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Portugueses
"Os seus padres eramos nós,
os missionários portugueses. É que a religião, nestas paragens, andou
tão intimamente ligada à ideia de nacionalidade que ainda hoje português
e cristão são sinónimos". (...) [Um indiano acercou-se de mim e
disse]: "se o inglês é bom para fazer negócio, para rezar só o
português".
os missionários portugueses. É que a religião, nestas paragens, andou
tão intimamente ligada à ideia de nacionalidade que ainda hoje português
e cristão são sinónimos". (...) [Um indiano acercou-se de mim e
disse]: "se o inglês é bom para fazer negócio, para rezar só o
português".
X, Crónicas de Viagem
in: Boletim Eclesiático
da Diocese de Macau. n. 304 e 305, Julho e Agosto de 1929
da Diocese de Macau. n. 304 e 305, Julho e Agosto de 1929
As coisas são como são. Há menos de um ano, em pleno
Camboja, um agente da autoridade perguntou-me de onde vinha. Quando lhe
disse que era português, olhou sorridente e curioso para o meu
passaporte, brincou com o dedo sobre a armilar e disse: "ah, Kristan".
Preparando-me para regressar ao Oriente, dediquei algum do meu tempo
livre à arrumação da minha biblioteca, que aguardava a mão do dono após
três anos de abandono, com obras à mistura e muito pó acumulado. Abri um
belo álbum sobre a pintura namban e reparei, como quem olha
pela primeira vez, que naquelas naus que demandavam o Japão em busca de
riqueza e conversos, só havia dois brancos: o comandante e o
missionário. Todos os outros eram amarelos (chineses), pardos (malaios,
siameses), castanhos (indianos) ou negros (africanos). Eram os
portugueses. Quem não o percebeu ainda - o segredo da nossa
sobrevivência, a razão do nosso império e da nossa universalidade - nada
percebeu, afinal, da sua nacionalidade.
Camboja, um agente da autoridade perguntou-me de onde vinha. Quando lhe
disse que era português, olhou sorridente e curioso para o meu
passaporte, brincou com o dedo sobre a armilar e disse: "ah, Kristan".
Preparando-me para regressar ao Oriente, dediquei algum do meu tempo
livre à arrumação da minha biblioteca, que aguardava a mão do dono após
três anos de abandono, com obras à mistura e muito pó acumulado. Abri um
belo álbum sobre a pintura namban e reparei, como quem olha
pela primeira vez, que naquelas naus que demandavam o Japão em busca de
riqueza e conversos, só havia dois brancos: o comandante e o
missionário. Todos os outros eram amarelos (chineses), pardos (malaios,
siameses), castanhos (indianos) ou negros (africanos). Eram os
portugueses. Quem não o percebeu ainda - o segredo da nossa
sobrevivência, a razão do nosso império e da nossa universalidade - nada
percebeu, afinal, da sua nacionalidade.
Hoje pela tarde, no arquivo em que presentemente
recolho documentação alusiva aos protukét do Sião, encontrei a
correspondência que travaram dois cristãos, um de Malaca, outro de
Banguecoque, entre 1816 e 1826. Tratavam-se por irmão, contavam as
pequenas felicidades e amarguras do dia-a-dia, pediam informações,
trocavam confidências sobre os negócios. Depois, compreendi que nunca se
haviam encontrado, que tinham por intermediário um navegante que tocava
ocasionalmente as cidades em que viviam. Foram amigos durante uma
década, mas nunca se encontraram. Eram, apenas, "portugueses". Dava uma
bela novela
. recolho documentação alusiva aos protukét do Sião, encontrei a
correspondência que travaram dois cristãos, um de Malaca, outro de
Banguecoque, entre 1816 e 1826. Tratavam-se por irmão, contavam as
pequenas felicidades e amarguras do dia-a-dia, pediam informações,
trocavam confidências sobre os negócios. Depois, compreendi que nunca se
haviam encontrado, que tinham por intermediário um navegante que tocava
ocasionalmente as cidades em que viviam. Foram amigos durante uma
década, mas nunca se encontraram. Eram, apenas, "portugueses". Dava uma
bela novela
Publicada por
Combustões
em
14.7.10
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Etiquetas:
Portugal na Ásia
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