passadas sobre a revelação do mail que sem apelo nem agravo mostra como o seu assessor tentou plantar num jornal, "a partir da Madeira", uma suspeita de "vigilâncias", não sabemos, nós, o povo que o Presidente representa e em nome do qual admite e demite, se Lima foi realmente demitido ou se ainda está a trabalhar para nós e a fazer o quê. Note-se: nem sequer sabemos o que Cavaco acha do comportamento de Lima descrito no mail. Mas tendo ouvido e lido o discurso só podemos deduzir que a hipótese de ter ocorrido ("tenho sérias dúvidas", disse) não lhe merece sequer condenação pública. E isso é intolerável.
Mais grave ainda é que, ao nem sequer esclarecer o que tem a dizer sobre as suspeitas de vigilâncias governamentais à Presidência, Cavaco transformou a sua alocução em mais uma peça da manipulação. Quando alguém pode acabar com dúvidas - no caso, tem a obrigação estrita de acabar com elas - e não o faz, sustenta-as. Ao nada esclarecer, o Presidente optou por deixar o País a marinar num caldo podre de fontes anónimas e insinuações. A verdadeira dúvida, porém, é se o País está onde e como ele o julga ou se no caldo ficaram só os que o fizeram. Por outras palavras, se foi só o incompreensivelmente reverente e antidemocrático tabu que impedia críticas ao ocupante de Belém que acabou ou se foi tudo com ele.
Vitor mango- Pontos : 118212
Re: Os limites da decência por Fernanda Câncio
Ao nada esclarecer, o Presidente optou por deixar o País a marinar num caldo podre de fontes anónimas e insinuações. A verdadeira dúvida, porém, é se o País está onde e como ele o julga ou se no caldo ficaram só os que o fizeram. Por outras palavras, se foi só o incompreensivelmente reverente e antidemocrático tabu que impedia críticas ao ocupante de Belém que acabou ou se foi tudo com ele.
Vitor mango- Pontos : 118212
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