O belo é difícil
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O belo é difícil
O belo é difícil
Na morte de Teresa Lewis, culpada de ser mandante do assassinato do marido e enteado, a questão do QI permite iluminar a aberração de se depositar num critério científico a decisão de se retirar a vida a um ser humano. Neste caso, trata-se da diferença de dois pontos, 72 para 70, num qualquer formato de quantificação da inteligência escolhido pela Justiça local ou federal. A inteligência aqui medida, por sua vez, é um objecto empírico que escapa ao consenso científico, podendo ser alvo de contrastantes definições – já para não falar que a mesma definição pode originar variadas métricas e tipologias de teste. Estamos a lidar com uma questão que é, inerentemente, multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Como é que se admite a lotaria dos testes de inteligência quando está em jogo uma realidade irrecuperável?
Mas a mesma lógica, que pode aqui chocar muitos, é admitida na interrupção da gravidez e na eutanásia por outros tantos ou mais. Definir semanas, ou anos, para justificar a morte de um ser humano é igualmente uma aberração. Por isso, às descaradas no aborto e discretamente na eutanásia, se racionaliza a destituição da humanidade a esses corpos a abater, reduzidos a agregados de células e tecidos inúteis. Os exemplos anedóticos de candidatos ao aborto que escaparam e viveram vidas iguais às de todos no seu mistério e glória, ou de comatosos que acordaram ainda a tempo de evitar a sentença dos impacientes, são postas de parte na abstracção que reduz o outro a um erro a corrigir, a uma doença de remédio fatal.
Sim, este assunto é difícil. E, também por isso, belo.
Publicado por Val
Na morte de Teresa Lewis, culpada de ser mandante do assassinato do marido e enteado, a questão do QI permite iluminar a aberração de se depositar num critério científico a decisão de se retirar a vida a um ser humano. Neste caso, trata-se da diferença de dois pontos, 72 para 70, num qualquer formato de quantificação da inteligência escolhido pela Justiça local ou federal. A inteligência aqui medida, por sua vez, é um objecto empírico que escapa ao consenso científico, podendo ser alvo de contrastantes definições – já para não falar que a mesma definição pode originar variadas métricas e tipologias de teste. Estamos a lidar com uma questão que é, inerentemente, multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Como é que se admite a lotaria dos testes de inteligência quando está em jogo uma realidade irrecuperável?
Mas a mesma lógica, que pode aqui chocar muitos, é admitida na interrupção da gravidez e na eutanásia por outros tantos ou mais. Definir semanas, ou anos, para justificar a morte de um ser humano é igualmente uma aberração. Por isso, às descaradas no aborto e discretamente na eutanásia, se racionaliza a destituição da humanidade a esses corpos a abater, reduzidos a agregados de células e tecidos inúteis. Os exemplos anedóticos de candidatos ao aborto que escaparam e viveram vidas iguais às de todos no seu mistério e glória, ou de comatosos que acordaram ainda a tempo de evitar a sentença dos impacientes, são postas de parte na abstracção que reduz o outro a um erro a corrigir, a uma doença de remédio fatal.
Sim, este assunto é difícil. E, também por isso, belo.
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