Alargar janelas do Terreiro do Paço "é de gargalhada"

O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, o arquitecto Manuel Salgado, acha que a ideia de alargar as janelas das arcadas do Terreiro do Paço para criar montras para futuras lojas "é um disparate, de gargalhada".

O "disparate" surge num estudo de urbanismo comercial encomendado pela Sociedade Frente Tejo, entidade resonsável pela remodelação da Praça do Comércio, à consultora Richard Ellis. Mas o documento ainda não foi entregue à autarquia, que tenciona pronunciar-se sobre ele. "Nada irá por diante sem aprovação camarária", assegura Manuel Salgado, a quem, "a nível pessoal", desagrada igualmente a instalação de restaurantes nos claustros interiores dos edifícios prevista no mesmo estudo. "É importantíssimo abrir os claustros ao público. Mas os restaurantes devem ficar cá fora, nos passeios, e não ser escondidos lá dentro", observa. O arquitecto não reconhece sequer competências à consultora para se pronunciar sobre as obras a desenvolver num património tão sensível como este. E já tem planos para o Pátio da Galé: quer que continue a ser uma galeria municipal de exposições temporárias, à semelhança do que tem acontecido nos últimos meses.

As polémicas transformações sugeridas pela Richard Ellis também não são do agrado de outro membro da lista de António Costa às autárquicas, Helena Roseta, que recorda as críticas da Ordem dos Arquitectos, a que presidiu, quando, há uns anos, algumas caixilharias de madeira do Terreiro do Paço foram substituídas por alumínio. A ex-bastonária dos arquitectos diz ainda ser indispensável que a atribuição das lojas seja feita aos particulares que as vão explorar através de hasta pública.

"O seu lugar é no Governo"

Ontem, António Costa, Roseta, Salgado e outros membros da lista do PS andaram em campanha em Belém, aproveitando a presença de muita gente que ali foi passear no feriado. E apesar do bom acolhimento que tiveram na rua voltaram, como aconteceu em dias anteriores, a ser criticados por causa dos "pequenos pormenores" - nas palavras de um casal de meia-idade - que não conseguiram resolver em dois anos de mandato. Numa zona turística como Belém, "os turistas não têm casa-de-banho onde ir", ouviram por mais de uma vez. Defronte dos Jerónimos havia uma idosa indignada: "Este jardim é uma vergonha!"

Do alto de uma experiência de três décadas a trabalhar para a Câmara de Arcos de Valdevez, um homem que se cruzou com António Costa deixou-lhe uma advertência: "Está do lado errado, o seu lugar é no Governo. As câmaras são ingovernáveis, porque quem manda nelas são os técnicos." Genuína ou simplesmente irreflectida, a resposta do candidato veio pronta: "Um dia, noutras eleições, conto consigo". E seguiu caminho.