Bandeiras ao alto

Bandeiras ao alto

por MARIA DE LURDES VALE

A última vez que vi bandeiras portuguesas em Madrid - à excepção da que existe na Embaixada - foi durante a apresentação do Cristiano Ronaldo no Santiago de Bernabéu e no recente jogo de rugby entre a selecção nacional e a espanhola, que ganhamos com grande superioridade. De resto - e como podem testemunhar (e lamentar) todos os portugueses (16 mil) que vivem na capital do país vizinho -, a maioria dos castelhanos, especialmente os castelhanos, pouco ou nada conhecem de Portugal. Podíamos ter a nossa bandeira içada num centro cultural, como tantos outros países o fazem, ou num espaço dedicado ao turismo nacional. Mas não. Não há! Talvez também fizesse sentido numa grande livraria e porque não num bom restaurante ou numa boa loja de produtos portugueses. Como nenhum destes existe, não há pau e muito menos bandeira. Logo, não há Portugal.

Contentamo-nos tristemente a passar pela casa de pasto do senhor António, emigrante há mais de 30 anos, que, ali para os lados do Museu Rainha Sofia, exibe na fachada um bacalhau e uma caravela para ilustrar o nome Os Lusitanos e a ouvir, de vez em quando, alguns elogios ao restaurante Trás-os-Montes que, nos arredores de Madrid, faz jus à forma como se cozinha o fiel amigo. Se não forem os jogadores de futebol mais uma louvável iniciativa que dá pelo nome de Mostra Portuguesa, que todos os anos decorre na primeira quinzena de Novembro (o que é pouco), a presença do nosso país no umbigo de Espanha resume-se a zero. Os "tugas" que por aqui estudam e trabalham sabem bem o que sofrem para conseguir ver um joguinho da Liga nacional. E ler um jornal português só mesmo na Internet.

Talvez, por isso, não seja de estranhar que o agitar das bandeiras espanholas na portuguesa Valença, por causa do encerramento das urgências de um posto de saúde, esteja a provocar uma aprazível agitação nos media madrilenos. Estes, fartos de polémicas nacionalistas com catalães e bascos, que exibem amiúde os seus próprios estandartes independentistas e rejeitam a roja y amarilla, aplaudem com grande entusiasmo que alguém na nação vizinha - talvez parte dos 27 por cento de uma sondagem publicada em tempos pelo semanário Sol - queira agradecer alguma coisinha a Espanha ou até fazer parte do Reino.

A cooperação entre dois Estados ou regiões em qualquer área é benéfica, mas tem de passar pelo dar e receber. Portugal deve afirmar-se muito mais em relação a Espanha para não estar constantemente a perder pontos por falta de comparência nem a sujeitar-se a interpretações jocosas. Já chega de sermos vistos como um povo de coitadinhos!

talvez parte dos 27 por cento de uma sondagem publicada em tempos pelo semanário Sol - queira agradecer alguma coisinha a Espanha ou até fazer parte do Reino.

Talvez.... mas não deve esquecer a manta de retalhos que o tal Reino é, com cada qual a puxar a brasa à sua independência. Isto, sem falar na situação de crise, em tudo semelhante à nossa ou pior, que nujestros hermanos vivem...