Os deputados polícias
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Os deputados polícias
Os deputados polícias
por Pedro Adão e Silva
Dois meses passados, Rui Pedro Soares vestiu finalmente o papel de Oliver North que lhe estava destinado: pediu desculpa ao primeiro-ministro e alegou ter invocado o seu nome em vão. Depois calou-se. O PS, que dias antes tinha criticado um "jornalista" por se escudar no sigilo profissional, condescendeu. O episódio foi apenas mais um sinal de que o Parlamento se está a transformar e, pelo caminho, a degradar. Quando chegarem ao fim os trabalhos da comissão de inquérito ao "negócio" PT/TVI não estaremos mais próximos da verdade e o Parlamento sairá ainda mais fragilizado. Bem tem avisado Mota Amaral que os deputados não estão num tribunal e que os interrogatórios intermináveis são uma coisa de outro tempo. Os avisos caem em saco roto. Os deputados polícias vieram para ficar e com eles as investigações parajudiciais, sem meios, sem formação, sem possibilidade de defesa, tudo servido em directo online. Onde antes havia actividade legislativa e se fiscalizava a acção do governo, agora temos o milagre da multiplicação das CPI e a verdade apurada na confrontação entre notícias de jornais. Se da justiça devemos esperar uma atitude cega à partida e convicções formadas com prova, nas CPI temos exactamente o contrário: convicções formadas desde o início que depois pescam provas à linha. Este é um daqueles casos que sabemos como começam, mas temo que também saibamos como acabam: numa imparável judicialização da vida política. Imagino que os senhores deputados se sintam muito confortáveis nas suas novas vestes policiais. É bom que se habituem. Doravante será assim.
por Pedro Adão e Silva
Dois meses passados, Rui Pedro Soares vestiu finalmente o papel de Oliver North que lhe estava destinado: pediu desculpa ao primeiro-ministro e alegou ter invocado o seu nome em vão. Depois calou-se. O PS, que dias antes tinha criticado um "jornalista" por se escudar no sigilo profissional, condescendeu. O episódio foi apenas mais um sinal de que o Parlamento se está a transformar e, pelo caminho, a degradar. Quando chegarem ao fim os trabalhos da comissão de inquérito ao "negócio" PT/TVI não estaremos mais próximos da verdade e o Parlamento sairá ainda mais fragilizado. Bem tem avisado Mota Amaral que os deputados não estão num tribunal e que os interrogatórios intermináveis são uma coisa de outro tempo. Os avisos caem em saco roto. Os deputados polícias vieram para ficar e com eles as investigações parajudiciais, sem meios, sem formação, sem possibilidade de defesa, tudo servido em directo online. Onde antes havia actividade legislativa e se fiscalizava a acção do governo, agora temos o milagre da multiplicação das CPI e a verdade apurada na confrontação entre notícias de jornais. Se da justiça devemos esperar uma atitude cega à partida e convicções formadas com prova, nas CPI temos exactamente o contrário: convicções formadas desde o início que depois pescam provas à linha. Este é um daqueles casos que sabemos como começam, mas temo que também saibamos como acabam: numa imparável judicialização da vida política. Imagino que os senhores deputados se sintam muito confortáveis nas suas novas vestes policiais. É bom que se habituem. Doravante será assim.
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