A fava e o Dia de Reis
Página 1 de 1
A fava e o Dia de Reis
A fava e o Dia de Reis
Tornou-se tradição no dia 6 de Janeiro, dos Reis Magos ou Epifania, comer bolo-rei.
Estão recordados que, até há 2 ou 3 anos, o bolo-rei ainda tinha dentro um brinde e uma fava. Descobriram um dia que se podiam partir os dentes ao comer uma fatia com estes elementos e foram proibidos. Parece que ninguém pensou na possibilidade de cortar fatias mais finas e detectar os elementos estranhos e assim acabou-se com um hábito divertido.
Queremos hoje falar no significado da fava. A tradição recente, porque o bolo-rei só chegou a Portugal no final do século XIX, dizia que a quem coubesse a fava devia comprar um novo bolo-rei.
Em diversos países, e desde há vários séculos, a pessoa a quem calhava a fava tornava-se num rei por um dia. Um «rei da fava», como também era chamado por brincadeira. No dia de Reis a família sentava-se à volta da mesa para comer e beber. Era o rei quem devia beber primeiro. Quando tal acontecia gritava-se «o rei bebe» e todos os outros bebiam em seguida.
Foi esta festa que Jacob Jordaens (1593-1678) representou nos seus quadros com o título «O rei bebe». Tendo-se especializado em temas religiosos e cenas de banquetes, este pintor menos conhecido da época de Rubens e Van Dyck , deixou-nos 6 versões sobre este tema. Podemos encontrá-las em Bruxelas (Museus Reais de Belas Artes), em Paris (Louvre), em Berlin (Staatliche Gemäldegalerie) e em Munique (Alte Pinakothek), em Viena (Kunsthistorisches Museu) e em S. Petersbourg (Museu Ermitage).
Em todo eles se pode observar a figura do rei, bem disposto e bem bebido, com uma coroa de papelão na cabeça, cujo modelo se crê ser o sogro do pintor, Adam von Noort, de quem foi discípulo.
Jordaens realizou estas pinturas nos anos 30-40 do século XVII. Embora nalguns quadros o rei seja a figura central, como acontece no existente em Bruxelas, na pintura que pertence agora ao Louvre e na de Viena de Áustria o rei encontra-se numa das extremidades da mesa.
O que é comum a todos eles é o ambiente de festa popular, com alegria e exuberância nos modos. Esta tipo de festa, em que pessoas do povo encarnam a realeza, parece ter as suas raízes na Saturnália ou festas de Saturno, festividade romana em que aos escravos era permitido representar o papel dos seus senhores, assistindo-se a uma inversão da ordem social.
Em todos os quadros desta série a bebida está presente e podem ver-se já os seus efeitos. Para o serviço de bebidas eram usados copos de vidro, com pés elaborados, como era costume nos países baixos, pichéis de estanho e jarros de barro vidrado, elementos de luxo a contrastar com o comportamento pouco formal dos representados.
Sobre a mesa podem ver-se iguarias, salientando-se as talassas, já com os seus alvéolos e as “galettes des rois”, as precursoras do bolo-rei, no interior das quais se encontrava a fava.
Pormenor das talassas à esquerda e das galettes à direita, sobre a mesa
Agora que a Comunidade Europeia nos roubou a fava do bolo, e antes que seja esquecida, é bom recordar a sua simbologia e os momentos de alegria que o seu achado desencadeou ao longo dos séculos.
Publicada por Ana Marques Pereira
Tornou-se tradição no dia 6 de Janeiro, dos Reis Magos ou Epifania, comer bolo-rei.
Estão recordados que, até há 2 ou 3 anos, o bolo-rei ainda tinha dentro um brinde e uma fava. Descobriram um dia que se podiam partir os dentes ao comer uma fatia com estes elementos e foram proibidos. Parece que ninguém pensou na possibilidade de cortar fatias mais finas e detectar os elementos estranhos e assim acabou-se com um hábito divertido.
Queremos hoje falar no significado da fava. A tradição recente, porque o bolo-rei só chegou a Portugal no final do século XIX, dizia que a quem coubesse a fava devia comprar um novo bolo-rei.
Em diversos países, e desde há vários séculos, a pessoa a quem calhava a fava tornava-se num rei por um dia. Um «rei da fava», como também era chamado por brincadeira. No dia de Reis a família sentava-se à volta da mesa para comer e beber. Era o rei quem devia beber primeiro. Quando tal acontecia gritava-se «o rei bebe» e todos os outros bebiam em seguida.
Foi esta festa que Jacob Jordaens (1593-1678) representou nos seus quadros com o título «O rei bebe». Tendo-se especializado em temas religiosos e cenas de banquetes, este pintor menos conhecido da época de Rubens e Van Dyck , deixou-nos 6 versões sobre este tema. Podemos encontrá-las em Bruxelas (Museus Reais de Belas Artes), em Paris (Louvre), em Berlin (Staatliche Gemäldegalerie) e em Munique (Alte Pinakothek), em Viena (Kunsthistorisches Museu) e em S. Petersbourg (Museu Ermitage).
Em todo eles se pode observar a figura do rei, bem disposto e bem bebido, com uma coroa de papelão na cabeça, cujo modelo se crê ser o sogro do pintor, Adam von Noort, de quem foi discípulo.
Jordaens realizou estas pinturas nos anos 30-40 do século XVII. Embora nalguns quadros o rei seja a figura central, como acontece no existente em Bruxelas, na pintura que pertence agora ao Louvre e na de Viena de Áustria o rei encontra-se numa das extremidades da mesa.
O que é comum a todos eles é o ambiente de festa popular, com alegria e exuberância nos modos. Esta tipo de festa, em que pessoas do povo encarnam a realeza, parece ter as suas raízes na Saturnália ou festas de Saturno, festividade romana em que aos escravos era permitido representar o papel dos seus senhores, assistindo-se a uma inversão da ordem social.
Em todos os quadros desta série a bebida está presente e podem ver-se já os seus efeitos. Para o serviço de bebidas eram usados copos de vidro, com pés elaborados, como era costume nos países baixos, pichéis de estanho e jarros de barro vidrado, elementos de luxo a contrastar com o comportamento pouco formal dos representados.
Sobre a mesa podem ver-se iguarias, salientando-se as talassas, já com os seus alvéolos e as “galettes des rois”, as precursoras do bolo-rei, no interior das quais se encontrava a fava.
Pormenor das talassas à esquerda e das galettes à direita, sobre a mesa
Agora que a Comunidade Europeia nos roubou a fava do bolo, e antes que seja esquecida, é bom recordar a sua simbologia e os momentos de alegria que o seu achado desencadeou ao longo dos séculos.
Publicada por Ana Marques Pereira
Viriato- Pontos : 16657
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos