Marmelada de Belém
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Marmelada de Belém
Marmelada de Belém
Este post podia chamar-se também «Na pista de uma tábua de madeira». Costumo comprar ou guardar caixas de transporte ou acondicionamento de alimentos. Esta, de Marmelada de Belém, trazia uma história por revelar.
São muitas as referências aos pastéis da Fábrica de Pastéis de Belém, mas poucas aos outros produtos que aí foram sendo fabricados ao longo do tempo, para além destes. É o caso da marmelada que ainda hoje fazem e vendem na sua época.
Esta face de uma caixa de madeira para transporte e envio de marmelada traz as referências da fábrica, com a data da fundação em 1837, a morada na Rua de Belém, 88, em Lisboa e ainda a menção à «Refinação de Assucar e Confeitaria de Belém, Lda», que esteve na sua origem, por acção do seu proprietário Domingos Rafael.
Tem ainda de um dos lados, infelizmente cortado, o símbolo, com a cartela central onde se vê a imagem do Mosteiro dos Jerónimos, as cordas manuelinas e as esferas armilares, que escolheram para identificar a confeitaria.
Do outro lado da caixa estava ainda colado o autocolante com o nome e endereço do destinatório. Omito o nome, por a família ainda ser viva, curiosamente iniciado por Mr. (de Mister) em vez de Sr. (de Senhor). Quanto ao endereço foi enviado para o Sanatório das Flamengas, em Vialonga, na Póvoa de Santa Iria.
A caixa deve datar do início do século XX. Não consegui apurar até quando existiu este sanatório. O edifício que ainda hoje existe, foi uma antiga casa de recreio dos Condes de Vale de Reis, herdada pelo 1º Duque de Loulé, Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, gentil-homem da Câmara de D. João VI e seu estribeiro-mor, que faleceu em 1875.
Foto tirado do site da Freguesia de Vialonga
Da “Quinta da Flamenga”, para além do edifício do século XVII, faziam parte uma capela, fontes e belos jardins. No séculos XIX e XX o edifício sofreu alterações tendo sido adaptado a hospital. Abandonado posteriormente foi depois vandalizado. Parte dos terrenos serviram já para a construção de um empreendimento com o mesmo nome.
Mas voltemos à caixa de marmelada. O seu envio para um sanatório não foi acidental. No início do século XX a marmelada era considerada um bom alimento para tuberculosos.
Consultei o livro «A Alimentação dos doentes», da autoria de João Novaes, publicado em 1910. Lá vem explicado o fundamento desta teoria. Considerava-se que doente com tuberculose precisava de «ser superalimentado, para acudir ao seu gasto físico». Baseando-se nas teorias de Laufer que defendia que o açúcar exercia uma acção de poupanças e economia de azoto, tinha uma acção importante sobre o peso e forças do doente, pelo que se devia juntar à ração alimentar ordinária 60 a 90 gramas de açúcar, o que permitia, segundo o autor, obter um aumento de 20 a 100 g por dia no peso.
Referindo-se depois ao livro de Louis Renon «Traitement pratique de la tuberculose pulmonaire» apresentava dietas adaptadas a esta patologia.
Na ementa de 2 de Novembro de 1907, que aqui reproduzo, pode ver-se que a ceia, nome então dado ao jantar, terminava com marmelada.
Fica assim explicado o envio da grande caixa de Marmelada de Belém para um sanatório.
Publicada por Ana Marques Pereira
Este post podia chamar-se também «Na pista de uma tábua de madeira». Costumo comprar ou guardar caixas de transporte ou acondicionamento de alimentos. Esta, de Marmelada de Belém, trazia uma história por revelar.
São muitas as referências aos pastéis da Fábrica de Pastéis de Belém, mas poucas aos outros produtos que aí foram sendo fabricados ao longo do tempo, para além destes. É o caso da marmelada que ainda hoje fazem e vendem na sua época.
Esta face de uma caixa de madeira para transporte e envio de marmelada traz as referências da fábrica, com a data da fundação em 1837, a morada na Rua de Belém, 88, em Lisboa e ainda a menção à «Refinação de Assucar e Confeitaria de Belém, Lda», que esteve na sua origem, por acção do seu proprietário Domingos Rafael.
Tem ainda de um dos lados, infelizmente cortado, o símbolo, com a cartela central onde se vê a imagem do Mosteiro dos Jerónimos, as cordas manuelinas e as esferas armilares, que escolheram para identificar a confeitaria.
Do outro lado da caixa estava ainda colado o autocolante com o nome e endereço do destinatório. Omito o nome, por a família ainda ser viva, curiosamente iniciado por Mr. (de Mister) em vez de Sr. (de Senhor). Quanto ao endereço foi enviado para o Sanatório das Flamengas, em Vialonga, na Póvoa de Santa Iria.
A caixa deve datar do início do século XX. Não consegui apurar até quando existiu este sanatório. O edifício que ainda hoje existe, foi uma antiga casa de recreio dos Condes de Vale de Reis, herdada pelo 1º Duque de Loulé, Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, gentil-homem da Câmara de D. João VI e seu estribeiro-mor, que faleceu em 1875.
Foto tirado do site da Freguesia de Vialonga
Da “Quinta da Flamenga”, para além do edifício do século XVII, faziam parte uma capela, fontes e belos jardins. No séculos XIX e XX o edifício sofreu alterações tendo sido adaptado a hospital. Abandonado posteriormente foi depois vandalizado. Parte dos terrenos serviram já para a construção de um empreendimento com o mesmo nome.
Mas voltemos à caixa de marmelada. O seu envio para um sanatório não foi acidental. No início do século XX a marmelada era considerada um bom alimento para tuberculosos.
Consultei o livro «A Alimentação dos doentes», da autoria de João Novaes, publicado em 1910. Lá vem explicado o fundamento desta teoria. Considerava-se que doente com tuberculose precisava de «ser superalimentado, para acudir ao seu gasto físico». Baseando-se nas teorias de Laufer que defendia que o açúcar exercia uma acção de poupanças e economia de azoto, tinha uma acção importante sobre o peso e forças do doente, pelo que se devia juntar à ração alimentar ordinária 60 a 90 gramas de açúcar, o que permitia, segundo o autor, obter um aumento de 20 a 100 g por dia no peso.
Referindo-se depois ao livro de Louis Renon «Traitement pratique de la tuberculose pulmonaire» apresentava dietas adaptadas a esta patologia.
Na ementa de 2 de Novembro de 1907, que aqui reproduzo, pode ver-se que a ceia, nome então dado ao jantar, terminava com marmelada.
Fica assim explicado o envio da grande caixa de Marmelada de Belém para um sanatório.
Publicada por Ana Marques Pereira
Viriato- Pontos : 16657
Re: Marmelada de Belém
Estava bem instalado. Tinha espaço para mocar. E a marmelada vinha a calhar....
Viriato- Pontos : 16657
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