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Do susto à desilusão

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Do susto à desilusão  Empty Do susto à desilusão

Mensagem por Viriato Qui Set 09, 2010 3:25 am

Do susto à desilusão

por MANUEL MARIA CARRILHO

Há dois anos, tudo parecia possível, tão grande era então o consenso provocado pelo susto. Brown e Merkel, Berlusconi e Zapatero, Obama e Sarkozy, todos convergiam no diagnóstico e na promessa de medidas urgentes.

Quanto ao diagnóstico, ele ia no sentido de uma grave derrapagem do capitalismo, de um mundo à beira do abismo devi-do à desregulação dos merca-dos entregues a si próprios e à irresponsável ganância dos seus agentes, e do imperativo de os Estados assumirem rápida e plenamente todas as suas responsabilidades.

Quanto às medidas, a convergência ia no sentido de limitar os bónus dos especuladores, taxar os bancos, enquadrar a actividade das agências de rating, separar claramente as actividades de depósito e de investimento da banca, acabar com as derivas da finança especulativa e instituir um novo modelo internacional de gestão monetária.

O diagnóstico e as medidas apontavam, em geral, não para uma ruptura com o capitalismo, mas para a sua moralização, ou mesmo - no dizer de alguns - para a sua refundação. Mas pouco se fez. É certo que os Estados Unidos avançaram com nova legislação financeira, e que a União Europeia anunciou agora algumas medidas para 2011… Mas o escândalo dos bónus, com pequenas limitações, continuou; as taxas sobre os bancos são simbólicas e provisórias; o enquadra- mento das agências de rating espera melhores dias; o novo Bretton Woods reduziu-se a um reforço do FMI. Dois anos depois do anunciado regresso do Estado, é uma evidência que isso não aconteceu, e que, por paradoxal que tal possa parecer, não foram os Estados que se impuseram, foi a finança que venceu a partida.

Na verdade, não se introduziu nenhuma mudança ou transformação profunda ao nível da economia mundial. E o G20, que na sua reunião de 2008, em Washington, tinha reconhecido como um dos factores determinantes da crise a ausência de coordenação das políticas macroeconómicas, não conseguiu avançar desde então com nada de concreto nesta decisiva matéria.

Entretanto, a crise fez 34 milhões de desempregados no mundo ocidental, entre os quais se contam 8 milhões de jovens. Nos EUA, há 15 milhões de desempregados e 9 milhões de precários, e os dados da economia americana continuam a adensar todos os tipos de preocupação.

É bom ter presente que o sector que desencadeou a crise, a habitação, representava dois terços do crescimento dos EUA, e que a Reserva Federal Americana, para impedir o seu colapso em 2008, teve de ga-rantir financiamentos na ordem dos 400 mil milhões de dólares. Mesmo assim, depois de um 2009 mais tranquilo, a crise do imo- biliário voltou a agravar-se em 2010, com preços em queda, o incumprimento do pagamento das casas a aumentar e as vendas a atingir o mais baixo valor dos últimos 15 anos. E com as consequências de tudo isto a sentirem-se já em diversos indicadores.

Daí as novas medidas agora anunciadas por Obama para estimular a economia americana: apoio aos proprietários em dificuldades, 50 mil milhões de dólares para investimentos em infra- -estruturas e 100 mil milhões de incentivos fiscais. A situação da economia americana será decisiva para os resultados das eleições de 2 de Novembro, para o Senado e para a Câmara dos Representantes. Mas não só: ela é também determinante para a economia mundial, e nomeadamente para a europeia, que continua desorientada entre os riscos de um endividamento galopante e as consequências dos planos de austeridade, e com enormes difi- culdades em encontrar políti- ca que satisfaçam tanto economias a crescer 3%, como é o caso da Alemanha, como as que, como a Grécia, decrescem 4%.

O que é cada vez mais evidente, é que o motor do crescimento ocidental gripou em 2008. Evitou-se então um provável colapso, mas com consequências que talvez ainda ninguém tenha conseguido avaliar completamente. E depois do susto caminha-se agora, como há dias dizia Eric le Boucher, para uma grande e inevitável desilusão, em que vai ser preciso enfrentar as consequências de uma prolongada era de incipiente crescimento.

Ora, com um tal cenário, como contrariar a desmoralização, como evitar a contínua erosão da confiança? É da resposta a esta questão que, no futuro, dependem todas as políticas. O que é duvidoso é que essa resposta venha do passado…
Viriato
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