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A inteligência humana diante dos mistérios da fé

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A inteligência humana diante dos mistérios da fé Empty A inteligência humana diante dos mistérios da fé

Mensagem por Vitor mango Qui Jul 01, 2010 4:53 am

A inteligência humana diante dos mistérios da fé

"É racional ter fé em Deus que se revela e no testemunho dos Apóstolos", afirmou o Santo Padre na audiência geral de quarta-feira 23 de Junho na Sala Paulo vi, falando pela terceira vez a respeito da Summa Theologiae de São Tomás de Aquino.

Estimados irmãos e irmãs
Hoje gostaria de completar, com uma terceira parte, as minhas catequeses sobre São Tomás de Aquino. Até a mais de setecentos anos de distância da sua morte, podemos aprender muito dele. Recordava-o inclusive o meu Predecessor, o Papa Paulo vi que, num discurso pronunciado em Fossanova no dia 14 Setembro de 1974, por ocasião do sétimo centenário da morte de São Tomás, se interrogava: "Mestre Tomás, que lição nos pode dar?". E respondia com estas palavras: "A confiança na verdade do pensamento religioso católico, como foi por ele defendido, exposto e aberto à capacidade cognoscitiva da mente humana" (Insegnamenti di Paolo vi, xii [1974], págs. 833-834). E, nesse mesmo dia, em Aquino, referindo-se ainda a São Tomás, ele afirmava: "Todos nós que somos filhos da Igreja podemos e devemos, pelo menos em certa medida, ser seus discípulos!" (Ibid., pág. 836).
Por conseguinte, coloquemo-nos também nós na escola de São Tomás e da sua obra-prima, a Summa Theologiae. Ela permaneceu incompleta, e todavia é uma obra monumental: contém 512 questões e 2.669 artigos. Trata-se de um raciocínio cerrado, em que a aplicação da inteligência humana aos mistérios da fé procede com clareza e profundidade, enlaçando perguntas e respostas, nas quais São Tomás aprofunda o ensinamento que deriva da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, principalmente de Santo Agostinho. Nesta reflexão, no encontro com verdadeiras interrogações do seu tempo, que são muitas vezes também as nossas, São Tomás, utilizando inclusive o método e o pensamento dos filósofos antigos, de modo particular de Aristóteles, chega desta maneira a formulações exactas, lúcidas e pertinentes das verdades de fé, onde a verdade é um dom da fé, resplandece e torna-se acessível para nós, para a nossa reflexão. No entanto, este esforço da mente humana recorda o Aquinate, com a sua própria vida é sempre iluminado pela oração, pela luz que procede do Alto. Só quem vive com Deus e com os mistérios pode compreender também o que eles dizem.
Na Summa Theologiae, São Tomás começa a partir do facto que há três diversos modos do ser e da essência de Deus: Deus existe em si mesmo, é o princípio e o fim de todas as coisas, pelo que todas as criaturas procedem e dependem dele; em seguida, Deus está presente através da sua Graça na vida e na actividade do cristão, dos santos; por fim, Deus está presente de maneira totalmente especial na Pessoa de Cristo, aqui unido realmente com o homem Jesus, e activo nos Sacramentos, que brotam da sua obra redentora. Por este motivo, a estrutura desta obra monumental (cf. Jean-Pierre Torrell, La "Summa" di San Tommaso, Milão 2003, págs. 29-75), uma busca com um "olhar teológico" da plenitude de Deus (cf. Summa Theologiae, i a, q. i, a. 7), subdivide-se em três partes e é explicada pelo próprio Doctor Communis São Tomás com as seguintes palavras: "A finalidade principal da sagrada doutrina consiste em fazer com que Deus seja conhecido, e não só em si mesmo, mas também como é princípio e fim das coisas, de maneira especial da criatura racional. Com a intenção de expor esta doutrina, nós falaremos em primeiro lugar sobre Deus; em segundo, sobre o movimento da criatura para Deus; e em terceiro lugar sobre Cristo que, enquanto homem, é para nós o caminho para ascender até Deus" (Ibid., i, q. 2). Trata-se de um círculo: Deus em si mesmo, que sai de si próprio e nos toma pela mão, de tal maneira que assim, com Cristo, voltemos para Deus, permaneçamos unidos a Deus, e Deus será tudo em todos.
Por conseguinte, a primeira parte da Summa Theologiae indaga a propósito de Deus em si mesmo, sobre o mistério da Trindade e acerca da actividade criadora de Deus. Nesta parte encontramos também uma profunda reflexão sobre a realidade autêntica do ser humano enquanto derivado das mãos criadoras de Deus, fruto do seu amor. Por um lado, somos seres criados, dependentes, não derivamos de nós mesmos; mas por outro, gozamos de uma verdadeira autonomia, de tal forma que não somos só aparência como dizem alguns filósofos platónicos mas uma realidade desejada por Deus como tal, e com um valor em si mesma.
Na segunda parte, São Tomás considera o homem, impelido pela Graça, na sua aspiração a conhecer e a amar Deus para ser feliz no tempo e na eternidade. Em primeiro lugar, o Autor apresenta os princípios teológicos do agir moral, estudando como, na livre escolha do homem de realizar actos bons, se integram a razão, a vontade e as paixões, às quais se acrescenta a força que confere a Graça de Deus através das virtudes e das dádivas do Espírito Santo, como também a ajuda que é oferecida inclusive pela lei moral. Portanto, o ser humano é um ser dinâmico que se põe em busca de si mesmo, procura tornar-se ele mesmo e, neste sentido, tenta realizar actos que o edificam, que o tornam verdadeiramente homem; e aqui entra a lei moral, entram a Graça e a própria razão, a vontade e as paixões. Sobre este fundamento, São Tomás delineia a fisionomia do homem que vive em conformidade com o Espírito e que, deste modo, se torna um ícone de Deus. Aqui, o Aquinate detém-se para estudar as três virtudes teologais fé, esperança e caridade seguidas pelo exame perspicaz de mais de cinquenta virtudes morais, organizadas em volta das quatro virtudes cardeais a prudência, a justiça, a temperança e a fortaleza. Em seguida, termina com a reflexão a respeito das diversas vocações existentes na Igreja.
Na terceira parte da Summa Theologiae, São Tomás estuda o Mistério de Cristo o caminho e a verdade por meio do qual nós podemos unir-nos a Deus Pai. Nesta secção, ele escreve páginas praticamente insuperadas a propósito do Mistério da Encarnação e da Paixão de Jesus, acrescentando depois um vasto estudo sobre os sete Sacramentos, porque neles o Verbo divino encarnado dilata os benefícios da Encarnação para a nossa salvação, em vista do nosso caminho de fé rumo a Deus e à vida eterna, permanece materialmente quase presente com as realidades da criação, tocando-nos deste modo no nosso íntimo.
Falando sobre os Sacramentos, São Tomás reflecte de modo particular sobre o Mistério da Eucaristia, pelo qual alimentou uma enorme devoção, a tal ponto que, segundo os antigos biógrafos, costumava aproximar a sua cabeça do Tabernáculo, como que para sentir palpitar o Coração divino e humano de Jesus. Numa das suas obras de comentário à Escritura, São Tomás ajuda-nos a compreender a excelência do Sacramento da Eucaristia, quando escreve: "Dado que a Eucaristia é o Sacramento da Paixão de nosso Senhor, contém em si mesma Jesus Cristo que padeceu por nós. Portanto, tudo aquilo que é efeito da Paixão de nosso Senhor, é também efeito deste Sacramento, uma vez que ele não é outra coisa senão a aplicação em nós da Paixão do Senhor" (In Ioannem, c. 6, lect. 6, n. 963). Assim compreendemos bem por que motivo São Tomás e outros santos celebraram a Santa Missa vertendo lágrimas de compaixão pelo Senhor, que se oferece em sacrifício por nós, lágrimas de alegria e de gratidão.
Prezados irmãos e irmãs, na escola dos santos, apaixonemo-nos por este Sacramento! Participemos na Santa Missa com recolhimento, para alcançar os seus frutos espirituais, nutramo-nos do Corpo e do Sangue de Senhor, para sermos incessantemente alimentados pela Graça divina! Permaneçamos de bom grado e frequentemente, tu a tu, em companhia do Santíssimo Sacramento!
Aquilo que São Tomás explicou com rigor científico nas suas obras teológicas principais, como precisamente a Summa Theologiae e também a Summa contra Gentiles, foi exposto inclusive na sua pregação, dirigida aos estudantes e aos fiéis. Em 1273, um ano antes da sua morte, durante a Quaresma inteira, ele fez pregações na igreja de São Domingos Maior, em Nápoles. O conteúdo destes sermões foi recolhido e conservado: trata-se dos Opúsculos em que ele explica o Símbolo dos Apóstolos, interpreta a oração do Pai-Nosso, ilustra o Decálogo e comenta a Ave-Maria. O conteúdo da pregação do Doctor Angelicus corresponde quase inteiramente à estrutura do Catecismo da Igreja Católica. Com efeito, na catequese e na pregação, numa época como a nossa, de renovado compromisso em benefício da evangelização, nunca deveriam faltar estes argumentos fundamentais: aquilo em que cremos, eis o Símbolo da fé; aquilo que nós oramos, eis o Pai-Nosso e a Ave-Maria; e aquilo que nós vivemos, como nos ensina a Revelação bíblica, eis a lei do amor a Deus e ao próximo, e dos Dez Mandamentos, como explicação deste mandato do amor.
Gostaria de propor alguns exemplos do conteúdo, simples, essencial e convincente, do ensinamento de São Tomás. No seu Opúsculo sobre o Símbolo dos Apóstolos, ele explica o valor da fé. Por meio dela, diz, a alma une-se a Deus e brota como que um rebento de vida eterna; a vida recebe uma orientação certa e nós superamos agilmente as tentações. Àqueles que objectam que a fé é uma estultice, porque faz acreditar em algo que não faz parte da experiência dos sentidos, São Tomás oferece uma resposta muito elaborada, e recorda que se trata de uma dúvida inconsistente, porque a inteligência humana é limitada e não pode conhecer tudo. Só se pudéssemos conhecer perfeitamente todas as coisas visíveis e invisíveis, então seria uma autêntica estultice aceitas verdades por pura fé. De resto, é impossível viver, observa São Tomás, sem confiar na experiência dos outros, aonde o conhecimento pessoal não chega. Por conseguinte, é racional ter fé em Deus que se revela e no testemunho dos Apóstolos: eles eram poucos, simples e pobres, amargurados por causa da Crucifixão do seu Mestre; e no entanto, muitas pessoas sábias, nobres e ricas se converteram em pouco tempo à escuta da sua pregação. Com efeito, trata-se de um fenómeno historicamente prodigioso, ao qual é difícil poder dar outra resposta racional, a não ser a do encontro dos Apóstolos com o Senhor Ressuscitado.
Comentando o artigo do Símbolo sobre a Encarnação do Verbo divino, São Tomás faz algumas considerações. Afirma que a fé cristã, tendo em conta a mistério da Encarnação, é revigorada; a esperança eleva-se com maior confiança, ao pensamento de que o Filho de Deus veio entre nós, como um de nós, para comunicar aos homens a sua própria divindade; a caridade é reavivada, porque não existe sinal mais evidente do amor de Deus por nós, do que ver o Criador do universo fazer-se Ele mesmo uma criatura, um de nós. Finalmente, considerando o mistério da Encarnação de Deus, sentimos inflamar-se o nosso desejo de alcançar Cristo na glória. Recorrendo a uma comparação simples e eficaz, São Tomás observa: "Se o irmão de um rei estivesse distante, certamente desejaria poder viver ao lado dele. Pois bem, Cristo é nosso irmão: por conseguinte, temos que desejar a sua companhia, tornando-nos um só coração com Ele" (Opuscoli teologico-spirituali, Roma 1976, pág. 64).
Apresentando a oração do Pai-Nosso, São Tomás mostra que ela é em si mesma perfeita, pois possui as cinco características que uma oração bem recitada deveria possuir: abandono confiante e tranquilo: conveniência do seu conteúdo, porque observa São Tomás "é assaz difícil saber precisamente o que é oportuno pedir e o que não o é, a partir do momento que nos sentimos em dificuldade diante da selecção dos desejos" (Ibid., pág. 120); e além disso, ordem apropriada dos pedidos, fervor de caridade e sinceridade da humildade.
Como todos os santos, também São Tomás foi um grande devoto de Nossa Senhora. Ele definiu-a com um apelativo maravilhoso: Triclinium totius Trinitatis, triclínio, ou seja, lugar onde a Trindade encontra o seu descanso porque, em virtude da Encarnação, em nenhuma criatura como nela as três Pessoas divinas habitam e sentem a delícia e a alegria por viver na sua alma cheia de Graça. Pela sua intercessão, nós podemos obter todo o auxílio.
Com uma oração, que tradicionalmente é atribuída a São Tomás e que, de qualquer maneira, reflecte os elementos da sua profunda devoção mariana, digamos nós também: "Ó bem-aventurada e doce Virgem Maria, Mãe de Deus... confio ao teu Coração misericordioso toda a minha vida... Obtém-me, ó minha doce Senhora, verdadeira caridade, com a qual eu possa amar de todo o coração o teu santíssimo Filho e a Ti, depois dele, acima de todas as coisas, e o próximo em Deus e por Deus".

No final da audiência de quarta-feira 23 de Junho, depois de ter anunciado que dedicará a próxima catequese a São José Cafasso, o Sumo Pontífice saudou os grupos de fiéis presentes na Sala Paulo VI, pronunciando em português estas palavras.

Amados peregrinos de língua portuguesa, que viestes junto do túmulo de São Pedro renovar a vossa profissão de fé eclesial, reconhecendo e adorando o Deus Uno e Trino, que vos escolheu para seu Povo Santo. Para todos vós, particularmente para o grupo brasileiro de Piracicaba, a minha saudação agradecida, com votos de abundantes dons de graça e paz divina, que imploro para vós e vossos queridos com a minha Bênção Apostólica.


(©L'Osservatore Romano
- 26 de Junho de 2010)
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Mensagem por Vitor mango Qui Jul 01, 2010 4:53 am

inda nali mas gostei muitoooooo
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