Tensão entre Israel e Obama marca chegada de Lula a Jerusalém

Tensão entre Israel e Obama marca chegada de Lula a Jerusalém



Brasileiro será recebido nesta segunda-feira por premier israelense que
enfrenta crise sobre assentamentos


14/03/10 às 16:48


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Netanyahu determinou que fosse aberta uma investigação sobre o anúncio
da construção de novos assentamentos em territórios palestinos (foto:
Reprodução)






O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanhyahu, receberá nesta
segunda-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cabeça
voltada para a crise com os Estados Unidos e a sobrevivência do
prematuro diálogo de seu país com a Autoridade Palestina, que seria
mediado por Washington. Neste domingo, Netanyahu determinou que fosse
aberta uma investigação sobre o anúncio da construção de novos
assentamentos em territórios palestinos feito na visita ao país do
vice-presidente americano, Joe Biden, na semana passada.

A
reação do governo de Barack Obama incendiou as relações bilaterais e
pôs em riscos as alianças que sustentam o gabinete de Netahyahu. Apesar
de pedir a investigação o primeiro-ministro não mandou parar com os
assentamentos.

"Eu sugiro não exagerar a situação e acalmar os
ânimos. Aqui, houve um incidente, que se deu inocentemente", afirmou
Netanyahu hoje, durante a reunião semanal do gabinete, depois de
referir-se ao episódio como um "incidente lamentável", "doloroso" e
"que não deveria ter acontecido".

O anúncio da construção de
1.600 casas na área palestina de Jerusalém e da expansão de um
assentamento israelense na Cisjordânia deu-se justamente no momento em
que Biden costurava o início das negociações entre Israel e a
Autoridade Palestina. Divulgada pelo ministro do Interior, Eli Yshai, a
medida corroeu a confiança da Autoridade Palestina e dos vizinhos
árabes no processo de paz e provocou advertências de vários países,
como o Brasil. Mas, politicamente, a reação mais grave foi a condenação
dos EUA.

Insulto - Na última sexta-feira, a secretária de
Estado, Hillary Clinton, classificou o anúncio como um "insulto" ao
vice-presidente americano e responsabilizou Netanyahu pelo ato. Essa
reação teve um especial significado, em função da vinculação política
de Hillary Clinton com a comunidade judaica de Nova York e da
tradicional aliança entre os EUA e Israel. No sábado, ambos conversaram
por telefone por 45 minutos. A líderes europeus com quem também tratou
do assunto nos últimos dois dias, Netanyahu explicou o "incidente
constrangedor", admitiu ter pedido desculpas a Joe Bieden e insistiu
que não sabia do anúncio.

Segundo o jornal israelense Haaretz, a
reação americana deixou Netanyahu em uma sinuca de bico. O
primeiro-ministro terá de escolher entre reagir aos EUA e colocar em
risco a aliança com Washington, que protege Israel de um eventual
ataque do Irã, ou sofrer uma dispersão dos partidos de direita que
apoiam seu gabinete, como o Yisrael Beiteinu e o Shas. Até ontem, não
estava clara a sua escolha.

Prisão - No front palestino,
Netanyahu tem mais incêndios a apagar. Em nenhum momento ele determinou
a suspensão do plano de construção de novas casas para israelenses em
territórios palestinos - atitude que tenderá a bloquear a negociação de
paz - que, a rigor, nem começou. Nesse sentido, a única intervenção
positiva do presidente Lula seria uma forte pressão sobre Netanyahu
para que os assentamentos não sejam ampliados, como sinal de
compromisso de Israel com o processo de paz. Nesse caso, entretanto,
Lula estaria se envolvendo em uma questão interna de um país soberano -
iniciativa da qual se afasta, em alguns casos.

O início da
negociação foi complicado também pela prisão de um dos líderes do
agrupamento terrorista islâmico Hamas, que domina politicamente o
território de Gaza. Em uma operação militar em Ramallah, cidade da
Cisjordânia que sedia a Autoridade Palestina, forças israelenses
prenderam Maher Udda, acusado por ataques terroristas que provocaram a
morte de cerca de 70 israelenses. A reação do Hamas, que se opõe à
negociação de paz com Israel, mostrou-se oportunista.

De acordo
com a Agência France Press, a prisão foi qualificada pelo Hamas como o
"fruto de uma perigosa coordenação na área de segurança entre a
Autoridade Palestina e o governo israelense". "A continuação dessa ação
coordenada vai enterrar a reconciliação porque está no contexto da
eliminação do Hamas e do fortalecimento do Fatah", afirmou o porta-voz
do grupo islâmico, Fawzi Barhum, ao referir-se ao partido político que
sustenta a Autoridade Palestina.