Reflexões na véspera da Cimeira da UE sobre o conflito russo-georgiano
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Reflexões na véspera da Cimeira da UE sobre o conflito russo-georgiano
Reflexões na véspera da Cimeira da UE sobre o conflito russo-georgiano José Milhazes, correspondente da SIC em Moscovo Não alimento grandes expectivas a respeito dos resultados da Cimeira da União Europeia sobre a Rússia, que se irá realizar na segunda-feira, porque há todas as razões para pensar assim.
José MilhazesCorrespondente da SIC em Moscovo
opinião@sic.pt
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A UE está profundamente dividida nas medidas a tomar. Se a Velha Europa não quer levantar a espada das sanções, os países da Nova Europa (antigos satélites da União Soviética) , apoiados pelos Estados Unidos, estão dispostos a “dar uma lição à Rússia”.
Uma nota a este propósito. Talvez porque sejam mais dinâmicos e desenrascados (o socialismo a isso obrigava), os cidadãos dos países da Nova Europa rapidamente ocuparam cargos importantes não só na UE, mas também noutras organizações europeias como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Parlamento Europeu, etc.
Nada tenho contra a entrada de sangue novo na Europa, pelo contrário, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de, no campo das relações com a Rússia, esses cidadãos, muitas das vezes, não tomam decisões com a razão, mas com o coração. Isto é extremamente perigoso, porque muitos deles se regem pelo ódio cego em relação aos russos (sentimento igualmente existente entre os russos em relação a eles). Ora, o ódio não é bom conselheiro.
Tive a oportunidade de assistir a esse duelo durante a revolução laranja de 2004 na Ucrânia, quando este país se tornou num palco de combate (felizmente, dessa vez, as armas ficaram caladas) entre o Ocidente e a Rússia.)
Seria bom que, desta vez, o bom senso e a frieza vençam entre os membros da UE e não enveredam pela via das sanções económicas, o que contistuiria um erro diplomático grave.
Penso que Bruxelas também não se decidirá pelas sanções, porque as economias europeias se encontram em crise e a maioria dos europeus não parecem muito dispostos a sacrificar o seu bem-estar.
Além disso, o receio de que Moscovo possa recorrer ao corte dos fornecimentos de gás e petróleo à Europa “gela” o poder de decisão de alguns dirigentes europeus.
O facto de no interior da UE existirem fortes divergências forte à proclamação unilateral da independência do Kosovo irá dificultar seriamente a tomada de uma posição una e coerente face ao reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abkházia pela Rússia.
Não obstante a UE tem de elaborar posições claras e firmes face ao conflito entre a Geórgia e a Rússia.
Bem ou mal, mas foi a UE, na pessoa do Presidente francês Nicolas Sarkozy, que conseguiu um acordo de cessar de fogo com Moscovo.
(Ainda não entendi porque é que Durão Barroso ou Javier Solana não apareceram, talvez tivessem achado por bem não interromper as férias. Afinal, não se trata uma guerra nuclear, mas de um conflito no Cáucaso).
Mas chega de ironia.
Além disso, Bruxelas tem que deixar um sinal claro que de que a UE depende tanto da Rússia, como esta esta depende da UE. A economia russa baseia-se e sobrevive quase exclusivamente à exportação de hidrocarbonetos. Por isso, se não os vender à Europa, não terá muitas alternativas.
Podem dizer-me que a China comprará tudo, mas não é bem assim. Além de não existirem ainda gaso- e oleodutos para transportar rapida e rentavelmente o petróleo até território chinês, o Império do Meio passará a necessitar de muito menos petróleo para a sua indústria se as economias da União Europeia e dos Estados Unidos se aprofundarem numa grave crise.
A Rússia importa da Europa grande parte do que consome, nomeadamente produtos de luxo. (Como irá viver a élite russa sem os luxos ocidentais?) Isto é tanto mais verdade se se tiver em conta uma frase de um incógnito oligarca russo: “Putin quer governar como Estaline, mas viver como Abramovitch”).
Excusado será dizer que Bruxelas tem de finalmente passar aos actos na procura de alternativas aos hidrocarbonetos russos, não só através da construção de novos tubos, mas também no investimento em energias alternativas.
Numa entrevista à televisão alemã ARD, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, declarou: “se os países europeus continuarem a realizar assim a sua política, então teremos de conversar com Washington sobre os assuntos europeus”.
É impossível não dar razão ao primeiro-ministro russo quando fala da fraqueza da Europa, mas também não posso deixar de assinalar que Vladimir Putin tenta, desse modo, ressuscitar um dos objectivos da política externa soviética: separar a Europa dos Estados Unidos.
José MilhazesCorrespondente da SIC em Moscovo
opinião@sic.pt
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A UE está profundamente dividida nas medidas a tomar. Se a Velha Europa não quer levantar a espada das sanções, os países da Nova Europa (antigos satélites da União Soviética) , apoiados pelos Estados Unidos, estão dispostos a “dar uma lição à Rússia”.
Uma nota a este propósito. Talvez porque sejam mais dinâmicos e desenrascados (o socialismo a isso obrigava), os cidadãos dos países da Nova Europa rapidamente ocuparam cargos importantes não só na UE, mas também noutras organizações europeias como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Parlamento Europeu, etc.
Nada tenho contra a entrada de sangue novo na Europa, pelo contrário, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de, no campo das relações com a Rússia, esses cidadãos, muitas das vezes, não tomam decisões com a razão, mas com o coração. Isto é extremamente perigoso, porque muitos deles se regem pelo ódio cego em relação aos russos (sentimento igualmente existente entre os russos em relação a eles). Ora, o ódio não é bom conselheiro.
Tive a oportunidade de assistir a esse duelo durante a revolução laranja de 2004 na Ucrânia, quando este país se tornou num palco de combate (felizmente, dessa vez, as armas ficaram caladas) entre o Ocidente e a Rússia.)
Seria bom que, desta vez, o bom senso e a frieza vençam entre os membros da UE e não enveredam pela via das sanções económicas, o que contistuiria um erro diplomático grave.
Penso que Bruxelas também não se decidirá pelas sanções, porque as economias europeias se encontram em crise e a maioria dos europeus não parecem muito dispostos a sacrificar o seu bem-estar.
Além disso, o receio de que Moscovo possa recorrer ao corte dos fornecimentos de gás e petróleo à Europa “gela” o poder de decisão de alguns dirigentes europeus.
O facto de no interior da UE existirem fortes divergências forte à proclamação unilateral da independência do Kosovo irá dificultar seriamente a tomada de uma posição una e coerente face ao reconhecimento da Ossétia do Sul e da Abkházia pela Rússia.
Não obstante a UE tem de elaborar posições claras e firmes face ao conflito entre a Geórgia e a Rússia.
Bem ou mal, mas foi a UE, na pessoa do Presidente francês Nicolas Sarkozy, que conseguiu um acordo de cessar de fogo com Moscovo.
(Ainda não entendi porque é que Durão Barroso ou Javier Solana não apareceram, talvez tivessem achado por bem não interromper as férias. Afinal, não se trata uma guerra nuclear, mas de um conflito no Cáucaso).
Mas chega de ironia.
Além disso, Bruxelas tem que deixar um sinal claro que de que a UE depende tanto da Rússia, como esta esta depende da UE. A economia russa baseia-se e sobrevive quase exclusivamente à exportação de hidrocarbonetos. Por isso, se não os vender à Europa, não terá muitas alternativas.
Podem dizer-me que a China comprará tudo, mas não é bem assim. Além de não existirem ainda gaso- e oleodutos para transportar rapida e rentavelmente o petróleo até território chinês, o Império do Meio passará a necessitar de muito menos petróleo para a sua indústria se as economias da União Europeia e dos Estados Unidos se aprofundarem numa grave crise.
A Rússia importa da Europa grande parte do que consome, nomeadamente produtos de luxo. (Como irá viver a élite russa sem os luxos ocidentais?) Isto é tanto mais verdade se se tiver em conta uma frase de um incógnito oligarca russo: “Putin quer governar como Estaline, mas viver como Abramovitch”).
Excusado será dizer que Bruxelas tem de finalmente passar aos actos na procura de alternativas aos hidrocarbonetos russos, não só através da construção de novos tubos, mas também no investimento em energias alternativas.
Numa entrevista à televisão alemã ARD, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, declarou: “se os países europeus continuarem a realizar assim a sua política, então teremos de conversar com Washington sobre os assuntos europeus”.
É impossível não dar razão ao primeiro-ministro russo quando fala da fraqueza da Europa, mas também não posso deixar de assinalar que Vladimir Putin tenta, desse modo, ressuscitar um dos objectivos da política externa soviética: separar a Europa dos Estados Unidos.
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