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Aquela sensação de 1937...

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Mensagem por Viriato Sex Jan 08, 2010 3:19 am

Aquela sensação de 1937...

por Paul Krugman, Publicado em 06 de Janeiro de 2010

Depois de 1937, os primeiros sinais de retoma levaram a que se tirassem, cedo de mais, as muletas à economia. Actualmente repetem-se os erros cometidos durante a Grande Depressão

Eis o que vem aí em termos de notícias sobre a economia: é possível que o próximo relatório sobre o emprego venha a mostrar a economia com um crescimento do emprego e que o próximo relatório sobre o PIB nos EUA mostre um crescimento sólido, relativamente ao fim de 2009. Haverá muitos comentários optimistas - e os apelos que já se ouvem para acabar com os estímulos e inverter as medidas que o governo e a Reserva Federal (FED) tomaram para escudar a economia vão subir de tom.

Mas se esses apelos forem ouvidos, estaremos a repetir o grande erro de 1937, ano em que a FED e a administração Roosevelt decidiram que a Grande Depressão tinha passado e que era tempo de a economia largar as muletas. A despesa foi reduzida e a política monetária foi restringida. E a economia voltou a mergulhar nas profundezas. Isso não deveria estar a acontecer. Tanto Ben Bernanke, secretário-geral da FED, como Christina Romer, que chefia o grupo de conselheiros económicos de Barack Obama, são estudiosos da Grande Depressão. Romer já avisou que não se devem repetir os passos de 1937. Mas aqueles que se lembram do passado nem por isso deixam de os repetir. Na leitura das notícias económicas há que ter presente, antes de mais nada, que os blips, a ocorrência ocasional de bons resultados econométricos, que nada significam, são habituais mesmo quando a economia está atolada numa crise. No princípio de 2002, os primeiros relatórios mostravam a economia a crescer a uma taxa de 5,8%. Mas a taxa de desemprego continuou a aumentar ainda durante um ano. E, no princípio de 1996, os relatórios mostravam a economia japonesa a crescer a uma taxa anual de mais de 12%, o que levou a proclamações de que "a economia entrou numa fase de recuperação auto-induzida". Mas o Japão estava apenas a meio da sua década perdida.

Esses blips são muitas vezes ilusões estatísticas. Mas são geralmente causados por um "salto de inventário". Quando a economia entra em crise, as empresas vêem-se com grandes stocks por vender. Para escoarem os seus inventários, cortam na produção. Depois do excesso ter sido escoado, voltam a aumentar a produção, o que se reflecte no PIB como um surto de crescimento. Infelizmente, este crescimento é um acontecimento único, que não se repetirá, a não ser que haja recuperação das fontes de procura subjacentes, como a despesa dos consumidores ou investimentos de longo prazo, o que nos traz de volta à triste realidade. Durante os bons anos da década passada, o crescimento foi impulsionado por um boom habitacional e um surto de despesa dos consumidores. Nenhum desses dois factores se vai verificar. E os consumidores não estão em condições de regressar aos hábitos do "comprar agora e poupar depois". E o que mais poderia haver? Um boom nos investimentos empresariais dava muito jeito. Mas é difícil imaginar de onde viria: a indústria está a braços com um excesso de capacidade e as rendas comerciais estão a cair.

Poderão as exportações funcionar como tábua de salvação? Durante um tempo, o défice de transacções comerciais dos EUA, ajudou a compensar a crise económica. Mas o défice está outra vez a aumentar, em parte porque a China e outros países com excedentes não ajustam as suas divisas. Por isso, é provável que quaisquer boas notícias económicas no futuro próximo sejam blips e não um indicador de que estamos a caminho da recuperação sustentada. Será que os decisores vão interpretar erradamente os dados económicos e repetir erros de 1937? Bem, a verdade é que já o estão a fazer.

Prevê-se que o efeito do plano de estímulo fiscal de Obama atinja o seu pico, no PIB e nos empregos, em meados deste ano, para depois se esbater. É demasiado cedo. Porquê retirar apoios perante a continuação do desemprego em massa? O Congresso deveria ter preparado uma segunda rodada de estímulo há meses, quando ficou claro que a crise ia ser profunda e prolongada. Mas nada foi feito - e os bons valores, ilusórios, podem impedir qualquer possibilidade de acção.

A única coisa de que se fala na FED é da necessidade de haver uma "estratégia de saída" relativamente aos esforços feitos para apoiar a economia. Um desses esforços, as compras da dívida pública de longo prazo dos EUA, chegou ao fim. Muitos analistas esperam que outro - a compra de títulos hipotecários - termine em poucos meses. Isto traduz--se num aperto monetário, mesmo que a FED não suba as taxas de juro directamente. E há muitas pressões sobre Bernanke para que ele faça exactamente isso.

Será que a FED se vai aperceber, antes que seja tarde de mais, de que a tarefa de lutar contra a crise ainda não acabou? E o Congresso também? Se não se capacitarem disso, 2010 vai ser um ano que começou com uma falsa esperança económica e acabou em desgraça.

Jornalista

Exclusivo i/The New York Times
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