Regresso ao bom passado
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Regresso ao bom passado
Regresso ao bom passado
Helenagarrido@negocios.pt
A Revolução de 1974 trouxe até Portugal a ilusão de direitos sociais à borla, a desregulamentação da banca acrescentou a ilusão do consumo sem factura. Lamentavelmente todas as facturas estão a chegar ao mesmo tempo. O blogue...
A Revolução de 1974 trouxe até Portugal a ilusão de direitos sociais à borla, a desregulamentação da banca acrescentou a ilusão do consumo sem factura. Lamentavelmente todas as facturas estão a chegar ao mesmo tempo.
O blogue "14 bankers" recorda a observação básica que gerou o negócio bancário: a procura de liquidez ex-ante é superior à procura de liquidez ex-post. Ou, dito de outra maneira, os valores depositados são sempre superiores levantados.
Para ganhar bom dinheiro, as aplicações desses fundos depositados pelos clientes são menos liquidas, têm maturidades mais longas e o seu risco é mais elevado que o das responsabilidades. Tudo isto são princípios recordados pelo blogue. Levando ao limite o gene criador de negócio bancário percebemos bem como foi possível chegar onde chegámos em 2007 com o efeito dominó que ainda hoje estamos a sofrer.
A desregulamentação sucessiva do sector bancário, o crescente distanciamento entre o banqueiro e depositante de sociedades altamente urbanizadas e a ilusão criada pela sofisticação financeira de que todos os bancos poderiam ter eternamente mais aplicações do que depósitos criou a mistura explosiva em que vivemos.
As vítimas do excesso de liberdade dado aos bancos foram primeiro os aforradores e depois os devedores. Portugal está no segundo grupo e, embora simplisticamente, pode dizer-se que é apanhado pela segunda onda da crise exactamente por causa disso.
Sim, é verdade que a banca portuguesa não tinha os produtos tóxicos que envenenaram e até mataram algumas instituições financeiras norte-americanas. Mas tinha e tem um veneno menos mortal, mas não menos perigoso que é estar demasiado endividada, que é depender mais da boa vontade do chamado "mercado", essa entidade que designa grandes investidores sem rosto nem afecto que aplicam obviamente o seu dinheiro onde ele mais se reproduz em dinheiro sem risco.
Hoje a banca portuguesa gostaria de voltar a ter os clientes poupadinhos de que Portugal era feito há quase duas décadas. Mas tal como os bancos norte-americanos criaram aos homens e mulheres sem eira nem beira a ilusão de que podiam ter uma casinha com jardim, também a banca em Portugal, e em muitas outras partes da Europa, criou a muitas famílias a ilusão de que podiam ter tudo pagando a prestações que se perdiam no horizonte.
Cada um dos bancos criou também a ilusão de que podia emprestar mais do que tinha em depósitos. O que é verdade se forem alguns a fazê-lo, mas que se transforma numa impossibilidade se todos os bancos do sistema emprestarem mais do que têm em depósitos. O problema que viveu o sistema financeiro no hemisfério Norte do mundo ocidental foi exactamente o de chegarem à zona de impossibilidade, ao ponto em que já não era possível cada um deles emprestar mais do que tinha em depósitos porque já todos o estavam a fazer usando até as técnicas próximas da magia de aplicar dinheiro uns nos outros.
Foi a banca que criou um batalhão de potenciais incumpridores. Hoje tem de fazer renascer a vontade de poupar, mesmo sem ferramentas para o fazer. É o regresso ao bom passado, sem a ilusão do almoço grátis.
Helenagarrido@negocios.pt
A Revolução de 1974 trouxe até Portugal a ilusão de direitos sociais à borla, a desregulamentação da banca acrescentou a ilusão do consumo sem factura. Lamentavelmente todas as facturas estão a chegar ao mesmo tempo. O blogue...
A Revolução de 1974 trouxe até Portugal a ilusão de direitos sociais à borla, a desregulamentação da banca acrescentou a ilusão do consumo sem factura. Lamentavelmente todas as facturas estão a chegar ao mesmo tempo.
O blogue "14 bankers" recorda a observação básica que gerou o negócio bancário: a procura de liquidez ex-ante é superior à procura de liquidez ex-post. Ou, dito de outra maneira, os valores depositados são sempre superiores levantados.
Para ganhar bom dinheiro, as aplicações desses fundos depositados pelos clientes são menos liquidas, têm maturidades mais longas e o seu risco é mais elevado que o das responsabilidades. Tudo isto são princípios recordados pelo blogue. Levando ao limite o gene criador de negócio bancário percebemos bem como foi possível chegar onde chegámos em 2007 com o efeito dominó que ainda hoje estamos a sofrer.
A desregulamentação sucessiva do sector bancário, o crescente distanciamento entre o banqueiro e depositante de sociedades altamente urbanizadas e a ilusão criada pela sofisticação financeira de que todos os bancos poderiam ter eternamente mais aplicações do que depósitos criou a mistura explosiva em que vivemos.
As vítimas do excesso de liberdade dado aos bancos foram primeiro os aforradores e depois os devedores. Portugal está no segundo grupo e, embora simplisticamente, pode dizer-se que é apanhado pela segunda onda da crise exactamente por causa disso.
Sim, é verdade que a banca portuguesa não tinha os produtos tóxicos que envenenaram e até mataram algumas instituições financeiras norte-americanas. Mas tinha e tem um veneno menos mortal, mas não menos perigoso que é estar demasiado endividada, que é depender mais da boa vontade do chamado "mercado", essa entidade que designa grandes investidores sem rosto nem afecto que aplicam obviamente o seu dinheiro onde ele mais se reproduz em dinheiro sem risco.
Hoje a banca portuguesa gostaria de voltar a ter os clientes poupadinhos de que Portugal era feito há quase duas décadas. Mas tal como os bancos norte-americanos criaram aos homens e mulheres sem eira nem beira a ilusão de que podiam ter uma casinha com jardim, também a banca em Portugal, e em muitas outras partes da Europa, criou a muitas famílias a ilusão de que podiam ter tudo pagando a prestações que se perdiam no horizonte.
Cada um dos bancos criou também a ilusão de que podia emprestar mais do que tinha em depósitos. O que é verdade se forem alguns a fazê-lo, mas que se transforma numa impossibilidade se todos os bancos do sistema emprestarem mais do que têm em depósitos. O problema que viveu o sistema financeiro no hemisfério Norte do mundo ocidental foi exactamente o de chegarem à zona de impossibilidade, ao ponto em que já não era possível cada um deles emprestar mais do que tinha em depósitos porque já todos o estavam a fazer usando até as técnicas próximas da magia de aplicar dinheiro uns nos outros.
Foi a banca que criou um batalhão de potenciais incumpridores. Hoje tem de fazer renascer a vontade de poupar, mesmo sem ferramentas para o fazer. É o regresso ao bom passado, sem a ilusão do almoço grátis.
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