O extremismo que passou a ser notado
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O extremismo que passou a ser notado
O extremismo que passou a ser notado
por Paul Krugman, Publicado em 21 de Maio de 2010
| Actualizado há 22
horas
Não é de esperar que
nos próximos tempos os extremistas percam o domínio que alcançaram
sobre o Partido Republicano, mas isso não é, na realidade, uma mudança
na natureza do partido
Os republicanos do Utah negaram a Robert Bennett, um senador muito
conservador já no terceiro mandato, um lugar nas listas por não ser
suficientemente conservador. No Maine, os activistas do partido
aprovaram um programa que preconiza, entre outras coisas, a abolição da
Reserva Federal e do departamento da Educação. E está a tornar-se cada
vez mais evidente que o verdadeiro poder do Partido Republicano reside
nos excêntricos apresentadores dos talk shows.
Os meios
noticiosos já repararam nisso. Subitamente, a tomada do Partido
Republicano por extremistas da direita tornou-se notícia (embora muitos
repórteres pareçam apostados em fazer de conta que o mesmo se deu no
Democrata; não é verdade). Mas porque está isso a acontecer? E,
sobretudo, porquê agora? A resposta certa, claro, é que se trata de uma
reacção às políticas "socialistas" do presidente Barack Obama - como o
plano de reforma de saúde que... hum, bem, é mais ou menos igual ao
plano de Mitt Romney em vigor no Massachusetts. Muita gente da esquerda
afirma que a verdadeira razão é racial, o choque de ter um preto na Casa
Branca. E há com certeza um fundo de verdade nisso.
Mas eu
gostaria de adiantar duas hipóteses alternativas. A primeira é que o
extremismo republicano sempre existiu e que o que mudou foi a
predisposição dos meios de comunicação para o reconhecer. A segunda, na
medida em que o poder dos extremistas do partido esteja mesmo a
aumentar, é a economia. Quanto à primeira hipótese, sempre que leio
peças feitas por jornalistas que se declaram chocados com a loucura dos
republicanos do Maine, pergunto a mim próprio onde terão andado nos
últimos oito ciclos eleitorais. Porque a verdade é que a direita dura
domina há muitos anos o Partido Republicano. Aliás, o novo programa
eleitoral do Maine é capaz até de ser um pouco menos radical que o do
Texas de 2000, que não só apelava à eliminação da Reserva Federal, mas
também ao regresso ao padrão-ouro, que não pretendia apenas dar cabo do
Departamento da Educação, mas também da Agência de Protecção do
Ambiente, e muito mais.
Todavia, fosse por que razão fosse, o
radicalismo dos republicanos texanos não foi notícia em 2000, um ano de
eleições em que George W. Bush, do Texas, que haveria de se tornar
presidente pouco depois, foi descrito como moderado.
Senão,
analisemos os tais apresentadores de talk shows. Rush Limbaugh não
mudou: a sua recente sugestão de que a catástrofe ecológica do golfo do
México pode ter sido causada por terroristas do ambiente não é pior que
as suas repetidas insinuações de que Hillary Clinton pode ter estado
envolvida num assassínio. O que mudou foi a respeitabilidade dele: as
cadeias noticiosas já não estão tão prontas a desvalorizar o extremismo
de Limbaugh como estavam em 2002, quando o crítico de meios de
comunicação do "The Washington Post" insistia que quem tinha "perdido um
parafuso" eram os críticos do apresentador radiofónico, que ele era um
sensato "conservador da corrente principal" que falava "sobretudo de
medidas políticas".
Então porque se deu esta inflexão nos meios
noticiosos? Talvez tenha sido mera deferência pelo poder: enquanto se
achava que os EUA estavam a caminho de uma maioria republicana
permanente, poucas pessoas estavam dispostas a chamar o extremismo de
direita pelo nome. Talvez tenha sido preciso a chegada de um democrata à
Casa Branca para dar a alguns observadores a coragem de dizerem o
óbvio.
Em boa verdade, não será apenas um caso de percepção. O
extremismo de direita poderá ser o mesmo de sempre, mas tem claramente
mais apoiantes do que há um par de anos. Porquê? Em grande parte pode
ter que ver com o estado da economia.
É verdade que as coisas não
se deviam ter passado assim. Quando a economia entrou em crise, muitos
observadores, entre os quais me conto, esperavam uma viragem política à
esquerda. No fim de contas, a crise invalidou o dogma da direita de que o
mercado tem sempre razão e de que a regulamentação é sempre uma coisa
má. No entanto, em retrospectiva, foi uma expectativa ingénua: os
eleitores tendem a reagir por instinto e não com base em argumentos
analíticos. E, em tempos adversos, a reacção instintiva de muitos
eleitores é virar à direita.
É essa a mensagem de um trabalho
recente dos economistas Markus Bruckner e Hans Peter Gruner, que
descobriram uma espantosa correlação entre desempenho económico e
extremismo político nos países desenvolvidos: tanto na América como na
Europa, os períodos de fraco crescimento económico tendem a estar
associados a um aumento da votação dos partidos de direita e
nacionalistas. Daí que o aumento do movimento de protesto Tea Party seja
exactamente o que seria de esperar na sequência da crise económica.
Sendo
assim, para onde caminha o nosso sistema político? A curto prazo, muito
dependerá da recuperação económica. Se a economia continuar a criar
emprego, podemos esperar que o movimento Tea Party perca alento. Mas não
é de esperar que nos tempos mais próximos os extremistas percam o
domínio que alcançaram sobre o Partido Republicano. Aquilo que vemos no
Utah e no Maine não é, na realidade, uma mudança na natureza do partido:
há muito tempo que ele é dominado por extremistas. A única diferença é
que agora, finalmente, o resto do país reparou nisso.
Economista
Nobel 2008
Exclusivo i/The New York Times
http://www.ionline.pt/conteudo/60944-o-extremismo-que-passou-ser-notado
por Paul Krugman, Publicado em 21 de Maio de 2010
| Actualizado há 22
horas
Não é de esperar que
nos próximos tempos os extremistas percam o domínio que alcançaram
sobre o Partido Republicano, mas isso não é, na realidade, uma mudança
na natureza do partido
-
Robert Bennet (esq.) não é ?suficientemente? conservado
conservador já no terceiro mandato, um lugar nas listas por não ser
suficientemente conservador. No Maine, os activistas do partido
aprovaram um programa que preconiza, entre outras coisas, a abolição da
Reserva Federal e do departamento da Educação. E está a tornar-se cada
vez mais evidente que o verdadeiro poder do Partido Republicano reside
nos excêntricos apresentadores dos talk shows.
Os meios
noticiosos já repararam nisso. Subitamente, a tomada do Partido
Republicano por extremistas da direita tornou-se notícia (embora muitos
repórteres pareçam apostados em fazer de conta que o mesmo se deu no
Democrata; não é verdade). Mas porque está isso a acontecer? E,
sobretudo, porquê agora? A resposta certa, claro, é que se trata de uma
reacção às políticas "socialistas" do presidente Barack Obama - como o
plano de reforma de saúde que... hum, bem, é mais ou menos igual ao
plano de Mitt Romney em vigor no Massachusetts. Muita gente da esquerda
afirma que a verdadeira razão é racial, o choque de ter um preto na Casa
Branca. E há com certeza um fundo de verdade nisso.
Mas eu
gostaria de adiantar duas hipóteses alternativas. A primeira é que o
extremismo republicano sempre existiu e que o que mudou foi a
predisposição dos meios de comunicação para o reconhecer. A segunda, na
medida em que o poder dos extremistas do partido esteja mesmo a
aumentar, é a economia. Quanto à primeira hipótese, sempre que leio
peças feitas por jornalistas que se declaram chocados com a loucura dos
republicanos do Maine, pergunto a mim próprio onde terão andado nos
últimos oito ciclos eleitorais. Porque a verdade é que a direita dura
domina há muitos anos o Partido Republicano. Aliás, o novo programa
eleitoral do Maine é capaz até de ser um pouco menos radical que o do
Texas de 2000, que não só apelava à eliminação da Reserva Federal, mas
também ao regresso ao padrão-ouro, que não pretendia apenas dar cabo do
Departamento da Educação, mas também da Agência de Protecção do
Ambiente, e muito mais.
Todavia, fosse por que razão fosse, o
radicalismo dos republicanos texanos não foi notícia em 2000, um ano de
eleições em que George W. Bush, do Texas, que haveria de se tornar
presidente pouco depois, foi descrito como moderado.
Senão,
analisemos os tais apresentadores de talk shows. Rush Limbaugh não
mudou: a sua recente sugestão de que a catástrofe ecológica do golfo do
México pode ter sido causada por terroristas do ambiente não é pior que
as suas repetidas insinuações de que Hillary Clinton pode ter estado
envolvida num assassínio. O que mudou foi a respeitabilidade dele: as
cadeias noticiosas já não estão tão prontas a desvalorizar o extremismo
de Limbaugh como estavam em 2002, quando o crítico de meios de
comunicação do "The Washington Post" insistia que quem tinha "perdido um
parafuso" eram os críticos do apresentador radiofónico, que ele era um
sensato "conservador da corrente principal" que falava "sobretudo de
medidas políticas".
Então porque se deu esta inflexão nos meios
noticiosos? Talvez tenha sido mera deferência pelo poder: enquanto se
achava que os EUA estavam a caminho de uma maioria republicana
permanente, poucas pessoas estavam dispostas a chamar o extremismo de
direita pelo nome. Talvez tenha sido preciso a chegada de um democrata à
Casa Branca para dar a alguns observadores a coragem de dizerem o
óbvio.
Em boa verdade, não será apenas um caso de percepção. O
extremismo de direita poderá ser o mesmo de sempre, mas tem claramente
mais apoiantes do que há um par de anos. Porquê? Em grande parte pode
ter que ver com o estado da economia.
É verdade que as coisas não
se deviam ter passado assim. Quando a economia entrou em crise, muitos
observadores, entre os quais me conto, esperavam uma viragem política à
esquerda. No fim de contas, a crise invalidou o dogma da direita de que o
mercado tem sempre razão e de que a regulamentação é sempre uma coisa
má. No entanto, em retrospectiva, foi uma expectativa ingénua: os
eleitores tendem a reagir por instinto e não com base em argumentos
analíticos. E, em tempos adversos, a reacção instintiva de muitos
eleitores é virar à direita.
É essa a mensagem de um trabalho
recente dos economistas Markus Bruckner e Hans Peter Gruner, que
descobriram uma espantosa correlação entre desempenho económico e
extremismo político nos países desenvolvidos: tanto na América como na
Europa, os períodos de fraco crescimento económico tendem a estar
associados a um aumento da votação dos partidos de direita e
nacionalistas. Daí que o aumento do movimento de protesto Tea Party seja
exactamente o que seria de esperar na sequência da crise económica.
Sendo
assim, para onde caminha o nosso sistema político? A curto prazo, muito
dependerá da recuperação económica. Se a economia continuar a criar
emprego, podemos esperar que o movimento Tea Party perca alento. Mas não
é de esperar que nos tempos mais próximos os extremistas percam o
domínio que alcançaram sobre o Partido Republicano. Aquilo que vemos no
Utah e no Maine não é, na realidade, uma mudança na natureza do partido:
há muito tempo que ele é dominado por extremistas. A única diferença é
que agora, finalmente, o resto do país reparou nisso.
Economista
Nobel 2008
Exclusivo i/The New York Times
http://www.ionline.pt/conteudo/60944-o-extremismo-que-passou-ser-notado
TheNightTrain- Pontos : 1089
Re: O extremismo que passou a ser notado
Enquanto houver judeus decentes e não só, vai haver um PRETO na casa branca.
Este Rush Limbaugh é o farol do Há Luz No Túnel!!!
Esquerda vs Direita
Progresso vs Tradição
Este Rush Limbaugh é o farol do Há Luz No Túnel!!!
Esquerda vs Direita
Progresso vs Tradição
TheNightTrain- Pontos : 1089
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