Uma questão de decência
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Uma questão de decência
Uma questão de decência
por BAPTISTA-BASTOS
Por interposto cronista do Público tomei conhecimento de que o director de um semanário (por mim há anos não frequentado) tinha revelado, publicamente, a conversa telefónica mantida com um alto dirigente político. Os tolejos do tal director (director, enfim…) tornaram-se maçadores por persistentes; eu cria, no entanto, que o sentido da medida e as regras da arte manteriam o predomínio sobre a abjecção. Enganara-me.
O período intervalar no qual nos encontramos não pode legitimar esta identificação com a leviandade, que tem humilhado um sistema de valores e transformado a dignidade do jornalismo num conceito anacrónico, a eliminar. A confidência pressuposta naquela conversa, de natureza particular, exige o princípio fundamental do sigilo. Se, na vida social, esse requisito constitui a marca d'água da boa educação, em jornalismo faz parte do código de honra.
Não me interessa discutir o carácter, ou a falta dele, do tal director. A sua mediocridade é conhecida, e os escassos recursos profissionais que se lhe atribuem libertam-no de imputação. Mas o facto em si, pelo que envolve de violenta ruptura da responsabilidade individual do jornalista com a subjacente responsabilidade colectiva, obriga a uma análise mais cuidadosa. O exercício da imprensa implica uma cultura da discrição e do recato, como reafirmação das suas características específicas, as quais sempre se identificaram com a comunidade de destinos e com a referência (mais procurada do que alcançada) à "independência" e à "imparcialidade". Claro que tomo estas noções apoiando-me em todas as precauções devidas.
A quem serve a divulgação daquela conversa telefónica?, porque a alguém, pela positiva ou pela negativa, vai certamente servir. Mais: a violência (de poder, de domínio) contida na difusão do diálogo beneficia quê, que estratégia, que objectivos, que finalidades? Jornalísticos não o serão, certamente. As novas verdades que nos propõem, diariamente, ainda não são suficientemente verdadeiras para que as aceitemos de ânimo leve, nem o tal director é intelectualmente importante ou pessoalmente acreditável para que o tomemos a sério. É aí que está o busílis.
Pode haver vacuidade na violência, quando a violência se exprime por explosão de vaidade, por insegurança, por fragilidade de temperamento. Aquilo a que chamamos "pôr-se nos bicos dos pés" é, neste caso, de mais razoável aplicação. Porém, não deixa de ser uma indignidade, uma ausência absoluta de princípios - e, pior, um insulto a todos os que fizeram da imprensa portuguesa, mesmo nos tempos mais tenebrosos, um motivo de orgulho e de honra.
por BAPTISTA-BASTOS
Por interposto cronista do Público tomei conhecimento de que o director de um semanário (por mim há anos não frequentado) tinha revelado, publicamente, a conversa telefónica mantida com um alto dirigente político. Os tolejos do tal director (director, enfim…) tornaram-se maçadores por persistentes; eu cria, no entanto, que o sentido da medida e as regras da arte manteriam o predomínio sobre a abjecção. Enganara-me.
O período intervalar no qual nos encontramos não pode legitimar esta identificação com a leviandade, que tem humilhado um sistema de valores e transformado a dignidade do jornalismo num conceito anacrónico, a eliminar. A confidência pressuposta naquela conversa, de natureza particular, exige o princípio fundamental do sigilo. Se, na vida social, esse requisito constitui a marca d'água da boa educação, em jornalismo faz parte do código de honra.
Não me interessa discutir o carácter, ou a falta dele, do tal director. A sua mediocridade é conhecida, e os escassos recursos profissionais que se lhe atribuem libertam-no de imputação. Mas o facto em si, pelo que envolve de violenta ruptura da responsabilidade individual do jornalista com a subjacente responsabilidade colectiva, obriga a uma análise mais cuidadosa. O exercício da imprensa implica uma cultura da discrição e do recato, como reafirmação das suas características específicas, as quais sempre se identificaram com a comunidade de destinos e com a referência (mais procurada do que alcançada) à "independência" e à "imparcialidade". Claro que tomo estas noções apoiando-me em todas as precauções devidas.
A quem serve a divulgação daquela conversa telefónica?, porque a alguém, pela positiva ou pela negativa, vai certamente servir. Mais: a violência (de poder, de domínio) contida na difusão do diálogo beneficia quê, que estratégia, que objectivos, que finalidades? Jornalísticos não o serão, certamente. As novas verdades que nos propõem, diariamente, ainda não são suficientemente verdadeiras para que as aceitemos de ânimo leve, nem o tal director é intelectualmente importante ou pessoalmente acreditável para que o tomemos a sério. É aí que está o busílis.
Pode haver vacuidade na violência, quando a violência se exprime por explosão de vaidade, por insegurança, por fragilidade de temperamento. Aquilo a que chamamos "pôr-se nos bicos dos pés" é, neste caso, de mais razoável aplicação. Porém, não deixa de ser uma indignidade, uma ausência absoluta de princípios - e, pior, um insulto a todos os que fizeram da imprensa portuguesa, mesmo nos tempos mais tenebrosos, um motivo de orgulho e de honra.
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