Vertigem do erro
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Vertigem do erro
Vertigem do erro
Em poucos dias, o principal partido da oposição cometeu erros que destruíram o bom trabalho mediático até aqui construído.
Primeiro, em doses mínimas e depois de chofre, gerou uma proposta para rever dois terços da Constituição. Perante reacção negativa logo recuou, atribuindo a paternidade a uma mera comissão interna, disposto a aceitar alterações. O que levou Pedro Passos Coelho (PPC), foi ele que deu a cara, a chamar este esotérico tema para um momento em que se prepara o primeiro OE após duas formas consecutivas de ajustamento financeiro, onde tanta energia será necessária para negociar acordos que façam progredir o país ao menor custo?
Conheciam os autores da proposta a história constitucional portuguesa, em especial a revisão de 1982, seus motivos e fautores? Sabem eles que a economia social de mercado, baseada em alto nível de protecção social, está inscrita no Tratado de Lisboa, que apoiaram ou até votaram? Sabem eles que a passagem da Saúde e da Educação públicas para o mercado arrasta mais desigualdades, acrescidas ineficiências e dispêndio aumentado de recursos públicos? Entendem eles a diferença que vai entre a expressão justa causa com situações tipificadas, para a expressão motivo atendível, sem conteúdo conhecido? Conhecem eles a evolução do triunfalismo mercadibilista de há vinte anos para os sucessivos fracassos da ‘supply side economics', o mais grave dos quais estamos a sofrer na pele?
A minha tese é que não conhecem. Vivem ainda no encantamento libertário que atribui ao Estado todos os males da economia e ao mercado todas as virtudes do progresso. Acreditam piamente que os empresários são heróis enérgicos e os trabalhadores vilões preguiçosos. Que o Estado é um ninho de exploradores do dinheiro dos contribuintes, um santuário de aproveitadores e uma escola de deseducação cívica. Que os doentes são quase sempre culpados de ter doenças, os pobres responsáveis pela sua pobreza, os explorados vítimas da sua inércia. Que o Estado deve apenas limpar a estrada por onde passarão os empreendedores, criando condições para o lucro máximo, taxando-os ao mínimo, mesmo à custa da distorção das próprias regras do mercado, desde que seja "por bem".
Falta a estes teóricos prática de governo. Confrontar os seus planos com a vida. Atender aos parceiros sociais sem ser por eles detido. Dialogar com as corporações sem ser por elas capturado. Regular as actividades sem ser por elas regulado. Desenhar o interesse público sem o deixar confundir ou enlear pelo privado. Limpar a estrada para que todos por ela passem, sem que as margens rugosas sejam apenas para os desprotegidos. Amparar os caídos como cidadãos e não como sujeitos passivos da compaixão. Transmitir a filhos e netos um mundo saudável, equilibrado e sustentável. Tudo isto é o modelo social europeu e é muito diferente da proposta de Pedro Passos Coelho.
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu
Em poucos dias, o principal partido da oposição cometeu erros que destruíram o bom trabalho mediático até aqui construído.
Primeiro, em doses mínimas e depois de chofre, gerou uma proposta para rever dois terços da Constituição. Perante reacção negativa logo recuou, atribuindo a paternidade a uma mera comissão interna, disposto a aceitar alterações. O que levou Pedro Passos Coelho (PPC), foi ele que deu a cara, a chamar este esotérico tema para um momento em que se prepara o primeiro OE após duas formas consecutivas de ajustamento financeiro, onde tanta energia será necessária para negociar acordos que façam progredir o país ao menor custo?
Conheciam os autores da proposta a história constitucional portuguesa, em especial a revisão de 1982, seus motivos e fautores? Sabem eles que a economia social de mercado, baseada em alto nível de protecção social, está inscrita no Tratado de Lisboa, que apoiaram ou até votaram? Sabem eles que a passagem da Saúde e da Educação públicas para o mercado arrasta mais desigualdades, acrescidas ineficiências e dispêndio aumentado de recursos públicos? Entendem eles a diferença que vai entre a expressão justa causa com situações tipificadas, para a expressão motivo atendível, sem conteúdo conhecido? Conhecem eles a evolução do triunfalismo mercadibilista de há vinte anos para os sucessivos fracassos da ‘supply side economics', o mais grave dos quais estamos a sofrer na pele?
A minha tese é que não conhecem. Vivem ainda no encantamento libertário que atribui ao Estado todos os males da economia e ao mercado todas as virtudes do progresso. Acreditam piamente que os empresários são heróis enérgicos e os trabalhadores vilões preguiçosos. Que o Estado é um ninho de exploradores do dinheiro dos contribuintes, um santuário de aproveitadores e uma escola de deseducação cívica. Que os doentes são quase sempre culpados de ter doenças, os pobres responsáveis pela sua pobreza, os explorados vítimas da sua inércia. Que o Estado deve apenas limpar a estrada por onde passarão os empreendedores, criando condições para o lucro máximo, taxando-os ao mínimo, mesmo à custa da distorção das próprias regras do mercado, desde que seja "por bem".
Falta a estes teóricos prática de governo. Confrontar os seus planos com a vida. Atender aos parceiros sociais sem ser por eles detido. Dialogar com as corporações sem ser por elas capturado. Regular as actividades sem ser por elas regulado. Desenhar o interesse público sem o deixar confundir ou enlear pelo privado. Limpar a estrada para que todos por ela passem, sem que as margens rugosas sejam apenas para os desprotegidos. Amparar os caídos como cidadãos e não como sujeitos passivos da compaixão. Transmitir a filhos e netos um mundo saudável, equilibrado e sustentável. Tudo isto é o modelo social europeu e é muito diferente da proposta de Pedro Passos Coelho.
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu
Viriato- Pontos : 16657
Re: Vertigem do erro
Amparar os caídos como cidadãos e não como sujeitos passivos da compaixão. Transmitir a filhos e netos um mundo saudável, equilibrado e sustentável. Tudo isto é o modelo social europeu e é muito diferente da proposta de Pedro Passos Coelho.
Como sempre, e com toda a razão, Correia de Campos a fechar com chave de ouro o seu pensamento!
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Joao Ruiz- Pontos : 32035
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