Geórgia é na Europa
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Geórgia é na Europa
Geórgia é na Europa
O presidente resistiu à primeira investida da forte manipulação russa e pelas notícias destes dias parece ter resistido à segunda.
António Correia de Campos - DE
A Geórgia é um dos mais belos e intrigantes países do mundo. Fino corredor entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, por onde transitaram desde tempos imemoriais as primeiras migrações do Industão e da Ásia Central, habituado a conviver com passantes, visitantes e invasores sem perder a identidade nacional nem o alfabeto próprio. Língua, música e cultura são factores de identidade nacional, cultivados pelas elites (o último chefe da máfia local, ex-herói da guerra de 1993 contra os Abkases-Russos, depois conspirador contra Shevardnaze e mentor do atentado falhado de 1995, era professor de linguística e poeta).
Povo culto, fraterno e hospitaleiro, musicalmente educado, amante do canto polifónico, adora receber. Finos e pacientes negociadores, reconhecidos pela astúcia staliniana, mas completamente ingénuos e irracionais em questões de honra nacional. Uma enorme tradição de tolerância religiosa (em Tbilisi as multi-seculares mesquita, sinagoga e catedral estão a poucos metros umas das outras) contradiz a intolerância sobre a defesa do território estreito, em grande parte montanhoso, alternando entre o inóspito da montanha e o generoso da fértil planície. Trânsito de migrantes, cultivou sempre relações amigáveis com os vizinhos do leste (Azerbeijão) abrindo-lhes o primeiro caminho de ferro, o trás-caucasiano que ligava Baku a Batum (Batumi), passando por Tifilis (Tbilisi). Nos nossos dias, o oleaduto, fonte de todos os seus problemas.
Trabalhei longamente com georgianos, num projecto de saúde do Banco Mundial, chefiando meia-dúzia de missões para a preparação de uma reforma do sistema de saúde. Visitei Kutaisi, Gori, dormi na cama do Czar e mais tarde de Stalinn, numas termas deliciosas, visitei hospitais em pré-derrocada, policlínicas sem doentes, nem medicamentos, nem energia, nem comida, com os espaços envolventes transformados em hortas de sobrevivência, visitei Tshkinvali, prenhe de refugiados ocupando hospitais e escolas, cada família criando o seu porco nos jardins da cidade.
Foi este país de civilização multi-milenar ungido por Bush para exemplo da democratização à sua maneira. Uma revolução doce e quase sem sangue, um advogado jovem, inteligente, formado nos EUA na Universidade de Columbia, defensor dos direitos humanos, casado com uma bela jornalista holandesa, jovens e elegantes pais de uma família quase real. O presidente resistiu à primeira investida da forte manipulação russa e pelas notícias destes dias parece ter resistido à segunda. Parece unânime o reconhecimento de que a sua ingénua guerra para recuperar o controlo da Ossétia do Sul teria sido resposta a provocação montada. Estamos sem saber se contou ou não com promessas reais do seu amigo americano, já que dos europeus sem exército as promessas só podem ser verbais. O que sabemos, ao fim de uma semana de rudes combates, centenas de mortos e milhares de deslocados, é que foi obrigado a aceitar uma paz pouco honrosa, retirando dos territórios que visava recuperar, eriçando de novo os Abkases e condenado a lamber as feridas de bombardeamentos retaliatórios que o vizinho lhe infligiu, até na capital.
Brincou com o fogo, saiu queimado, dirão alguns. Quem o mandou confiar num presidente americano em fim de mandato, dirão outros. Não bastou a invasão do Afeganistão pelos russos, no final do mandato de um Carter enfraquecido pela derrota do resgate dos reféns americanos no Irão? Não era visível que os EUA não iriam nunca gastar mais que palavras, quando têm a ameaça nuclear do Irão, e se revelam incapazes de a conter ou sequer medir?
Todas estas perguntas são legítimas, mesmo que as respostas fiquem adiadas. Visto do lado russo, o conflito fez-lhe ganhar novo fôlego com pequena despesa. Desmontou as ameaças de adesão plena à NATO de alguns espevitados antigos satélites da URSS. Deu uma lição de guerra táctica a todo o mundo, a começar pelos georgianos que tão cedo se não metem noutra. Quanto ao oleoduto, ver-se-á depois. Fez as pazes a pedido da Europa e desistiu, por agora, de apear Saakashvili. A seguir à demonstração de força, a demonstração de tranquilo desejo de paz. Maior vitória não poderia existir.
É perante este cenário que, europeus, passámos a viver. E ainda falta meio ano para um novo presidente nos EUA. Ao menos, lográmos alcançar a paz. Seja.
O presidente resistiu à primeira investida da forte manipulação russa e pelas notícias destes dias parece ter resistido à segunda.
António Correia de Campos - DE
A Geórgia é um dos mais belos e intrigantes países do mundo. Fino corredor entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, por onde transitaram desde tempos imemoriais as primeiras migrações do Industão e da Ásia Central, habituado a conviver com passantes, visitantes e invasores sem perder a identidade nacional nem o alfabeto próprio. Língua, música e cultura são factores de identidade nacional, cultivados pelas elites (o último chefe da máfia local, ex-herói da guerra de 1993 contra os Abkases-Russos, depois conspirador contra Shevardnaze e mentor do atentado falhado de 1995, era professor de linguística e poeta).
Povo culto, fraterno e hospitaleiro, musicalmente educado, amante do canto polifónico, adora receber. Finos e pacientes negociadores, reconhecidos pela astúcia staliniana, mas completamente ingénuos e irracionais em questões de honra nacional. Uma enorme tradição de tolerância religiosa (em Tbilisi as multi-seculares mesquita, sinagoga e catedral estão a poucos metros umas das outras) contradiz a intolerância sobre a defesa do território estreito, em grande parte montanhoso, alternando entre o inóspito da montanha e o generoso da fértil planície. Trânsito de migrantes, cultivou sempre relações amigáveis com os vizinhos do leste (Azerbeijão) abrindo-lhes o primeiro caminho de ferro, o trás-caucasiano que ligava Baku a Batum (Batumi), passando por Tifilis (Tbilisi). Nos nossos dias, o oleaduto, fonte de todos os seus problemas.
Trabalhei longamente com georgianos, num projecto de saúde do Banco Mundial, chefiando meia-dúzia de missões para a preparação de uma reforma do sistema de saúde. Visitei Kutaisi, Gori, dormi na cama do Czar e mais tarde de Stalinn, numas termas deliciosas, visitei hospitais em pré-derrocada, policlínicas sem doentes, nem medicamentos, nem energia, nem comida, com os espaços envolventes transformados em hortas de sobrevivência, visitei Tshkinvali, prenhe de refugiados ocupando hospitais e escolas, cada família criando o seu porco nos jardins da cidade.
Foi este país de civilização multi-milenar ungido por Bush para exemplo da democratização à sua maneira. Uma revolução doce e quase sem sangue, um advogado jovem, inteligente, formado nos EUA na Universidade de Columbia, defensor dos direitos humanos, casado com uma bela jornalista holandesa, jovens e elegantes pais de uma família quase real. O presidente resistiu à primeira investida da forte manipulação russa e pelas notícias destes dias parece ter resistido à segunda. Parece unânime o reconhecimento de que a sua ingénua guerra para recuperar o controlo da Ossétia do Sul teria sido resposta a provocação montada. Estamos sem saber se contou ou não com promessas reais do seu amigo americano, já que dos europeus sem exército as promessas só podem ser verbais. O que sabemos, ao fim de uma semana de rudes combates, centenas de mortos e milhares de deslocados, é que foi obrigado a aceitar uma paz pouco honrosa, retirando dos territórios que visava recuperar, eriçando de novo os Abkases e condenado a lamber as feridas de bombardeamentos retaliatórios que o vizinho lhe infligiu, até na capital.
Brincou com o fogo, saiu queimado, dirão alguns. Quem o mandou confiar num presidente americano em fim de mandato, dirão outros. Não bastou a invasão do Afeganistão pelos russos, no final do mandato de um Carter enfraquecido pela derrota do resgate dos reféns americanos no Irão? Não era visível que os EUA não iriam nunca gastar mais que palavras, quando têm a ameaça nuclear do Irão, e se revelam incapazes de a conter ou sequer medir?
Todas estas perguntas são legítimas, mesmo que as respostas fiquem adiadas. Visto do lado russo, o conflito fez-lhe ganhar novo fôlego com pequena despesa. Desmontou as ameaças de adesão plena à NATO de alguns espevitados antigos satélites da URSS. Deu uma lição de guerra táctica a todo o mundo, a começar pelos georgianos que tão cedo se não metem noutra. Quanto ao oleoduto, ver-se-á depois. Fez as pazes a pedido da Europa e desistiu, por agora, de apear Saakashvili. A seguir à demonstração de força, a demonstração de tranquilo desejo de paz. Maior vitória não poderia existir.
É perante este cenário que, europeus, passámos a viver. E ainda falta meio ano para um novo presidente nos EUA. Ao menos, lográmos alcançar a paz. Seja.
Viriato- Pontos : 16657
Re: Geórgia é na Europa
ESTES INtELECTOS DAS ESQUERDAS eUROPEIAS , SAO UM zero a esquerda!!
RONALDO ALMEIDA- Pontos : 10367
Re: Geórgia é na Europa
Trabalhei longamente com georgianos, num projecto de saúde do Banco Mundial, chefiando meia-dúzia de missões para a preparação de uma reforma do sistema de saúde. Visitei Kutaisi, Gori, dormi na cama do Czar e mais tarde de Stalinn, numas termas deliciosas, visitei hospitais em pré-derrocada, policlínicas sem doentes, nem medicamentos, nem energia, nem comida, com os espaços envolventes transformados em hortas de sobrevivência, visitei Tshkinvali, prenhe de refugiados ocupando hospitais e escolas, cada família criando o seu porco nos jardins da cidade
mano Rui
Eu nao fui la mas vi um filme about Gori e ANEXOS
pORRA AQUILO ERA OU É UM ATRASO DE VIDA ...PELO QUE condiz o que o C campos diz
Vitor mango- Pontos : 118184
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