O medo mata
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O medo mata
O medo mata
A estratégia dos accionistas de referência da PT Telecom, no caso VIVO, foi, afinal, bem prosaica. Tudo tem um preço: o que era preto passa a branco com mais uns milhões.
O que era um desígnio nacional, passa a conforto para saldar dívidas e redistribuir sobras. O que era uma aliança inabalável com o poder passa a descrença no poder actual e a exercício de aquecimento para aconchego ao futuro poder. Na lógica fria do capital, tudo isto se entende. O que mal se percebe é a agitação psicomotora comunicacional subsequente, como se houvesse má consciência. Não há dia em que o grupo divisor não nos entre pelas portas adentro, com argumentos pseudo nacionais, mas afinal puramente empresariais. Dificilmente se entende a viragem. O risco de uma OPA, afinal ficou ampliado com a abertura da brecha provocada na assembleia-geral de accionistas. Quem tanto receio tem da OPA, deveria ter mantido firme e unida a solidária barreira. Seria bem mais difícil ao sitiante subir as muralhas da fortaleza, do que penetrar pela porta deixada aberta por um grupo de sitiados. Quem pretende acusar o Governo de jogo arriscado, deveria ter concertado previamente a sua posição, em vez de o imaginar domesticado por interesses parciais e paroquiais, pensando que ele não seria capaz de um arreganho nacional. Os herdeiros de uma tradição de confortável proximidade ao poder, qualquer que seja a cor e para lá das vicissitudes da história, subitamente cometem um passo em falso, tingindo a imagem de intocabilidade. E o pior é que a espiral justificativa não pára. Em qualquer local onde haja um microfone e uma câmara, no país ou no estrangeiro, aí vêm explicações cada vez menos consistentes, passando da crítica inicial ao suspiro por novo veto estatal, se vier a OPA.
Não tenho conflitos de interesse, nem positivos nem negativos, com os grupos agora dissidentes. Não sou accionista, nem depositante, nem cliente desses grupos. Bem ao contrário, respeito-os quando criam emprego e protesto contra as torpes agressões de que por vezes são alvo. Já elogiei, nesta coluna, um dos actores, por entender que se distinguira pela positiva na fase inicial da crise, quando apenas financeira e sobretudo bancária. Mas não posso esconder a minha desilusão, agora.
À data em que escrevo, é muito possível que tribunais da União Europeia venham a condenar a ‘golden share'. É também provável que o Governo recorra, iniciando uma longa batalha jurídica, que pode ser encurtada pela negociação que não existiu quando era mais necessária e que nunca viria a ter lugar se não fosse a posição do Governo. Bem andou o Presidente da República no seu comentário e não penso que tenha sido forçado por razões eleitorais. Mal andou o PSD que se precipitou com uma opinião liofilizada, como se não tivesse que meter as mãos na massa quando aspira ao poder. Reduzindo, afinal, a capacidade negocial do Estado. Há momentos em que se mede a têmpera dos governantes. Sócrates demonstrou que a tem. Passos Coelho revelou conformismo, irreflexão e até subserviência. O medo também mata.
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu
A estratégia dos accionistas de referência da PT Telecom, no caso VIVO, foi, afinal, bem prosaica. Tudo tem um preço: o que era preto passa a branco com mais uns milhões.
O que era um desígnio nacional, passa a conforto para saldar dívidas e redistribuir sobras. O que era uma aliança inabalável com o poder passa a descrença no poder actual e a exercício de aquecimento para aconchego ao futuro poder. Na lógica fria do capital, tudo isto se entende. O que mal se percebe é a agitação psicomotora comunicacional subsequente, como se houvesse má consciência. Não há dia em que o grupo divisor não nos entre pelas portas adentro, com argumentos pseudo nacionais, mas afinal puramente empresariais. Dificilmente se entende a viragem. O risco de uma OPA, afinal ficou ampliado com a abertura da brecha provocada na assembleia-geral de accionistas. Quem tanto receio tem da OPA, deveria ter mantido firme e unida a solidária barreira. Seria bem mais difícil ao sitiante subir as muralhas da fortaleza, do que penetrar pela porta deixada aberta por um grupo de sitiados. Quem pretende acusar o Governo de jogo arriscado, deveria ter concertado previamente a sua posição, em vez de o imaginar domesticado por interesses parciais e paroquiais, pensando que ele não seria capaz de um arreganho nacional. Os herdeiros de uma tradição de confortável proximidade ao poder, qualquer que seja a cor e para lá das vicissitudes da história, subitamente cometem um passo em falso, tingindo a imagem de intocabilidade. E o pior é que a espiral justificativa não pára. Em qualquer local onde haja um microfone e uma câmara, no país ou no estrangeiro, aí vêm explicações cada vez menos consistentes, passando da crítica inicial ao suspiro por novo veto estatal, se vier a OPA.
Não tenho conflitos de interesse, nem positivos nem negativos, com os grupos agora dissidentes. Não sou accionista, nem depositante, nem cliente desses grupos. Bem ao contrário, respeito-os quando criam emprego e protesto contra as torpes agressões de que por vezes são alvo. Já elogiei, nesta coluna, um dos actores, por entender que se distinguira pela positiva na fase inicial da crise, quando apenas financeira e sobretudo bancária. Mas não posso esconder a minha desilusão, agora.
À data em que escrevo, é muito possível que tribunais da União Europeia venham a condenar a ‘golden share'. É também provável que o Governo recorra, iniciando uma longa batalha jurídica, que pode ser encurtada pela negociação que não existiu quando era mais necessária e que nunca viria a ter lugar se não fosse a posição do Governo. Bem andou o Presidente da República no seu comentário e não penso que tenha sido forçado por razões eleitorais. Mal andou o PSD que se precipitou com uma opinião liofilizada, como se não tivesse que meter as mãos na massa quando aspira ao poder. Reduzindo, afinal, a capacidade negocial do Estado. Há momentos em que se mede a têmpera dos governantes. Sócrates demonstrou que a tem. Passos Coelho revelou conformismo, irreflexão e até subserviência. O medo também mata.
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu
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