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Cisnes Negros, o Dubai e o défice

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Cisnes Negros, o Dubai e o défice Empty Cisnes Negros, o Dubai e o défice

Mensagem por Viriato Qui Nov 26, 2009 4:16 pm

Cisnes Negros, o Dubai e o défice

Se alguma coisa se devia ter aprendido do que sucedeu à economia desde Setembro de 2008, é que o contágio financeiro é um processo quase instantâneo. Ao colapso do Lehman, sucederam-se diversos episódios de pânico bancário pela Europa. Tanto por bancos contaminados por exposição aos então chamados activos tóxicos, como pelos animal spirits dos mercados financeiros. As expectativas dos empresários e dos investidores são cruciais em Economia, por muito que os apocalípticos apaniguados de Medina Carreira digam o oposto, ainda que nada sugiram, como nota o João Galamba. A falta de confiança no sistema bancário europeu instalou-se e o refinanciamento bancário tornou-se um problema, que, como sempre, o BCE demorou a dar resposta. Depressa a Europa descobriu que estava exposta de forma brutal ao subprime que representavam os créditos ao Leste. O sistema bancário austríaco estava flagrantemente exposto à Hungria, por exemplo. E a Suécia viu-se na contingência de tomar medidas extraordinárias, quando a Estónia ameaçou entrar em incumprimento de crédito. O default generalizado no Báltico era o maior dos riscos para os bancos suecos.


Os que hoje advogam que os indícios de retoma na UE devem levar o BCE a cortar as facilidades de crédito (já o estará a fazer?) e a ponderar subir as taxas de juro, porque, na cartilha monetarista mais ortodoxa, estão convencidos que a liquidez existente gerará inflação, não andam bem atentos às notícias económicas. Só para citar as de hoje, o crédito concedido pelo BCP está com uma exposição ao risco superior ao imaginável, já que 80% do seu valor em bolsa está nas mãos de apenas seis devedores. Seis!

Do Dubai chega a notícia da moratória de 6 meses decretada sobre as dívidas da maior empresa pública do país, ligada a projectos imobiliários. A empresa deveria pagar 2,3 mil milhões de euros no próximo mês, e os mercados financeiros encararam esta moratória como a maior situação de incumprimento de um país dos últimos 8 anos. A dívida total do Dubai ascende a 53 mil milhões de euros, parte da qual financiada por bancos europeus (13 mil milhões de Euros). Como se compreende, o tal contágio e os animal spirits levam a que a maioria das bolsas europeias tenham fechado em queda (na ordem dos 3%), devido, sobretudo, à quebra de preço das acções do sector bancário (descidas de 5% nas principais bolsas europeias, com o PSI20 também a caír). As agências de rating já fizeram o downgrading da dívida pública dos países do Golfo. O sistema financeiro europeu encontrou um novo patamar de exposição, depois do Leste, e dos receios da banca espanhola, com o crédito mal parado, ligado à construção civil, a explodir.

Ño Japão, o Primeiro Ministro reconhece a necessidade de novos apoios financeiros à economia para evitar que a ténue retoma entre no já famoso padrão em W. E, entre nós, soube-se que a TAP tem uma dívida total de 1,4 mil milhões de Euros, num cenário em que os números de Setembro apontavam para um prejuízo de 70 milhões de Euros. A principal razão que, apesar de tudo, diferencia a nossa taxa de desemprego da que se regista em Espanha, tem a ver com os pesos muito diferentes que a construção assumiu no PIB nos dois países. Em Portugal, este sector fortemente intensivo em mão de obra têm uma expressividade muito menor. Esse menor peso amortece os números do desemprego do sector, claramente acima da média nacional.

Enquanto a oposição insiste em atacar um inevitável alargamento défice, que aliás está em linha com a média da UE, e acenar com não problemas, formando mesmo coligações negativas que limitam a acção do governo,. Não percebendo que além do drama social do desemprego (novamente agravado pela decisão do BCE de não descer as taxas directoras abaixo de 1%, o que tem dificultado as exportações, dada a valorização do Euro face ao dólar), da necessidade de reactivar a economia (e as obras públicas não são uma boa forma de auxiliar o sector da construção e o emprego?), de precaver os custos astronómicos a curto prazo de alterações climáticas, de que alguns falam com escárnio, o risco maior é de novo o contágio.

O nosso sistema bancário, com os erros agora conhecidos da CMVM, que aceitou uma alavancagem descomunal no BPP. não suportaria, sem fortes apoios, o colapso de bancos europeus, por causa do Leste, do Dubai, ou do crédito interno mal parado. Não me parece que seja a melhor altura para o BCE brincar de novo ao monetarismo. O seu mandato inclui a estabilidade do sistema financeiro. E os governos não podem assegurar descidas do défice quando podem precisar de injectar dinheiro nos bancos, de os salvar, ou de conceder um novo sistema de garantias.

Com a fragilidade da banca europeia, neste momento, as notícias do Dubai são um mau sinal. Alguém devia explicar aos economistas-problema que a combinação do risco de novos e contínuos cisnes negros na banca, a impossibilidade de diminuir apoios sociais, e a necessidade de fomentar a retoma sustentada, torna, literalmente, o défice um problema de segunda ordem. Estamos com a generalidade dos países europeus nesse barco, e pressão sobre a Alemanha para a UE financiar programas de retoma em Estados Membros deve ser incessante.

Em "Regra do Jogo"
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