Escolher sem escolher
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Escolher sem escolher
Escolher sem escolher
Helenagarrido@negocios.pt
A Assembleia da República recebe hoje o Programa do Governo de José Sócrates em minoria. Combater a crise e promover o desenvolvimento são os objectivos definidos pelo primeiro-ministro. Assim dito, todos estão de acordo. As divisões, dramáticas até, estão nos caminhos para lá chegar.
Inércia ou escolha por falta de escolha é o que se arrisca nesta legislatura de José Sócrates em minoria. Muito do que se vai assistir, especialmente nesta primeira fase em que Manuela Ferreira Leite é líder do PSD, não será politiquice pura, mas reflexo de convicções sobre o melhor caminho a escolher para o Portugal, no estado em que está hoje.
O endividamento é para a líder do PSD o problema dos problemas, que inviabiliza uma série de medidas de combate à crise, propostas pelos socialistas e acarinhadas por José Sócrates.
As obras públicas - estradas, alta velocidade, novo aeroporto e nova ponte - são a face visível da discórdia sobre a importância que se deve dar à dívida externa do País.
O que o País deve ao exterior - mesmo sendo em euros - tem uma tal dimensão que condiciona significativamente a actuação do Estado no combate à crise?
A resposta de Manuela Ferreira Leite é inequivocamente "sim". E com ela está o Presidente da República, como o demonstrou em vária ocasiões e o fez mais uma vez no discurso de tomada de posse do Governo. Ali, Aníbal Cavaco Silva colocou o endividamento ao lado do desemprego, como os dois problemas "que merecem especial atenção".
A mesma perspectiva não tem José Sócrates. E ao seu lado tem o governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio.
Cavaco Silva e Vitor Constâncio debateram frente a frente esse tema do endividamento e das suas limitações em 2003, numa mesa redonda integrada na homenagem que o Instituto Superior de Economia e Gestão fez a José Silva Lopes. As diferenças foram bastante claras.
Até ao momento, Cavaco Silva tem a realidade contra si. Portugal, apesar do seu endividamento, conseguiu atravessar sem sobressaltos de maior a crise financeira, nomeadamente a fase mais grave que ocorreu a partir da falência do Lehman Brothers em Setembro de 2008.
Os portugueses viram, nesta crise, cair a Irlanda, o exemplo de crescimento rápido que todos queriam seguir. Assim como viram o colapso inimaginável da Islândia. Irlandeses, gregos e espanhóis acabaram por enfrentar problemas mais graves nesta crise do que Portugal.
Se Portugal não estivesse no espaço da união monetária, obviamente que não poderia ter o endividamento que detém hoje. Há muito que a restrição financeira se teria feito sentir através da falta de divisas para pagar as importações.
A crise mostrou ainda que a protecção do euro vai para além de se pagar a dívida com a própria moeda. Quando a tempestade financeira atingiu o seu auge, em finais do ano passado, ficou claro que a Zona Euro não deixaria cair nenhum dos seus pares, ou seja, não deixaria que um dos seus entrasse em incumprimento da sua dívida.
Um outro aspecto torna a dívida menos preocupante e alarga a margem de manobra do Estado para contrair dívida. As famílias e as empresas, principais responsáveis pela explosão do crédito externo ao país, estão a "apertar o cinto", quer por via do aumento da taxa de poupança quer através do menor acesso ao crédito.
O novo Governo é feito de velhas prioridades e construído nas mesmas convicções sobre a importância do investimento público. Todo o cuidado é pouco quando se trata de endividamento. Todos sabemos, pela história recente, como muda repentinamente o humor do mercado financeiro. Mas não escolher nada, é pior do que escolher. O pior que a oposição pode fazer ao País é bloquear decisões, é escolher sem escolher.
Só gostaria de acrescentar que Helena Garrido não morre de amores por José Sócrates. Antes, bem pelo contrário.....
Helenagarrido@negocios.pt
A Assembleia da República recebe hoje o Programa do Governo de José Sócrates em minoria. Combater a crise e promover o desenvolvimento são os objectivos definidos pelo primeiro-ministro. Assim dito, todos estão de acordo. As divisões, dramáticas até, estão nos caminhos para lá chegar.
Inércia ou escolha por falta de escolha é o que se arrisca nesta legislatura de José Sócrates em minoria. Muito do que se vai assistir, especialmente nesta primeira fase em que Manuela Ferreira Leite é líder do PSD, não será politiquice pura, mas reflexo de convicções sobre o melhor caminho a escolher para o Portugal, no estado em que está hoje.
O endividamento é para a líder do PSD o problema dos problemas, que inviabiliza uma série de medidas de combate à crise, propostas pelos socialistas e acarinhadas por José Sócrates.
As obras públicas - estradas, alta velocidade, novo aeroporto e nova ponte - são a face visível da discórdia sobre a importância que se deve dar à dívida externa do País.
O que o País deve ao exterior - mesmo sendo em euros - tem uma tal dimensão que condiciona significativamente a actuação do Estado no combate à crise?
A resposta de Manuela Ferreira Leite é inequivocamente "sim". E com ela está o Presidente da República, como o demonstrou em vária ocasiões e o fez mais uma vez no discurso de tomada de posse do Governo. Ali, Aníbal Cavaco Silva colocou o endividamento ao lado do desemprego, como os dois problemas "que merecem especial atenção".
A mesma perspectiva não tem José Sócrates. E ao seu lado tem o governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio.
Cavaco Silva e Vitor Constâncio debateram frente a frente esse tema do endividamento e das suas limitações em 2003, numa mesa redonda integrada na homenagem que o Instituto Superior de Economia e Gestão fez a José Silva Lopes. As diferenças foram bastante claras.
Até ao momento, Cavaco Silva tem a realidade contra si. Portugal, apesar do seu endividamento, conseguiu atravessar sem sobressaltos de maior a crise financeira, nomeadamente a fase mais grave que ocorreu a partir da falência do Lehman Brothers em Setembro de 2008.
Os portugueses viram, nesta crise, cair a Irlanda, o exemplo de crescimento rápido que todos queriam seguir. Assim como viram o colapso inimaginável da Islândia. Irlandeses, gregos e espanhóis acabaram por enfrentar problemas mais graves nesta crise do que Portugal.
Se Portugal não estivesse no espaço da união monetária, obviamente que não poderia ter o endividamento que detém hoje. Há muito que a restrição financeira se teria feito sentir através da falta de divisas para pagar as importações.
A crise mostrou ainda que a protecção do euro vai para além de se pagar a dívida com a própria moeda. Quando a tempestade financeira atingiu o seu auge, em finais do ano passado, ficou claro que a Zona Euro não deixaria cair nenhum dos seus pares, ou seja, não deixaria que um dos seus entrasse em incumprimento da sua dívida.
Um outro aspecto torna a dívida menos preocupante e alarga a margem de manobra do Estado para contrair dívida. As famílias e as empresas, principais responsáveis pela explosão do crédito externo ao país, estão a "apertar o cinto", quer por via do aumento da taxa de poupança quer através do menor acesso ao crédito.
O novo Governo é feito de velhas prioridades e construído nas mesmas convicções sobre a importância do investimento público. Todo o cuidado é pouco quando se trata de endividamento. Todos sabemos, pela história recente, como muda repentinamente o humor do mercado financeiro. Mas não escolher nada, é pior do que escolher. O pior que a oposição pode fazer ao País é bloquear decisões, é escolher sem escolher.
Só gostaria de acrescentar que Helena Garrido não morre de amores por José Sócrates. Antes, bem pelo contrário.....
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