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Audácia e desencanto

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Mensagem por Viriato Seg Set 06, 2010 2:45 am

Audácia e desencanto


No dia em que se escreve, não sabemos ainda que bomba política vai Pedro Passos Coelho (PPC) lançar no domingo, em Castelo de Vide.

O que sabemos é que qualquer que seja a potência e pontaria, a limitação dos prejuízos será a sua agenda das duas semanas seguintes. Assim aconteceu com o ultimato relativo ao 9 de Setembro, tal como havia ocorrido com a proposta de revisão constitucional. O 9 de Setembro passou de data de deflagração de um terramoto político a um prazo administrativo anódino, relativa aos poderes do Presidente na dissolução do Parlamento. O estampido de pólvora seca, seguido de geral surpresa, foi desmentido pelo próprio actor principal, em termos que não deixaram dúvidas e que não careciam de maior explicitação sobre o que pensava de tão anormal proposta. No caso da anulação da tendencial gratuitidade do SNS, argumentaram as hostes do PSD tratar-se de um abuso interpretativo. Nunca a proposta de nova redacção para o artigo 64 afastaria a universalidade no SNS. Pois não. Tal como não é necessário constitucionalizar o acesso "universal" de qualquer cidadão a um serviço privado, de saúde, de restauração, ou de vestuário. A questão está em que a palavra universal só toma sentido constitucional quando o acesso é determinado pela necessidade publicamente reconhecida e não pela capacidade individual de pagar. O sistema de saúde que os amigos de PPC lhe sopraram ao ouvido e até mesmo passaram a escrito, era uma proposta para substituir a universalidade ancorada na necessidade e quase gratuitidade, pela regra geral do pagamento no acesso, ainda que parcial, com a excepcionalidade de não recusa por insuficiência de meios económicos. Apesar dos esforços que os encartados constitucionalistas, ou outros por eles, tenham feito na opinião publicada e até junto de editorialistas de jornais que lhes são próximos, não conseguiram apagar o nitrato de prata do seu grafti.

Os portugueses gostam de pessoas com audácia, que levam até ao fim as suas ideias, mas desencantam-se com os que desistem cedo e mais ainda os que dão o dito por não dito. Tivesse PPC mantido as ideias que lançou, boas ou más, e todos estaríamos hoje a discuti-las e a compreendê-las na proporção da convicção e fundamentação com que as apresentasse. Assim, por mais tolerantes que sejam os seus amigos e parceiros, recomendando-lhe uma tardia pedagogia, ou meros caldos de galinha, a verdade é que já não sabemos o que pensa sobre estas e outras matérias. Eis por que, escrevendo à sexta-feira, não posso estar certo do que dirá no domingo. Mas o que quer que diga, bombástico ou macio, perdida a generosa receptividade inicial, deparará agora com uma interrogação. Será para valer, ou para esquecer?
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu
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