Paul Krugman e a queda do dólar
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Paul Krugman e a queda do dólar
Mentalidades monetárias fora dos eixos
by Paul Krugman
Publicado em 16 de Outubro de 2009
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by Paul Krugman
Publicado em 16 de Outubro de 2009
Não se deve subestimar o poder destrutivo das más ideias, nem ignorar que elas podem voltar. É o que poderá acontecer quando já se ouve falar da subida das taxas de juro.
Uma lição que se pode retirar da Grande Depressão é que nunca se deve subestimar o poder destrutivo das más ideias. E algumas das más ideias que contribuíram para a Depressão revelaram-se, infelizmente, muito duradouras: sob forma modificada, continuam a influenciar o debate económico dos nossos dias.
A que ideias me refiro? O historiador da economia Peter Temin defende que uma das causas fundamentais da Depressão foi aquilo a que chama a "mentalidade do padrão-ouro". Quer ele dizer não só a crença na importância sagrada de manter o valor-ouro de uma moeda, mas também todo um conjunto de atitudes correlacionadas com ela: um medo obsessivo da inflação, mesmo em situações de deflação, oposição ao crédito fácil, o refrão de que, ainda que o governo tenha condições para criar emprego, não deve fazê-lo, porque isso representaria apenas uma recuperação "artificial".
No princípio da década de 1930 esta mentalidade levou os governos a subirem as taxas de juro e a reduzirem a despesa pública, apesar do desemprego que grassava, numa tentativa de defenderem as suas reservas de ouro. Mas em 2009 estamos muito longe desse tempo. Ou não?
Nos Estados Unidos existe uma versão moderna da mentalidade do padrão-ouro, que exerce uma influência crescente. E esta nova versão de uma velha má ideia pode prejudicar as hipóteses de alcançarmos uma recuperação plena.
Consideremos a recente celeuma a propósito da desvalorização do dólar a nível internacional.
A verdade é que se trata de uma boa notícia. Para começar, resulta sobretudo de um aumento da confiança: o dólar subiu na fase mais aguda da crise financeira, quando os investidores em pânico procuraram refúgio no mercado dos EUA, e está a descer de novo agora porque o medo está a desaparecer. Um dólar mais baixo é vantajoso para os exportadores dos EUA, o que ajuda o país a fazer a transição da anterior situação de gigantescos défices da balança de pagamentos para uma posição internacional mais sustentável.
No entanto, se lermos as opiniões expressas, por exemplo, na página editorial de "The Wall Street Journal", ficamos com a sensação de que a queda do dólar é um sinal de que o mundo está a perder a confiança nos Estados Unidos.
Uma lição que se pode retirar da Grande Depressão é que nunca se deve subestimar o poder destrutivo das más ideias. E algumas das más ideias que contribuíram para a Depressão revelaram-se, infelizmente, muito duradouras: sob forma modificada, continuam a influenciar o debate económico dos nossos dias.
A que ideias me refiro? O historiador da economia Peter Temin defende que uma das causas fundamentais da Depressão foi aquilo a que chama a "mentalidade do padrão-ouro". Quer ele dizer não só a crença na importância sagrada de manter o valor-ouro de uma moeda, mas também todo um conjunto de atitudes correlacionadas com ela: um medo obsessivo da inflação, mesmo em situações de deflação, oposição ao crédito fácil, o refrão de que, ainda que o governo tenha condições para criar emprego, não deve fazê-lo, porque isso representaria apenas uma recuperação "artificial".
No princípio da década de 1930 esta mentalidade levou os governos a subirem as taxas de juro e a reduzirem a despesa pública, apesar do desemprego que grassava, numa tentativa de defenderem as suas reservas de ouro. Mas em 2009 estamos muito longe desse tempo. Ou não?
Nos Estados Unidos existe uma versão moderna da mentalidade do padrão-ouro, que exerce uma influência crescente. E esta nova versão de uma velha má ideia pode prejudicar as hipóteses de alcançarmos uma recuperação plena.
Consideremos a recente celeuma a propósito da desvalorização do dólar a nível internacional.
A verdade é que se trata de uma boa notícia. Para começar, resulta sobretudo de um aumento da confiança: o dólar subiu na fase mais aguda da crise financeira, quando os investidores em pânico procuraram refúgio no mercado dos EUA, e está a descer de novo agora porque o medo está a desaparecer. Um dólar mais baixo é vantajoso para os exportadores dos EUA, o que ajuda o país a fazer a transição da anterior situação de gigantescos défices da balança de pagamentos para uma posição internacional mais sustentável.
No entanto, se lermos as opiniões expressas, por exemplo, na página editorial de "The Wall Street Journal", ficamos com a sensação de que a queda do dólar é um sinal de que o mundo está a perder a confiança nos Estados Unidos.
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Re: Paul Krugman e a queda do dólar
Dólar: de moeda refúgio a moeda de financiamento barato
Agostinho Leal Alves, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
Ao longo das últimas semanas tem-se vindo a consolidar a perda acentuada de valor cambial do dólar a favor de moedas mais rentáveis e que inspiram maior confiança aos investidores.
Num cenário de gradual aumento da tolerância ao risco, com o objectivo de obtenção de retornos superiores, a moeda americana é agora a principal fonte de financiamento de aplicações em moedas mais atractivas, para além de estar enredada em correlações inversas em relação à progressiva melhoria das bolsas e ao aumento dos preços das commodities, sobretudo do ouro e do crude.
Perante perspectivas económicas bem melhores do que as inicialmente previstas, a médio/longo prazo é esperada uma retoma progressiva nos principais blocos económicos, no entanto não isenta de riscos no âmbito das incertezas ainda existentes. Deste modo, não surpreende os mercados o facto de as políticas monetárias, nomeadamente as prosseguidas dos dois lados do Atlântico, se manterem inalteradas nos próximos tempos, assim como as facilidades de liquidez introduzidas pelos respectivos bancos centrais, num clima de regresso à normalidade. Neste mesmo sentido, a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) tem deixado claro que não se precipitará a alterar as taxas de juro directoras, enquanto a inflação o permitir, mesmo com um nível de crescimento acima do potencial.
Sendo assim, as taxas de juro do dólar deverão permanecer em níveis historicamente baixos, não muito longe do zero o que, em termos de diferencial para outras moedas, mostra uma nítida desvantagem, não sendo o dólar dos EUA encarado como uma aplicação. Pelo contrário, torna-o num importante veículo de financiamento barato de operações que procuram maiores rentabilidades noutras moedas, por exemplo: os dólares australiano, neozelandês e canadiano, bem como as coroas sueca e norueguesa e ainda o real brasileiro. Estes movimentos surgem e intensificam-se no contexto de maior apetência por risco, mas também de maior confiança nas economias das moedas mencionadas. Países que superaram melhor o choque da crise, ou por estarem melhor preparados ou por terem uma situação privilegiada em termos de relações comerciais e de especialização dos seus sectores mais dinâmicos.
Complementarmente, a fuga do dólar e o reequilíbrio do seu valor cambial mostra-se fortemente correlacionado com a actual tendência de alta das bolsas e a consolidação da subida dos preços das principais commodities. A correlação é de tal forma forte que, simultaneamente, o câmbio euro/dólar, a maioria dos índices bolsistas norte-americanos e europeus, o preço do ouro e do petróleo alcançaram valores máximos do ano. O binómio euro/dólar registou 1,4967, muito próximo do nível psicológico dos 1,50, e correspondendo a valores vistos pela última vez em meados de Agosto de 2008. As bolsas encontram-se ao nível de Outubro de 2008, tal como o preço do crude (patamar dos 75 dólares/barril), e o ouro atingiu o preço máximo de sempre, 1070,40 dólares onça 'troy'.
O caso da valorização do ouro, tal como a apreciação de algumas das divisas mencionadas, também se prende com movimentos de diversificação de carteiras dos bancos centrais que, face à persistente depreciação do dólar, tentam minimizar potenciais perdas. Por exemplo, os países asiáticos, liderados pela China, têm vindo a comprar ouro, aumentando o seu peso na globalidade das suas aplicações, fazendo diminuir a exposição negativa que têm tido com a continuada depreciação do dólar.
Nestes períodos de dólar fraco, retornam as questões de rebalanço das principais reservas cambiais do mundo, detidas pelas economias mais pujantes da Ásia e do Médio Oriente, e a discussão acerca da necessidade de uma nova divisa mundial com função de reserva e de valor mais assegurada, sem estar dependente das políticas seguidas pela mais importante economia do mundo. Contudo, na realidade, o efeito prático deste debate resume-se a ser mais um factor que acentua o sentimento hostil ao dólar. Acredita-se que, a médio/longo prazo, estes aspectos poderão voltar a esbater-se. Por outro lado, nenhuma das actuais moedas rivais do dólar está à altura de discutir o lugar cimeiro que a moeda americana detém no comércio internacional e nos mercados financeiros. Tanto nas transacções cambiais, como ao nível das reservas mundiais, o dólar tem um peso de cerca de 65%, perante os 25% do euro. A moeda europeia é presentemente a única que poderá competir com o dólar.
A situação de persistente perda do valor cambial do dólar e, concretamente, da consolidação da tendência de subida do câmbio euro/dólar, está a gerar algum desconforto nas autoridades europeias. O Presidente do BCE considera que perante o excesso de volatilidade e de movimentos desordenados dos câmbios, que têm implicações nefastas na estabilidade económica e financeira, as autoridades norte-americanas deviam ter um compromisso expresso a favor de um dólar forte. É um facto que, nas actuais circunstâncias económicas, não convém às empresas da Zona Euro a perda de competitividade através de uma moeda excessivamente forte. Contrariamente, a economia americana agradece o dólar fraco, no momento de reanimação económica sem inflação, pois contribui para a diminuição de compras ao exterior e fomenta a venda de produtos domésticos, já que no passado recente a dependência de produtos estrangeiros acelerou o défice comercial e prejudicou a indústria nacional.
Com a manutenção e persistência dos factores mencionados acredita-se que, no curto/médio prazo, o dólar deverá manter-se debilitado. Face ao excesso de liquidez existente, os fluxos financeiros vão continuar a procurar activos com risco. As bolsas mostram-se embaladas pela divulgação de resultados positivos do 3º trimestre das empresas norte-americanas e não são expectáveis recuos nos preços das commodities, que se encontram num processo de recuperação após a abrupta quebra ocorrida em plena crise económica. O divórcio entre o dólar e estas dinâmicas iniciar-se-á com a divulgação de dados económicos norte-americanos fortes, que indiquem um ciclo de crescimento sem retorno, abrindo perspectivas para uma política monetária menos expansionista. Neste ponto, a atenção irá centrar-se no desfazer das posições de carry trade ainda vivas. Um movimento mais forte contribuirá para a apreciação do dólar.
Até final do ano, o euro/dólar deverá testar com sucesso o nível psicológico dos 1,50 dólares, podendo mesmo aproximar-se de uma área de resistência nos 1,53. Posteriormente, e já no início de 2010, é esperado um movimento de correcção até ao patamar dos 1,45 dólares.
Agostinho Leal Alves, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
Ao longo das últimas semanas tem-se vindo a consolidar a perda acentuada de valor cambial do dólar a favor de moedas mais rentáveis e que inspiram maior confiança aos investidores.
Num cenário de gradual aumento da tolerância ao risco, com o objectivo de obtenção de retornos superiores, a moeda americana é agora a principal fonte de financiamento de aplicações em moedas mais atractivas, para além de estar enredada em correlações inversas em relação à progressiva melhoria das bolsas e ao aumento dos preços das commodities, sobretudo do ouro e do crude.
Perante perspectivas económicas bem melhores do que as inicialmente previstas, a médio/longo prazo é esperada uma retoma progressiva nos principais blocos económicos, no entanto não isenta de riscos no âmbito das incertezas ainda existentes. Deste modo, não surpreende os mercados o facto de as políticas monetárias, nomeadamente as prosseguidas dos dois lados do Atlântico, se manterem inalteradas nos próximos tempos, assim como as facilidades de liquidez introduzidas pelos respectivos bancos centrais, num clima de regresso à normalidade. Neste mesmo sentido, a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) tem deixado claro que não se precipitará a alterar as taxas de juro directoras, enquanto a inflação o permitir, mesmo com um nível de crescimento acima do potencial.
Sendo assim, as taxas de juro do dólar deverão permanecer em níveis historicamente baixos, não muito longe do zero o que, em termos de diferencial para outras moedas, mostra uma nítida desvantagem, não sendo o dólar dos EUA encarado como uma aplicação. Pelo contrário, torna-o num importante veículo de financiamento barato de operações que procuram maiores rentabilidades noutras moedas, por exemplo: os dólares australiano, neozelandês e canadiano, bem como as coroas sueca e norueguesa e ainda o real brasileiro. Estes movimentos surgem e intensificam-se no contexto de maior apetência por risco, mas também de maior confiança nas economias das moedas mencionadas. Países que superaram melhor o choque da crise, ou por estarem melhor preparados ou por terem uma situação privilegiada em termos de relações comerciais e de especialização dos seus sectores mais dinâmicos.
Complementarmente, a fuga do dólar e o reequilíbrio do seu valor cambial mostra-se fortemente correlacionado com a actual tendência de alta das bolsas e a consolidação da subida dos preços das principais commodities. A correlação é de tal forma forte que, simultaneamente, o câmbio euro/dólar, a maioria dos índices bolsistas norte-americanos e europeus, o preço do ouro e do petróleo alcançaram valores máximos do ano. O binómio euro/dólar registou 1,4967, muito próximo do nível psicológico dos 1,50, e correspondendo a valores vistos pela última vez em meados de Agosto de 2008. As bolsas encontram-se ao nível de Outubro de 2008, tal como o preço do crude (patamar dos 75 dólares/barril), e o ouro atingiu o preço máximo de sempre, 1070,40 dólares onça 'troy'.
O caso da valorização do ouro, tal como a apreciação de algumas das divisas mencionadas, também se prende com movimentos de diversificação de carteiras dos bancos centrais que, face à persistente depreciação do dólar, tentam minimizar potenciais perdas. Por exemplo, os países asiáticos, liderados pela China, têm vindo a comprar ouro, aumentando o seu peso na globalidade das suas aplicações, fazendo diminuir a exposição negativa que têm tido com a continuada depreciação do dólar.
Nestes períodos de dólar fraco, retornam as questões de rebalanço das principais reservas cambiais do mundo, detidas pelas economias mais pujantes da Ásia e do Médio Oriente, e a discussão acerca da necessidade de uma nova divisa mundial com função de reserva e de valor mais assegurada, sem estar dependente das políticas seguidas pela mais importante economia do mundo. Contudo, na realidade, o efeito prático deste debate resume-se a ser mais um factor que acentua o sentimento hostil ao dólar. Acredita-se que, a médio/longo prazo, estes aspectos poderão voltar a esbater-se. Por outro lado, nenhuma das actuais moedas rivais do dólar está à altura de discutir o lugar cimeiro que a moeda americana detém no comércio internacional e nos mercados financeiros. Tanto nas transacções cambiais, como ao nível das reservas mundiais, o dólar tem um peso de cerca de 65%, perante os 25% do euro. A moeda europeia é presentemente a única que poderá competir com o dólar.
A situação de persistente perda do valor cambial do dólar e, concretamente, da consolidação da tendência de subida do câmbio euro/dólar, está a gerar algum desconforto nas autoridades europeias. O Presidente do BCE considera que perante o excesso de volatilidade e de movimentos desordenados dos câmbios, que têm implicações nefastas na estabilidade económica e financeira, as autoridades norte-americanas deviam ter um compromisso expresso a favor de um dólar forte. É um facto que, nas actuais circunstâncias económicas, não convém às empresas da Zona Euro a perda de competitividade através de uma moeda excessivamente forte. Contrariamente, a economia americana agradece o dólar fraco, no momento de reanimação económica sem inflação, pois contribui para a diminuição de compras ao exterior e fomenta a venda de produtos domésticos, já que no passado recente a dependência de produtos estrangeiros acelerou o défice comercial e prejudicou a indústria nacional.
Com a manutenção e persistência dos factores mencionados acredita-se que, no curto/médio prazo, o dólar deverá manter-se debilitado. Face ao excesso de liquidez existente, os fluxos financeiros vão continuar a procurar activos com risco. As bolsas mostram-se embaladas pela divulgação de resultados positivos do 3º trimestre das empresas norte-americanas e não são expectáveis recuos nos preços das commodities, que se encontram num processo de recuperação após a abrupta quebra ocorrida em plena crise económica. O divórcio entre o dólar e estas dinâmicas iniciar-se-á com a divulgação de dados económicos norte-americanos fortes, que indiquem um ciclo de crescimento sem retorno, abrindo perspectivas para uma política monetária menos expansionista. Neste ponto, a atenção irá centrar-se no desfazer das posições de carry trade ainda vivas. Um movimento mais forte contribuirá para a apreciação do dólar.
Até final do ano, o euro/dólar deverá testar com sucesso o nível psicológico dos 1,50 dólares, podendo mesmo aproximar-se de uma área de resistência nos 1,53. Posteriormente, e já no início de 2010, é esperado um movimento de correcção até ao patamar dos 1,45 dólares.
Económico
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