Burro selvagem da Núbia é o primeiro pai do burro doméstico
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Burro selvagem da Núbia é o primeiro pai do burro doméstico
Burro selvagem da Núbia é o primeiro pai do burro doméstico
Por Teresa Firmino
Cientista
português entre os autores de um artigo científico que acrescenta nova
peça à história do único animal domesticado em África
Primeiro,
descobriu-se que a domesticação do burro tinha acontecido em África - e
não no Médio Oriente, a hipótese concorrente. Agora acrescentou-se
outra peça à história da domesticação deste animal, ao identificar-se o
burro selvagem africano que começou por ser domesticado há cerca de seis
mil anos: foi o burro da Núbia, região no vale do Nilo, partilhada
entre o Egipto e o Sudão.
A novidade está num artigo na revista Proceedings of the Royal Society B
e, entre os autores de vários países, está Albano Beja Pereira, do
Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, no Porto.
Foi a equipa de Beja Pereira, também com estrangeiros, que em
2004 pôs fim à controvérsia sobre a origem da domesticação do burro, num
artigo na revista Science. Havia cientistas que defendiam que o burro doméstico (Equus asinus, o nome científico da espécie) descendia do burro selvagem africano (Equus africanus)
e que a domesticação tinha sido no Norte de África. Mas como o burro
selvagem africano também viveu em Israel, na Síria, no Iraque e no
Iémen, outra corrente advogava que a domesticação tinha sido no Médio
Oriente.
Ao analisarem ADN de burros selvagens africanos e de
burros domésticos de 52 países, em 2004 os cientistas anunciaram que a
domesticação tinha de facto ocorrido em África. Mas será que, por só
terem analisado ADN contemporâneo e por muitos burros terem desaparecido
no século XX, estaria a escapar-lhes a contribuição de outra linhagem?
"No último século, a pressão sobre os burros selvagens africanos
levou-os à beira da extinção e praticamente varreu os burros domésticos
da Europa", frisa Beja Pereira.
Partiram então à procura de
amostras de ADN antigo em museus de história natural europeus, com
burros selvagens africanos nas colecções. Procuraram ainda colecções
arqueológicas com restos de animais domésticos e selvagens do início da
domesticação.
Confirmaram agora a existência das duas linhagens,
pelo que não houve um elo perdido, e revelaram que o burro selvagem da
Núbia é, por assim dizer, o primeiro pai do burro doméstico. Numa fase
posterior da domesticação é que entrou o burro da Somália.
O
burro da Núbia, no Sudão, está quase extinto. "São tão poucos que não
têm viabilidade. Devem ser menos de cem e não há nenhum em jardins
zoológicos. Assim é difícil fazer planos de recuperação." Já em relação
ao burro da Somália, também na Etiópia e Eritreia, há menos de 600 na
natureza. Mas em cativeiro ainda vivem cerca de 50 e há planos de
recuperação.
Por Teresa Firmino
Cientista
português entre os autores de um artigo científico que acrescenta nova
peça à história do único animal domesticado em África
Primeiro,
descobriu-se que a domesticação do burro tinha acontecido em África - e
não no Médio Oriente, a hipótese concorrente. Agora acrescentou-se
outra peça à história da domesticação deste animal, ao identificar-se o
burro selvagem africano que começou por ser domesticado há cerca de seis
mil anos: foi o burro da Núbia, região no vale do Nilo, partilhada
entre o Egipto e o Sudão.
A novidade está num artigo na revista Proceedings of the Royal Society B
e, entre os autores de vários países, está Albano Beja Pereira, do
Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, no Porto.
Foi a equipa de Beja Pereira, também com estrangeiros, que em
2004 pôs fim à controvérsia sobre a origem da domesticação do burro, num
artigo na revista Science. Havia cientistas que defendiam que o burro doméstico (Equus asinus, o nome científico da espécie) descendia do burro selvagem africano (Equus africanus)
e que a domesticação tinha sido no Norte de África. Mas como o burro
selvagem africano também viveu em Israel, na Síria, no Iraque e no
Iémen, outra corrente advogava que a domesticação tinha sido no Médio
Oriente.
Ao analisarem ADN de burros selvagens africanos e de
burros domésticos de 52 países, em 2004 os cientistas anunciaram que a
domesticação tinha de facto ocorrido em África. Mas será que, por só
terem analisado ADN contemporâneo e por muitos burros terem desaparecido
no século XX, estaria a escapar-lhes a contribuição de outra linhagem?
"No último século, a pressão sobre os burros selvagens africanos
levou-os à beira da extinção e praticamente varreu os burros domésticos
da Europa", frisa Beja Pereira.
Partiram então à procura de
amostras de ADN antigo em museus de história natural europeus, com
burros selvagens africanos nas colecções. Procuraram ainda colecções
arqueológicas com restos de animais domésticos e selvagens do início da
domesticação.
Confirmaram agora a existência das duas linhagens,
pelo que não houve um elo perdido, e revelaram que o burro selvagem da
Núbia é, por assim dizer, o primeiro pai do burro doméstico. Numa fase
posterior da domesticação é que entrou o burro da Somália.
O
burro da Núbia, no Sudão, está quase extinto. "São tão poucos que não
têm viabilidade. Devem ser menos de cem e não há nenhum em jardins
zoológicos. Assim é difícil fazer planos de recuperação." Já em relação
ao burro da Somália, também na Etiópia e Eritreia, há menos de 600 na
natureza. Mas em cativeiro ainda vivem cerca de 50 e há planos de
recuperação.
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