Ele, assim, não vai longe
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Ele, assim, não vai longe
Ele, assim, não vai longe
por BAPTISTA-BASTOS
A crer nas últimas sondagens, Pedro Passos Coelho está a perder a base social de apoio. Os números são elucidativos. Empatou, praticamente, com Sócrates nas intenções de voto. A queda parece dever-se ao facto de falar em excesso. Por duas vezes, em Espanha, reprovou, com veemência, as decisões do Governo português em aplicar a golden share no negócio da PT-Telefónica-Vivo. Objectivamente, esteve ao lado dos espanhóis, materializando, com essa tineta fatal do neoliberalismo e das leis do mercado, os estados de incerteza e de angústia em que vivemos.
Passos seguia o balanço das ameaçadoras declarações sobre as alterações à Constituição, que haviam deixado toda a gente em polvorosa. Inclusive parte significativa dos apaniguados. Entendo que o presidente do PSD deseje marcar a diferença e ambicione ser o criador das horas de transição histórica. Mas o remédio deixou de estar na moda. A senhora Thatcher, seu modelo, é, hoje, tida como uma mediocridade política, que deixou a Inglaterra de rastos. E Tony Blair, inspirado naquela ênfase ideológica, transfez-se numa extravagância grotesca. Os novos dirigentes ingleses não sabem como resolver a embrulhada.
As afirmações de Passos Coelho em Espanha foram a rima desajeitada de quem ignora mover-se nos meandros da diplomacia política. Pareciam extraídas dos frascos de formol onde, nos museus da teratologia política, repousam as velhas aberrações doutrinárias. O português médio desagradou-se. Detesta que nos coloquemos de cócoras ante aquele a que, hipocritamente, chamamos de "hermanos". E o espanhol medianamente letrado não escondeu a sua perplexidade com a inesperada colaboração político- -económica do alto dirigente "social--democrata".
Resultado: Pedro Passos Coelho, que subira nas intenções de voto e deixara José Sócrates muito para trás, como uma espécie de ser à parte, regressou ao sonambulismo do velho PSD. Não só preocupara: assustara de pânico um eleitorado já ferido pelas novas regras dos apoios sociais, e desconfiadíssimo de tudo o que pareça alteração nas rotinas. Pese, embora, as palavras de tranquilidade, proferidas por distintos tenores do partido, o susto colectivo reflectiu-se nas sondagens, e despertou as dúvidas e as apreensões dos muitos que vêem na direita o rol de todos os perigos. Talvez Passos Coelho tenha depredado o concentrado de simpatia obtido pelo desastre político de Sócrates e pela notória repulsa que causou o consulado de Manuela Ferreira Leite. Ele fala de mais e, com perdão da palavra, pensa de menos. Nota-se-lhe a fragilidade do mimetismo doutrinário e, como síntese, a submissão às lógicas do momento, por absurdas que sejam. Assim, não vai longe nem deixa rasto.
por BAPTISTA-BASTOS
A crer nas últimas sondagens, Pedro Passos Coelho está a perder a base social de apoio. Os números são elucidativos. Empatou, praticamente, com Sócrates nas intenções de voto. A queda parece dever-se ao facto de falar em excesso. Por duas vezes, em Espanha, reprovou, com veemência, as decisões do Governo português em aplicar a golden share no negócio da PT-Telefónica-Vivo. Objectivamente, esteve ao lado dos espanhóis, materializando, com essa tineta fatal do neoliberalismo e das leis do mercado, os estados de incerteza e de angústia em que vivemos.
Passos seguia o balanço das ameaçadoras declarações sobre as alterações à Constituição, que haviam deixado toda a gente em polvorosa. Inclusive parte significativa dos apaniguados. Entendo que o presidente do PSD deseje marcar a diferença e ambicione ser o criador das horas de transição histórica. Mas o remédio deixou de estar na moda. A senhora Thatcher, seu modelo, é, hoje, tida como uma mediocridade política, que deixou a Inglaterra de rastos. E Tony Blair, inspirado naquela ênfase ideológica, transfez-se numa extravagância grotesca. Os novos dirigentes ingleses não sabem como resolver a embrulhada.
As afirmações de Passos Coelho em Espanha foram a rima desajeitada de quem ignora mover-se nos meandros da diplomacia política. Pareciam extraídas dos frascos de formol onde, nos museus da teratologia política, repousam as velhas aberrações doutrinárias. O português médio desagradou-se. Detesta que nos coloquemos de cócoras ante aquele a que, hipocritamente, chamamos de "hermanos". E o espanhol medianamente letrado não escondeu a sua perplexidade com a inesperada colaboração político- -económica do alto dirigente "social--democrata".
Resultado: Pedro Passos Coelho, que subira nas intenções de voto e deixara José Sócrates muito para trás, como uma espécie de ser à parte, regressou ao sonambulismo do velho PSD. Não só preocupara: assustara de pânico um eleitorado já ferido pelas novas regras dos apoios sociais, e desconfiadíssimo de tudo o que pareça alteração nas rotinas. Pese, embora, as palavras de tranquilidade, proferidas por distintos tenores do partido, o susto colectivo reflectiu-se nas sondagens, e despertou as dúvidas e as apreensões dos muitos que vêem na direita o rol de todos os perigos. Talvez Passos Coelho tenha depredado o concentrado de simpatia obtido pelo desastre político de Sócrates e pela notória repulsa que causou o consulado de Manuela Ferreira Leite. Ele fala de mais e, com perdão da palavra, pensa de menos. Nota-se-lhe a fragilidade do mimetismo doutrinário e, como síntese, a submissão às lógicas do momento, por absurdas que sejam. Assim, não vai longe nem deixa rasto.
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