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"Rui Rio teve uma atitude de marialva no Porto"

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Mensagem por Joao Ruiz Qua Out 07, 2009 5:51 am

"Rui Rio teve uma atitude de marialva no Porto"

por João Céu e Silva
Hoje

"Rui Rio teve uma atitude de marialva no Porto" Ng1200950

A ex-ministra do Ambiente é a candidata do PS à Câmara do Porto. A tarefa não é fácil e as sondagens dão ao seu opositor alguma vantagem. Acredita que o intervalo entre ambos está a diminuir e que um terceiro mandato poderá não acontecer. É independente e quer largar Bruxelas para regressar à terra.

Foi a primeira mulher doutorada pela Faculdade de Economia do Porto. Acredita que vai ser a primeira autarca do Porto?

Acho que sim!

Mesmo com a marca e a influência de dois mandatos do PSD com Rui Rio?

Precisamente por isso. O balanço é péssimo e não hesito em dizer que Rui Rio está neste momento sem entusiasmo. Não renovou a equipa, tem sempre muita instabilidade entre os vereadores do Urbanismo. É uma situação estranha.

Sente essa instabilidade porque acha que Rui Rio tem outros interesses políticos?

Foi ele próprio que os afirmou em 2006 e em 2008, pois tem sempre a preocupação de meter na sua agenda a possibilidade de ser candidato à liderança do PSD. Ao contrário de mim, é um homem que vive e afirmou-se com a política e por ser um homem de partido nunca fez nada que o tornasse notável fora desse âmbito restrito. Nunca teve um cargo governativo nem foi secretário de Estado! Portanto, acho que ao fim de um terceiro mandato alguém que vive da política está a ver o que é que vai fazer a seguir. A tendência natural é que seja um mandato de transição.

A recusa em ser vereadora e apenas aceitar o cargo de presidente não a fragiliza?

Acho que não, o próprio Rui Rio também não está disponível para ser meu vereador. Até Fernando Gomes também sempre disse que se candidatava a presidente e não a vereador e essa é a minha posição e clara. Sou candidata a presidente da Câmara do Porto, não a vereadora.

Seria uma autarca menos conflituosa?

Decerto, pois os seus dois mandatos foram sempre de conflito. Com o Futebol Clube do Porto, com a imprensa, com o Governo central, com os grupos de teatro… Esta afirmação pelo conflito dá uma imagem crispada da cidade que não é a verdadeira e o que ele teve foi uma atitude de marialva no Porto, ao criar uma grande operação de marketing que fez com que todos pensassem imediatamente que era muito corajoso. Se há seis milhões de benfiquistas, então ele tem mais de metade do País a construir-lhe um altar, o que é uma maneira muito capciosa de se servir do futebol para fazer política.

Que dá proveitos eleitorais?

Passou a ser considerado uma pessoa séria e corajosa e ninguém mais quis saber da seriedade efectiva na administração e na gestão. É uma forma de populismo que a mim me choca e que mostra a incapacidade para lidar com os problemas da cidade.

Considera, então, que Rui Rio tem provocado alguma asfixia democrática ao Porto?

Não tenho de fazer considerandos sobre isso, mas não acho aceitável que 35 anos depois do 25 de Abril haja uma norma camarária que condiciona o seu apoio ao compromisso de não dizer mal da câmara? É uma norma inqualificável sobre a qual o presidente diz com a maior ingenuidade "será?", que é só uma questão de bom senso, pois não se vai dar dinheiro a quem diz mal de nós.

O Bloco de Esquerda tem-se atravessado à frente do PS. Acha que também lhe vai levar muitos votos úteis?

Espero que não, e até tenho uma militante do Bloco em lugar elegível na minha lista e penso que tenho um programa suficientemente preciso para merecer o apoio de muita gente que se revê na linha do Bloco de Esquerda. É uma equipa de convergência com a cidade e não uma equipa partidária ou sectária, a que concorre às eleições.

Ou seja, está a usar todos os argumentos possíveis para contrariar a vitória do PSD!

Não. Estou a utilizar todos os argumentos que permitam aos portuenses sair de uma situação de conformismo e de fatalismo ao perceberem que há condições para repor o Porto numa estratégia de crescimento e de dinâmica económica. Não tenho nada contra, tenho é muito a favor da minha cidade, porque estamos a ser ultrapassados. O Porto sempre ajudou o País, nunca foi uma cidade ajudada, e como portuense custa-me muito rever o Porto à luz deste estatuto.

Esse mito de que o Porto puxa o País tem vindo a cair por terra nos últimos tempos!

E é isso que eu quero contrariar. O Porto sempre foi uma cidade que era o coração de uma região muito exportadora, empreendedora e orgulhosa de si. As mudanças na economia mundial fizeram-na acumular fragilidades, umas por culpa própria e outras pelo centralismo excessivo, que não foram suficientemente percebidas mas remetidas para o nível de bairrismo e queixume.

Essa é a visão que se tem. Não é verdade?

Temos de ser cuidadosos para não generalizar. O Porto e o Norte têm vectores de afirmação únicos a nível europeu nas pequenas e médias empresas, e como este país é muito centralista, com o argumento de que é pequeno, tem de se estar com muito mais atenção às mudanças.

Acha que se o Porto tiver uma câmara PS será beneficiado pelo Governo?

Se há imagem que quero mudar é a do Porto queixoso e agressivo, porque a cidade e as pessoas não o são. Não sabem é como exprimir o seu desalento e as dificuldades que atravessam, e surge um certo pendor de abandono. O Porto e o Norte melhoraram imenso e, por exemplo, o aeroporto é uma referência a nível europeu.

Uma infra-estrutura onde a TAP, segundo diz, beneficia Lisboa e prejudica o Porto.

A TAP faz o raciocínio de uma empresa que se concentrou em Lisboa exactamente na altura em que o aeroporto do Porto ficava capaz de acolher mais voos do que antes. Agora tem uma capacidade explorada pela metade enquanto assistimos a um debate sobre um outro aeroporto, em Lisboa, sem ter em conta que o do Porto pode crescer e que a ligação por TGV ou comboio rápido facilitaria que fossem geridos em rede. A discussão do novo aeroporto da capital é tratada como um grande projecto nacional mas sem que seja explícito qual é o papel do Porto na nova estratégia aeroportuária, que vai ter uma capacidade excedentária.

É por isso que se a Câmara do Porto for socialista terá a vida mais facilitada?

O que é preciso é ser-se competente e as reivindicações do Porto têm de o ser também. Ninguém pede que o País perca para apoiar o Porto, o que se exige é que, de acordo com a nossa quota de impostos e direitos de cidadania, haja uma definição das políticas nacionais e que as diversidades sejam tomadas em conta.

Não é necessário, então, ser do PS, mesmo sendo independente, como é o seu caso?

Não é preciso ser do PS, mas é muito importante, quando um partido como este decide, num determinado momento histórico e olhando para a situação do Porto, fazer uma proposta à cidade e dizer: "Reconhecemos que há vantagens em abrir à sociedade. Vamos convidar uma independente e dar carta branca dentro de determinados limites para que traga para a equipa o melhor que a cidade e o País tem." A grande vantagem do PS, e que acaba de ser reconhecida pelos portugueses, é que o PS olha para o País e percebe que o caminho tem de ser o de sair da crise. Esta apetência reformista e de querer estar a jogo é uma mensagem muito importante para partilhar com a cidade do Porto.

Crê que este Governo teve a melhor atitude possível perante a crise?

Acompanhei o que foi feito e fui a relatora do documento do Parlamento Europeu sobre a crise e as medidas de relançamento. Por isso, acho que o Governo fez bastante bem e, tendo em conta o que foi a situação e a reacção dos vários países europeus, acho que o fez melhor que muitos. Faltou foi uma capacidade europeia de reforçar o relançamento de todas as economias europeias.

É a crítica de Sarkozy a Durão Barroso!

Mas Sarkozy foi a pessoa que ouvi propor um plano de relançamento para a indústria automóvel francesa dizendo: "Não quero fazer um esforço de relançamento da indústria francesa que leve à criação de emprego na República Checa."

Portugal também não conseguiu interromper o aumento do desemprego...

Isso é impossível e não o foi em nenhum País europeu. Essa foi a grande subavaliação sobre a dimensão da crise e não houve da parte da direita liberal receptividade a essas propostas.

José Sócrates esteve presente na sua campanha e Rui Rio teve Manuela Ferreira Leite. Essa presença é boa para o Porto?

Quanto a Ferreira Leite, não sei. No que respeita a José Sócrates, ele tem uma característica muito visível em momentos de crise: dá a cara e está lá. O País e a cidade estão numa crise económica grave e temos de unir esforços com toda a sociedade civil para o relançar. Para além da equipa que está comigo, tenho na minha comissão de honra personalidades que são amarrações para a cidade, desde fundadores do CDS a grandes nomes da cultura, que fazem um pacto com a cidade e com a sociedade civil que é único.

Está a tentar convencer todos os habitantes do Porto da sua candidatura e nem o Futebol Clube do Porto lhe escapa...

Eu sou do Futebol Clube do Porto há muitos anos. Fui lá sexta-feira apresentar cumprimentos, mas também fui ao Boavista e fomos ao Salgueiros, fiz uma reunião com as colectividades recreativas e desportivas, visitei o reitor da Universidade do Porto e o bispo do Porto, a Misericórdia, Serralves... Não tenho, repito, uma leitura da afirmação de um presidente de câmara como alguém que está em conflito com todas as instituições da cidade.

Até porque Futebol Clube do Porto é, com o vinho do Douro, o grande cartão-de-visita.

É verdade e valorizo muito o que temos de bom.

Afirma que sempre serviu o País, ao servir o Norte. Está convencida dessa situação?

Sim e é por isso que não tenho a leitura tradicional de estarmos num conflito permanente Porto--Lisboa.

É uma candidatura feminina e até escreveu que trabalha para que o Porto seja uma cidade onde as suas filhas possam viver bem. Um político homem não o diria?

A sério?! É que eu quero mesmo que as minhas filhas possam viver bem aqui e que temos de trabalhar a pensar na geração que virá. A maior parte das pessoas que chegam à minha idade tem os seus filhos a trabalhar fora do Porto e eu pergunto como é que uma região pode perder este potencial todo. Passa por aqui uma onda de gente nova na universidade, muitos vêm do Erasmus, e nós não os conseguimos reter.

Nota que as mulheres estão um pouco desinteressadas da vida política?

As mulheres não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo. São a maioria da população e, normalmente, as que mais trabalham, apesar de nas novas gerações ter mudado alguma coisa.

Acha que o voto feminino pode contribuir para a sua eleição?

Claro que contribui e é fundamental, mas todas as análises mostram que as mulheres são muito mais exigentes com as mulheres do que com os homens. Sendo isso uma grande verdade, espero chegar próximo das mulheres, porque são muito mais reticentes em votar numa mulher e porque lhes exigem muito mais do que aos homens. É uma tradição do voto feminino! Só que se há alguma coisa de que me posso orgulhar como característica pessoal é que estudo muito bem os dossiers e utilizo apenas uns 30% daquilo que normalmente sei sobre cada tema. Portanto, sou muito cuidadosa nesse aspecto.

Tem resposta para o aumento de criminalidade no Porto?

A criminalidade resulta em muito de haver 115 mil pessoas subsidiadas, desempregadas e inactivas no Porto, que com uma população a decrescer aparecem vazios na cidade em termos de classe média, população jovem, até vazios físicos. Estes vazios não são bons conselheiros, porque o espaço sem nada numa cidade é sempre preenchido e nem sempre pelo que há de melhor na sociedade. E só uma estratégia consistente e determinada os pode revitalizar.

Que razão existe para que metade da população do Porto receba subsídios?

É uma situação dramática e por isso eu necessito mesmo de ter condições para virar a cidade ao contrário e relançá-la. Estes são dados estatísticos do INE, não são feitos por mim.

Deve-se a má utilização dos quadros comunitários de apoio pelo Porto?

Enquanto fui ministra do Ambiente, considero que fiz uma boa gestão dessa enorme oportunidade que temos. Dessa altura, eu presto contas pela sua utilização: abastecimento de água ao Porto e a toda a área metropolitana; tratamentos de esgotos com as ETAR de Sobreiras e do Freixo; a requalificação de Gaia com obras de saneamento básico e a requalificação das praias na envolvente; introduziu-se a separação de resíduos; fez-se a LIPOR, entre outras coisas. É evidente que agora não se faz uma boa aplicação dos fundos nem a cidade se organiza para seleccionar quais são os projectos para os quais tem de pedir fundos estruturais.

Como ex-ministra do Ambiente, qual é a situação ambiental do Porto?

Quase que regressámos à situação dos cuidados primários e básicos. Não entendo como é que o presidente da Câmara do Porto, depois de oito anos à frente do executivo, propõe no programa completar só em 2011 o saneamento básico da cidade! E, entretanto, a empresa de Águas do Porto está neste momento a fazer pavimentações de ruas e ciclovias! Quanto à cidade, está muito suja - passámos estes anos a discutir se deviam ser os privados ou os públicos a tratar da limpeza urbana - e é confrangedor que o Porto, que é Património Mundial, tenha turistas que o vejam assim. Há os mínimos, enquanto podíamos ir aos máximos, fazer muito em termos de poupança energética e de muitas outras situações.

A sua opinião é que o actual presidência não tem capacidade para as pôr em prática?

Eu constato isso ao fim de oito anos com fundos estruturais e estabilidade política. Esses mínimos que deveriam ser cumpridos estão em causa também no Parque da Cidade, onde a desqualificação a que está votado é imensa por má gestão e é uma bomba-relógio em termos financeiros para a câmara.

O mesmo se passa com o Bolhão?

O Bolhão é outro caso emblemático. Qualquer cidade - Paris, Barcelona, Londres ou Madrid - olha para os seus mercados com atenção. Este é belíssimo, da arquitectura do ferro, e está no centro histórico da cidade. Ao fim de oito anos, visita-se o Bolhão e está tudo descurado e as pessoas ao abandono. Como é possível uma câmara não ser capaz sequer de candidatar a recuperação do Bolhão aos fundos estruturais? Outro mercado, que não é da mesma época mas tem uma arquitectura muito interessante, é o do Bom Sucesso. Tem uma grande nave, muito bonita em termos arquitectónicos, e esteve ao abandono também. É logo aqui que começaria o apoio às tais microempresas de que tanto se fala.

No caso do bairro do Aleixo, partilha da tese do autarca que o quer deitar abaixo?

Se o grande argumento para deitar abaixo o bairro do Aleixo, que é dos bairros mais recentes do Porto e tem uma estrutura sólida, é porque lá há droga, eu digo que isso é um absurdo. Já temos a experiência do bairro de S. João de Deus, que não foi solução para coisa alguma! Agora, se me disserem que a infra-estrutura das torres não está boa, então é evidente que não vou manter edifícios cujo custo de manutenção é maior do que o comportável. Voltando ao S. João de Deus, que é um bairro que tem casas antigas de pedra, e não tem torres como as do Aleixo, quando Rui Rio tomou conta da câmara, ainda era construção moderna. A degradação levou a que se instalassem redes de droga e o seu primeiro acto no dia seguinte a ser eleito foi entrar no bairro e deitar tudo abaixo.

É um paralelo com o bairro do Aleixo?

Sim, as casas construídas há nove, dez anos foram arrasadas ao mesmo tempo que as outras, que poderiam ser requalificadas. As casas antigas do bairro estão agora uma ocupada, duas desocupadas, uma entaipada, outra com o jardim deitado abaixo, ou seja, está tudo ao abandono. E o que concluo é que as pessoas e as redes de droga que saíram dali, em vez de serem controladas e combatidas, espalharam-se pelos outros bairros. E o que vi no bairro do Lagarteiro, o do Cerco do Porto, o da Pasteleira é que em todos foram inseridas pessoas que vieram daquele bairro sem qualquer enquadramento.

DN

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Joao Ruiz
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