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Mensagem por Vitor mango Qui Set 04, 2008 2:10 pm


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Pior que o Kosovo
Pouco depois do fim da União Soviética e das independências que dele resultaram, incluindo a da Ucrânia, perguntei a Hélène Carrère d'Encausse, historiadora da região, se para os russos Kiev era tão importante como o Kosovo para os sérvios. O nome de solteira dela é Zourabishvili, teve também antepassados em outros cantos do Império dos Czares e, sob o repúdio liminar do regime comunista, guarda afecto indefectível pela Mãe Rússia. Pousou os talheres e respondeu com emoção. "Muitíssimo mais. S. Vladimiro baptizou os russos em Kiev!" Se uma filha de emigrados cosmopolitas da boa sociedade francesa podia nessa altura sentir as coisas assim, é preocupante imaginar como as sentirá agora um polícia secreto de carreira, de origem modesta e provinciana.

No começo dos anos 90 dir-se-ia que a visão europeia "sui generis" de um mundo sem guerra se tinha apossado do Kremlin. Para sobressalto geopolítico de muitos patriotas, Ieltsin dissera a Lech Walesa não ter objecções a que a Polónia entrasse na NATO; Gaidar, seu primeiro-ministro, metera a economia a uma dieta de Hayek que disparou fortunas fáceis e empobreceu a população. O Ocidente tratava os russos por cima da burra e estes sentiam-se humilhados. Esses anos da transição aqueceram em banho-maria a ressaca dos russos; a subida de preço do gás e do petróleo deu-lhes desplante; e no reconhecimento da independência do Kosovo (a que se tinham oposto com argumentos que agora invalidaram) julgaram encontrar conforto jurídico para a desastrosa invasão da Geórgia - tão desastrosa que quase fez esquecer a provocação de Saakashvili ao atacar primeiro a Ossétia do Sul, mas tão grave que, se europeus e norte-americanos não lhe derem resposta rápida e exemplar, a agressividade da Rússia no Cáucaso e na Europa Oriental crescerá levando a arrelias ao pé das quais as atribulações da Geórgia farão lembrar um piquenique. Ao contrário da China, que conhece os limites da sua soberania tão bem e há tanto tempo que construiu a Grande Muralha, a Rússia só sabe onde acaba quando lhe dizem: deste risco não passas.

Na Geórgia passou o risco e a Ocidente as reacções estão a endurecer. No dia 1 de Setembro, uma cimeira da União Europeia poderá fazer a vida menos fácil a Moscovo. Mesmo a Alemanha, que costuma procurar mais do que os outros maneiras de se entender com a Rússia, desta vez foi clara: a chancelerina Merkel disse que a existência de um novo acordo entre a UE e a Rússia (de que a Rússia precisa mais do que a União) dependerá do comportamento da Rússia. Outras sanções estão a ser consideradas. A NATO e os americanos mandam barcos para o Mar Negro, mostrando que estes existem e incomodando Moscovo.

Mesmo que a Rússia passe a respeitar o acordo de paz negociado por Sarkozy, as coisas levarão muito tempo a ir ao sítio na Geórgia e, entretanto, é preciso apoiar a Ucrânia. A independência desta e a sua liberdade de adesão quer à NATO quer à União Europeia são elementos cruciais da segurança ocidental.

José Cutileiro
8:00 | Segunda-feira, 1 de Set de 2008, 144 visitas
Vitor mango
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