Quem disse não haver africanos brancos?
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Quem disse não haver africanos brancos?
Quem disse não haver africanos brancos?
por LEONÍDIO PAULO FERREIRA
Poucos terão chorado Eugene Terre'Blanche, de certeza muitos menos do que aqueles que se assustaram com a sua morte, imaginando-a um convite manchado de sangue aos brancos para deixarem a África do Sul. Nostálgico do apartheid que fazia dos negros cidadãos de segunda, era um bóer, no duplo sentido de fazendeiro e de descendente dos calvinistas holandeses (misturados com huguenotes franceses) que no século XVII se fixaram no cabo da Boa Esperança. Terá sido morto por dois negros a quem recusou o salário, mas não surpreenderia se tivesse sido assassinado por liderar um partido cujo símbolo relembra a suástica.
Antigo prisioneiro do apartheid, tal como Nelson Mandela, o Presidente Jacob Zuma lamentou já a morte. E esforçou-se por apaziguar a minoria branca, cinco milhões de pessoas num país de 50 milhões. Não lhe sai tão natural como a Mandela a defesa da nação arco-íris, mas sabe tão bem como o seu antecessor que a alma do seu país precisa dos sul-africanos brancos, sejam eles de língua africânder ou inglesa.
Terre'Blanche era já a excepção, não a regra, entre os brancos. J. M. Coetzee, Nobel sul-africano, coloca numa personagem de Verão este pensamento: "Devo dizer-lhe como estou grata por aquilo que você e o seu colega estão a fazer por uma velha branca e pela filha, duas estranhas que nunca fizeram nada por vocês mas pelo contrário participaram, dias e dias a fio, na vossa humilhação na terra onde nasceram." Margot pensa na enfermeira e no motorista da ambulância , ambos negros.
O racismo na África do Sul tem também o seu lado negro. Há dias, um juiz teve de proibir o líder da juventude do ANC, o partido de Mandela e Zuma, de entoar Matem o Bóer, um refrão dos tempos da resistência hoje claramente incendiário. Apesar de só 2% dos casos de fazendeiros brancos assassinados terem contornos racistas, suspeita-se que entre as 3000 mortes haverá mais vinganças do que as autoridades admitem. E a verdade é que um milhão de brancos partiu desde 1994. Gente qualificada que fazia mais falta que o mundial de futebol como acelerador económico da grande potência africana.
A história dos brancos na África a sul do Sara está manchada pelo colonialismo. E os traumas são mais graves quando houve guerras ou regimes supremacistas. Mas como um milhão de portugueses sabe por experiência própria, que ninguém diga que não se pode ser africano e branco. O próprio Terre'Blanche podia ser uma figura detestável, mas era um africano. Teria pelo menos uma dezena de gerações de antepasssados nascidas no continente. Como africanos são também Coetzee ou François Pienard (o capitão da equipa de râguebi que aparece no filme Invictus). E na África que fala português, um branco chegou a ser ministro da Agricultura na Guiné, outro foi ministro das Finanças em Angola, uma branca é viúva de Agostinho Neto e outros dois são grandes escritores moçambicanos. Ao contrário de Terre'Blanche, todos aceitam que as cores se podem misturar.
por LEONÍDIO PAULO FERREIRA
Poucos terão chorado Eugene Terre'Blanche, de certeza muitos menos do que aqueles que se assustaram com a sua morte, imaginando-a um convite manchado de sangue aos brancos para deixarem a África do Sul. Nostálgico do apartheid que fazia dos negros cidadãos de segunda, era um bóer, no duplo sentido de fazendeiro e de descendente dos calvinistas holandeses (misturados com huguenotes franceses) que no século XVII se fixaram no cabo da Boa Esperança. Terá sido morto por dois negros a quem recusou o salário, mas não surpreenderia se tivesse sido assassinado por liderar um partido cujo símbolo relembra a suástica.
Antigo prisioneiro do apartheid, tal como Nelson Mandela, o Presidente Jacob Zuma lamentou já a morte. E esforçou-se por apaziguar a minoria branca, cinco milhões de pessoas num país de 50 milhões. Não lhe sai tão natural como a Mandela a defesa da nação arco-íris, mas sabe tão bem como o seu antecessor que a alma do seu país precisa dos sul-africanos brancos, sejam eles de língua africânder ou inglesa.
Terre'Blanche era já a excepção, não a regra, entre os brancos. J. M. Coetzee, Nobel sul-africano, coloca numa personagem de Verão este pensamento: "Devo dizer-lhe como estou grata por aquilo que você e o seu colega estão a fazer por uma velha branca e pela filha, duas estranhas que nunca fizeram nada por vocês mas pelo contrário participaram, dias e dias a fio, na vossa humilhação na terra onde nasceram." Margot pensa na enfermeira e no motorista da ambulância , ambos negros.
O racismo na África do Sul tem também o seu lado negro. Há dias, um juiz teve de proibir o líder da juventude do ANC, o partido de Mandela e Zuma, de entoar Matem o Bóer, um refrão dos tempos da resistência hoje claramente incendiário. Apesar de só 2% dos casos de fazendeiros brancos assassinados terem contornos racistas, suspeita-se que entre as 3000 mortes haverá mais vinganças do que as autoridades admitem. E a verdade é que um milhão de brancos partiu desde 1994. Gente qualificada que fazia mais falta que o mundial de futebol como acelerador económico da grande potência africana.
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