O procurador especial a olhar para o umbigo
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O procurador especial a olhar para o umbigo
O procurador especial a olhar para o umbigo
Na crónica do passado sábado no Público, lido ontem aqui, Pacheco Pereira clama por um reforço da capacidade de escrutínio da governação pelo Parlamento. O ex-estratega da Marmeleira acha que estamos a assistir a um mundo novo, no qual o Parlamento descobre que, mais do que legislar, lhe compete fiscalizar a acção do Governo.
Neste seu despertar, Pacheco parece achar que tudo isto se deve à acção justicialista protagonizada pelo PSD nos últimos tempos. Engana-se. A deslocação das funções nobres do Parlamento da legislativa para a fiscalizadora há muito que tem sido estudada e verificada. Cristina Leston-Bandeira dedica-lhe, inclusivamente, uma tese de doutoramento (publicada em português já lá vão uns oito anos).
Mais, a última reforma do Parlamento, em 2007, durante a maioria absoluta socialista, consagrou um reforço sem precedentes dos mecanismos de fiscalização do Executivo, citando-se, a título meramente exemplificativo, os seguintes:
• O aumento para o dobro do número de debates com o primeiro-ministro (alternando um modelo anteriormente existente em que o debate é iniciado pelo chefe do Executivo, com um outro, em que este se sujeita a uma sessão de perguntas colocadas pela oposição);
• Passou a haver idas obrigatórias — e calendarizadas — de membros do Governo à Assembleia;
• Permitiu-se um aumento muito significativo dos direitos potestativos dos partidos da oposição, como, por exemplo, obrigar à vinda de um ministro à Assembleia ou o direito à fixação da ordem do dia por parte dos grupos parlamentares.
Antes da reforma, estes eram direitos sujeitos à aprovação da maioria. Deixaram de o ser, facilitando, evidentemente, a possibilidade dos grupos minoritários poderem accionar estes mecanismos; os requerimentos e perguntas ao Governo passaram a ter um prazo de 20 dias para serem respondidos. Entre tantos outros exemplos, poder-se-ia ainda referir a introdução da regra da publicidade de todos os trabalhos das comissões.
Para além do reforço dos poderes de fiscalização, a reforma do Parlamento de 2007 também introduziu uma série de medidas de agilização do funcionamento do plenário (no qual o tempo dos debates e de discussão das leis foi consideravelmente diminuído, em prol da vivacidade da discussão) e de valorização do papel das comissões, que passou pelo reforço da sua intervenção no processo legislativo, ou pelo alargamento do elenco de entidades cuja audição prévia dos candidatos a titulares passa a ser obrigatória (como os candidatos a juízes do Tribunal Constitucional).
É verdade que o ex-estratega da Marmeleira tem algumas razões de queixa. Efectivamente, a reforma de 2007 não consagrou o parlamento policial que tanto faz sonhar Pacheco (um parlamento de comissões de inquérito, “a actividade que tem mais impacto na opinião pública e que mais interesse suscita aos portugueses”) e contra o qual Pedro Adão e Silva alertava recentemente. Não, essa verdadeira big-brotherização da vida política (como João Lopes diria) não foi, de facto, consumada. Felizmente.
posted by Miguel Abrantes
Na crónica do passado sábado no Público, lido ontem aqui, Pacheco Pereira clama por um reforço da capacidade de escrutínio da governação pelo Parlamento. O ex-estratega da Marmeleira acha que estamos a assistir a um mundo novo, no qual o Parlamento descobre que, mais do que legislar, lhe compete fiscalizar a acção do Governo.
Neste seu despertar, Pacheco parece achar que tudo isto se deve à acção justicialista protagonizada pelo PSD nos últimos tempos. Engana-se. A deslocação das funções nobres do Parlamento da legislativa para a fiscalizadora há muito que tem sido estudada e verificada. Cristina Leston-Bandeira dedica-lhe, inclusivamente, uma tese de doutoramento (publicada em português já lá vão uns oito anos).
Mais, a última reforma do Parlamento, em 2007, durante a maioria absoluta socialista, consagrou um reforço sem precedentes dos mecanismos de fiscalização do Executivo, citando-se, a título meramente exemplificativo, os seguintes:
• O aumento para o dobro do número de debates com o primeiro-ministro (alternando um modelo anteriormente existente em que o debate é iniciado pelo chefe do Executivo, com um outro, em que este se sujeita a uma sessão de perguntas colocadas pela oposição);
• Passou a haver idas obrigatórias — e calendarizadas — de membros do Governo à Assembleia;
• Permitiu-se um aumento muito significativo dos direitos potestativos dos partidos da oposição, como, por exemplo, obrigar à vinda de um ministro à Assembleia ou o direito à fixação da ordem do dia por parte dos grupos parlamentares.
Antes da reforma, estes eram direitos sujeitos à aprovação da maioria. Deixaram de o ser, facilitando, evidentemente, a possibilidade dos grupos minoritários poderem accionar estes mecanismos; os requerimentos e perguntas ao Governo passaram a ter um prazo de 20 dias para serem respondidos. Entre tantos outros exemplos, poder-se-ia ainda referir a introdução da regra da publicidade de todos os trabalhos das comissões.
Para além do reforço dos poderes de fiscalização, a reforma do Parlamento de 2007 também introduziu uma série de medidas de agilização do funcionamento do plenário (no qual o tempo dos debates e de discussão das leis foi consideravelmente diminuído, em prol da vivacidade da discussão) e de valorização do papel das comissões, que passou pelo reforço da sua intervenção no processo legislativo, ou pelo alargamento do elenco de entidades cuja audição prévia dos candidatos a titulares passa a ser obrigatória (como os candidatos a juízes do Tribunal Constitucional).
É verdade que o ex-estratega da Marmeleira tem algumas razões de queixa. Efectivamente, a reforma de 2007 não consagrou o parlamento policial que tanto faz sonhar Pacheco (um parlamento de comissões de inquérito, “a actividade que tem mais impacto na opinião pública e que mais interesse suscita aos portugueses”) e contra o qual Pedro Adão e Silva alertava recentemente. Não, essa verdadeira big-brotherização da vida política (como João Lopes diria) não foi, de facto, consumada. Felizmente.
posted by Miguel Abrantes
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