Minaretes by Miguel Portas
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Minaretes by Miguel Portas
Minaretes
04 December 09 12:00 PM
O tema é incómodo, pois é. Até o Público online decidiu abrir uma votação sobre se em Portugal deveria ser legal erguer minaretes. Claro está, no momento em que votei, existia uma maioria de pessoas que achava que não, que minaretes só para Sul do Atlântico e para Leste, para longe, muito longe de preferência. Passo adiante o absurdo de se abrir um inquérito com essa pergunta, que melhor seria perguntar «sabe o que é um minarete?», mas adiante.
O súbito interesse pela arquitectura religiosa teve pretexto suíço. No país das vacas, do queijo, do chocolate, dos vales e montanhas verdes e brancas e do segredo bancário, existiam quatro-minaretes-quatro, que não piavam, mas mexiam na paisagem, algo em que obviamente os suíços não tocam para não prejudicar a indústria dos postais. Foi quanto bastou para que o partido da extrema-direita, que já tinha corrido em cartazes com os imigrantes a pontapé, bradasse aos céus e convocasse um referendo. Estes estetas não gostam de pretos, de amarelos ou de tisnados, nem de torres magricelas sem cruzes e campanários. Seria o assunto ridículo se não fosse trágico.
É que, diferentemente de Hitler, esta gente não afirma a superioridade da raça ariana. Não, eles são apenas gente de bem que quer continuar a ser livre e liberal, algo que não se pode esperar dos pretos, dos amarelos e principalmente dos tisnados que erguem minaretes nas suas terras. Se assim é, que os façam por lá e que para lá voltem, que tratem aí do paraíso do obscurantismo, mas que não nos contaminem nem façam filhos nas nossas mulheres.
Não, eles não são racistas, mas estetas e libertários que defendem a paz social e o convívio com a natureza. Não, eles não são arrogantes, apenas querem defender a liberdade das mulheres, ameaçada pela pesada sombra dos quatro minaretes que serão muitos mais se os deixarmos. Não, eles não são fascistas, é um insulto insinuá-lo, porque convocaram um referendo e não um ditador para impor a vontade da maioria. Ou não é a Suíça o mais democrático dos países, aquele onde o povo governa directamente por consulta em vez de delegar as decisões no Parlamento e no Governo? Afinal, somos ou não somos bons, se não os melhores dos melhores?
Não, não são. Os povos não são melhores nem piores, apenas são capazes do melhor e do pior se tiverem a oportunidade. Na Europa do pós 11 de Setembro e na Europa da crise, ela está criada. O referendo suíço é mais um episódio de uma série de tipo B onde os ricos e anafados convocam o voto dos tristes de espírito para erguerem taças às guerras de civilização.
Mas... e então a democracia não é a vontade da maioria? Não, não é. A democracia qualifica-se pelo modo como respeita (não é tolera, não) e protege as minorias e faz das diferenças a riqueza da nação. Um dia, os suíços perceberão que a única coisa boa dos muçulmanos não são as contas bancárias dos que não autorizam igrejas nas areias regadas a petróleo... se entretanto não for tarde demais.
04 December 09 12:00 PM
O tema é incómodo, pois é. Até o Público online decidiu abrir uma votação sobre se em Portugal deveria ser legal erguer minaretes. Claro está, no momento em que votei, existia uma maioria de pessoas que achava que não, que minaretes só para Sul do Atlântico e para Leste, para longe, muito longe de preferência. Passo adiante o absurdo de se abrir um inquérito com essa pergunta, que melhor seria perguntar «sabe o que é um minarete?», mas adiante.
O súbito interesse pela arquitectura religiosa teve pretexto suíço. No país das vacas, do queijo, do chocolate, dos vales e montanhas verdes e brancas e do segredo bancário, existiam quatro-minaretes-quatro, que não piavam, mas mexiam na paisagem, algo em que obviamente os suíços não tocam para não prejudicar a indústria dos postais. Foi quanto bastou para que o partido da extrema-direita, que já tinha corrido em cartazes com os imigrantes a pontapé, bradasse aos céus e convocasse um referendo. Estes estetas não gostam de pretos, de amarelos ou de tisnados, nem de torres magricelas sem cruzes e campanários. Seria o assunto ridículo se não fosse trágico.
É que, diferentemente de Hitler, esta gente não afirma a superioridade da raça ariana. Não, eles são apenas gente de bem que quer continuar a ser livre e liberal, algo que não se pode esperar dos pretos, dos amarelos e principalmente dos tisnados que erguem minaretes nas suas terras. Se assim é, que os façam por lá e que para lá voltem, que tratem aí do paraíso do obscurantismo, mas que não nos contaminem nem façam filhos nas nossas mulheres.
Não, eles não são racistas, mas estetas e libertários que defendem a paz social e o convívio com a natureza. Não, eles não são arrogantes, apenas querem defender a liberdade das mulheres, ameaçada pela pesada sombra dos quatro minaretes que serão muitos mais se os deixarmos. Não, eles não são fascistas, é um insulto insinuá-lo, porque convocaram um referendo e não um ditador para impor a vontade da maioria. Ou não é a Suíça o mais democrático dos países, aquele onde o povo governa directamente por consulta em vez de delegar as decisões no Parlamento e no Governo? Afinal, somos ou não somos bons, se não os melhores dos melhores?
Não, não são. Os povos não são melhores nem piores, apenas são capazes do melhor e do pior se tiverem a oportunidade. Na Europa do pós 11 de Setembro e na Europa da crise, ela está criada. O referendo suíço é mais um episódio de uma série de tipo B onde os ricos e anafados convocam o voto dos tristes de espírito para erguerem taças às guerras de civilização.
Mas... e então a democracia não é a vontade da maioria? Não, não é. A democracia qualifica-se pelo modo como respeita (não é tolera, não) e protege as minorias e faz das diferenças a riqueza da nação. Um dia, os suíços perceberão que a única coisa boa dos muçulmanos não são as contas bancárias dos que não autorizam igrejas nas areias regadas a petróleo... se entretanto não for tarde demais.
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