"Israel prepara-se para um ataque em grande ao Líbano"
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"Israel prepara-se para um ataque em grande ao Líbano"
"Israel prepara-se para um ataque em grande ao Líbano"
por LUMENA RAPOSO
Professor universitário, escritor e especialista em questões do Médio OrienteEUA Controverso académico americano, filho de judeus polacos, sobreviventes do Holocausto, é muito crítico do apoio do seu país a Israel. Em Portugal para proferir conferências em Lisboa e Porto, Finkelstein - a quem foi negada, em 2008 e por dez anos, a entrada em Israel porque contactara o Hezbollah - diz não haver processo de paz e teme o pior para o Médio Oriente no futuro próximo
"Desta vez nós fomos longe demais" é o título do seu mais recente livro que é sobre a guerra de 2008 em Gaza. O "nós" significa que, como judeu e americano, se identifica com a operação de Israel que é apoiado militarmente pelos EUA?
Essencialmente, usei a frase de Gideon Levy [jornalista israelita] porque o ataque de Israel a Gaza foi tõ imoral que é indefensável.E Israel tem de prestar contas pelo massacre que fez em Gaza. Pela primeira vez, Israel não foi apenas criticado mas foi responsabilizado pelo aconteceu. O relatório [do juiz] Goldstone é muito significativo sobre as responsabilidades de Israel. Há obviamente alguma identificação; se ler o relatório da Amnistia Internacional verá que é crucial para qualquer americano: diz que os EUA é o maior fornecedor de armas a Israel e, segundo a lei americana, é ilegal transferir armas para um país que viola deliberadamente os direitos humanos e, terceiro e mais importante, o relatório afirma que o que aconteceu em Gaza aconteceu à custa dos contribuintes americanos. Por exemplo, as bombas de fósforo foram produzidas nos EUA.
Como americano, como reage?
Faz-se o que se pode. Uma investigadora americana publicou recentemente um livro no qual revela que durante a Administração Clinton e por causa do embargo pelo menos 50 mil crianças morreram no Iraque. O que Israel fez e continua a fazer a Gaza, nomeadamente com o bloqueio que já dura há três anos, é tão mau quanto o que os EUA fizeram no Iraque. Mas não se trata do que os EUA fazem em Gaza mas o que fazem em todo o lado.
Mas com a Administração Obama a situação é um pouco diferente, não?
Talvez na questão das alterações climáticas, de resto é igual.
Mesmo no que toca ao Médio Oriente? Obama não está a fazer o seu melhor?
Se estivesse a fazer o seu melhor, já tinha parado Israel. Israel nada pode fazer sem o apoio dos EUA. Se amanhã os EUA dissessem “não” à política israelita no terreno, toda a situação se alterava. Não é diferente do que aconteceu em Timor-Leste em 1999: o então presidente americano Bill Clinton pegou no telefone e disse aos indonésios que tinham de retirar e a ocupação de Timor- Leste acabou. E se Obama fizesse isso teria o apoio do povo americano.
Como? Ainda esta semana 80 senadores pediram a Obama para não pressionar Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelita)?
Existe uma diferença entre opinião pública e opinião do Congresso. A mais recente sondagem do Chicago Council Foreign Affairs é bastante interessante nesse aspecto. Uma clara maioria dos americanos inquiridos considera que os EUA não se devem envolver se Israel atacar o Irão; são também maioritários os que defendem que os EUA também não se devem envolver caso um Estado árabe, mesmo sem ser provocado, ataque Israel.
Então como explica a actuação da Administração?
Porque a opinião pública não está organizada, não tem lobby [grupo de pressão]. Para isso precisam de dinheiro. Um dos lobbies bem organizados e fortes, por exemplo, é o judaico. Por exemplo, 62% dos americanos opõe-se aos colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada mas isso não altera nada...
Os colonatos é um dossiê do processo de paz entre Israel e os palestinianos. Como vê esse processo?
Não há processo de paz. Já passaram 17 anos desde os Acordos de Oslo (entre Israel e os palestinianos), portanto é tempo de olhar para os resultados, e esses falam por si: em 1993 havia 250 mil colonos judeus a viver nos territórios palestinianos, hoje há 500 mil. Duplicaram. De acordo com o movimento pacifista Betselem, Israel confiscou 32% da terra da Cisjordânia para os colonatos. Portanto, não existe um processo de paz mas de anexação. É o que mostram os resultados. O processo de paz é apenas a cortina por detrás da qual prossegue a anexação.
Então, em sua opinião, porque continuam a negociar?
Porque se habituaram e porque muita gente ganha com as negociações. Ganha Tony Blair com as suas viagens e conferências, ganham os que vendem artigos ligados aos palestinianos e que se tornaram muito populares e se encontram mesmo nas lojas caras dos EUA, os kefye por exemplo. As eleições intercalares estão à porta, por isso Obama arrastou Mahmud Abbas (presidente palestiniano) e Netanyahu para Washington, para aquela espécie de cimeira; foi uma iniciativa algo cínica porque nada saiu dali.
Quer dizer que o problema não são só os colonatos judaicos mas todo o processo?
Conhece aquele ditado que diz “Deus ajuda a quem se ajuda a si próprio”? As negociações vêm sempre no fim de um processo político, Gandhi só foi uma vez ao Reino Unido para negociar com os britânicos [a independência da Índia] porque o seu trabalho, ele sabia-o, era antes de mais mudar a relaçao de poderes, preparar o seu povo para isso mesmo. É que a diplomacia é o último estádio de um processo político e avança-se para ela quando foram já alcançados resultados.
Então, o que deviam fazer os líderes palestinianos?
O que devem fazer os líderes: liderar o seu povo mas eles não são líderes, são negociadores profissionais, transformaram-se nisso, fizeram disso uma profissão. Vão aos EUA, ficam em bons hotéis, são bem tratados, até porque os palestinianos se tornaram na coqueluche de toda a gente, mas não fazem nada...
E o primeiro-ministro Salam Fayyad? Todos o aplaudem como sendo um tecnocrata competente...
Fayyad apenas está a criar um estado policial na Cisjordânia, igual ao do Egipto e à Jordânia, onde as pessoas têm medo.
Isso significa que não há diferença entre a Fatah (de Abbas), que governa a Cisjordânia, e o Hamas em Gaza?
O Hamas é um governo que foi eleito pelo povo e que nunca teve a oportunidade de governar, agora é menos popular
Porque, como dizem os críticos, se tornou igual à Fatah que perdeu as eleições?
Não totalmente. Na Cisjordânia, a liderança palestiniana é encarada como colaboracionista de Israel. Quando houve a invasão de Gaza quase não houve protestos na Cisjordânia porque foram reprimidos. E foram os colaboracionistas palestinianos que facilitaram a invasão da Faixa de Gaza porque onde se encontrava a polícia palestiniana e por onde seria mais fácil Israel avançar com as suas tropas; depois, porque a própria liderança palestiniana terá instado Israel a avançar e eliminar o máximo de gente do Hamas que conseguisse. Isso era falado em Genebra, no conselho de defesa dos direitos humanos. São colaboracionistas. Nisso, o Hamas é diferente. Mantém a sua posição de defesa do povo palestiniano.
Para avançar com as negociações, Netanyahu está a exigir que os palestinianos reconheçam Israel como um Estado judaico. Concorda?
Ninguém sabe o que isso é. Não existe qualquer constituição de Israel que o defina como Estado judaico. Estão a pedir aos palestinianos que reconheçam um conceito com o qual, parece, ninguém concorda. Israel existe, é um facto indiscutível. E nunca foi utilizado esse conceito, ou expressão, nas negociações entre [Menahem] Begin e [Anwar] Sadat que levaram ao acordo de paz entre Israel e o Egipto em 1979 , assim como nas negociações entre Yitzhak Rabin e o rei Hussein que assinaram o acordo de paz em 1994. Nunca há qualquer menção ao Estado judaico.
Então como explica essa exigência?
Basicamente, Netanyahu não quer ser responsabilizado pelo fracasso do processo de paz, portanto, como os palestinianos exigem o fim da colonização judaica, ele exige o reconhecimento de Israel como Estado judaico e assim não será o único culpado...
Mas há a possibilidade de se chegar à paz?
É muito fácil, Israel apenas tem de cumprir a lei internacional que é, aliás, muito clara: tem de retirar de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental; há que fazer algumas alterações menores em termos de fronteiras e resolver a questão dos refugiados, alguns deles com compensações.
A propósito de alterações de fronteiras. O discurso de Avigdor Lieberman (MNE israelita) na ONU, sobre a transferência de população e de terra no quadro do processo de paz, está a irritar os judeus americanos.
E têm de estar irritados, porque o que Lieberman está a dizer é que os palestinianos árabes [que têm cidadania israelita] não são leais a Israel e, portanto, tem de se alterar a fronteira para que sejam excluídos de Israel. Se olhar para as sondagens na Europa e na América, muitas delas revelam que os judeus desses países são mais leais a Israel do que ao seu país. Assim e se seguirmos a lógica de Lieberman e com base no seu argumento, teremos de desenhar fronteiras em Miami, Nova Iorque, Chicago, Los Angeles para excluir os judeus americanos. Desenhar fronteiras com base em lealdades? Lieberman tocou num nervo muito especial dos judeus americanos. A ideia não agrada.
Sendo judeu, como se sentiu quando, em 2008, as autoridades israelitas o barraram à sua chegada ao aeroporto de Telavive, o expulsaram por um período de dez anos?
Deixei de ser judeu nesse dia [riu-se]... Não, nada disso. Não senti nada. A verdade é que nem saquer ia a Israel mas à Cisjordânia visitar uns amigos. Não tenho qualquer sentimento de agressividade, ódio, inimizade para com Israel. Mas para mim não é um Estado judaico porque ser militarista não é ser judeu, ser racista não é ser judeu, ser arrogante não é ser judeu...
Deram-lhe alguma explicação para não o deixar entrar?
Não. Mais tarde os jornais revelaram que a razão se prendia com o facto de eu ter contactado com o Hezbollah (grupo xiita libanês e inimigo figadal de Israel).
E teve?
Estive no Sul do Líbano e encontrei-me com um vice-comandante do Hezbollah. Conversamos mas como não percebo nada de questões militares não lhe poderia dar qualquer indicação de como lançar os seus rockets contra Israel.
Ainda acredita que o maior problema de Israel é uma questão de direitos humanos?
Todo o país tem o direito de ser o que quiser mas há que definir-se. E Israel não é apenas uma entidade estranha no mundo árabe, ele persiste em sê-lo. Quer ser parte da UE, quer ser a Europa no mundo árabe porque despreza em absoluto árabes e muçulmanos; não resulta. Tem de haver uma mudança de mentalidade, da aceitação do outro, o nível de arrogância e de desprezo tem de mudar.
E as novas gerações não são diferentes?
Não; são piores do que os mais velhos. Sessenta por cento dos adolescentes, por exemplo, não quer ter árabes na sua sala de aulas.
Não está de todo optimista.
Estamos a viver momentos mutissimo maus, talvez como nunca aconteceu. Israel está a ficar cada vez mais isolado e com a ideia de que está cercado e vai precisar de se afirmar. Para isso, irá procurar fazer algo que marque; prepara-se para atacar o Líbano.
Porquê?
Por causa da ajuda do Irão ao Hezbollah. Israel não vai deixar que o Hezbollah tenha outra vitória; vai fazer algo espectacular porque precisa de mostrar que as suas capacidades não estão diminuidas, apesar do fracasso da operação (da Mossad, serviços secretos) no Dubai, do ataque contra o Mavi Marmara (barco turco da ?flotilha da Liberdade?). A aproximação da Turquia ao Irão, as relações entre o Iraque e o Irão, tudo isso dá a Israel a sensação de estrangulamento; precisam de fazer algo que leve o mundo árabe a temê-lo. Sente que tem de fazer o que fez em 1967, um knock-out aos seus vizinhos; neste caso será o Líbano.
por LUMENA RAPOSO
Professor universitário, escritor e especialista em questões do Médio OrienteEUA Controverso académico americano, filho de judeus polacos, sobreviventes do Holocausto, é muito crítico do apoio do seu país a Israel. Em Portugal para proferir conferências em Lisboa e Porto, Finkelstein - a quem foi negada, em 2008 e por dez anos, a entrada em Israel porque contactara o Hezbollah - diz não haver processo de paz e teme o pior para o Médio Oriente no futuro próximo
"Desta vez nós fomos longe demais" é o título do seu mais recente livro que é sobre a guerra de 2008 em Gaza. O "nós" significa que, como judeu e americano, se identifica com a operação de Israel que é apoiado militarmente pelos EUA?
Essencialmente, usei a frase de Gideon Levy [jornalista israelita] porque o ataque de Israel a Gaza foi tõ imoral que é indefensável.E Israel tem de prestar contas pelo massacre que fez em Gaza. Pela primeira vez, Israel não foi apenas criticado mas foi responsabilizado pelo aconteceu. O relatório [do juiz] Goldstone é muito significativo sobre as responsabilidades de Israel. Há obviamente alguma identificação; se ler o relatório da Amnistia Internacional verá que é crucial para qualquer americano: diz que os EUA é o maior fornecedor de armas a Israel e, segundo a lei americana, é ilegal transferir armas para um país que viola deliberadamente os direitos humanos e, terceiro e mais importante, o relatório afirma que o que aconteceu em Gaza aconteceu à custa dos contribuintes americanos. Por exemplo, as bombas de fósforo foram produzidas nos EUA.
Como americano, como reage?
Faz-se o que se pode. Uma investigadora americana publicou recentemente um livro no qual revela que durante a Administração Clinton e por causa do embargo pelo menos 50 mil crianças morreram no Iraque. O que Israel fez e continua a fazer a Gaza, nomeadamente com o bloqueio que já dura há três anos, é tão mau quanto o que os EUA fizeram no Iraque. Mas não se trata do que os EUA fazem em Gaza mas o que fazem em todo o lado.
Mas com a Administração Obama a situação é um pouco diferente, não?
Talvez na questão das alterações climáticas, de resto é igual.
Mesmo no que toca ao Médio Oriente? Obama não está a fazer o seu melhor?
Se estivesse a fazer o seu melhor, já tinha parado Israel. Israel nada pode fazer sem o apoio dos EUA. Se amanhã os EUA dissessem “não” à política israelita no terreno, toda a situação se alterava. Não é diferente do que aconteceu em Timor-Leste em 1999: o então presidente americano Bill Clinton pegou no telefone e disse aos indonésios que tinham de retirar e a ocupação de Timor- Leste acabou. E se Obama fizesse isso teria o apoio do povo americano.
Como? Ainda esta semana 80 senadores pediram a Obama para não pressionar Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelita)?
Existe uma diferença entre opinião pública e opinião do Congresso. A mais recente sondagem do Chicago Council Foreign Affairs é bastante interessante nesse aspecto. Uma clara maioria dos americanos inquiridos considera que os EUA não se devem envolver se Israel atacar o Irão; são também maioritários os que defendem que os EUA também não se devem envolver caso um Estado árabe, mesmo sem ser provocado, ataque Israel.
Então como explica a actuação da Administração?
Porque a opinião pública não está organizada, não tem lobby [grupo de pressão]. Para isso precisam de dinheiro. Um dos lobbies bem organizados e fortes, por exemplo, é o judaico. Por exemplo, 62% dos americanos opõe-se aos colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada mas isso não altera nada...
Os colonatos é um dossiê do processo de paz entre Israel e os palestinianos. Como vê esse processo?
Não há processo de paz. Já passaram 17 anos desde os Acordos de Oslo (entre Israel e os palestinianos), portanto é tempo de olhar para os resultados, e esses falam por si: em 1993 havia 250 mil colonos judeus a viver nos territórios palestinianos, hoje há 500 mil. Duplicaram. De acordo com o movimento pacifista Betselem, Israel confiscou 32% da terra da Cisjordânia para os colonatos. Portanto, não existe um processo de paz mas de anexação. É o que mostram os resultados. O processo de paz é apenas a cortina por detrás da qual prossegue a anexação.
Então, em sua opinião, porque continuam a negociar?
Porque se habituaram e porque muita gente ganha com as negociações. Ganha Tony Blair com as suas viagens e conferências, ganham os que vendem artigos ligados aos palestinianos e que se tornaram muito populares e se encontram mesmo nas lojas caras dos EUA, os kefye por exemplo. As eleições intercalares estão à porta, por isso Obama arrastou Mahmud Abbas (presidente palestiniano) e Netanyahu para Washington, para aquela espécie de cimeira; foi uma iniciativa algo cínica porque nada saiu dali.
Quer dizer que o problema não são só os colonatos judaicos mas todo o processo?
Conhece aquele ditado que diz “Deus ajuda a quem se ajuda a si próprio”? As negociações vêm sempre no fim de um processo político, Gandhi só foi uma vez ao Reino Unido para negociar com os britânicos [a independência da Índia] porque o seu trabalho, ele sabia-o, era antes de mais mudar a relaçao de poderes, preparar o seu povo para isso mesmo. É que a diplomacia é o último estádio de um processo político e avança-se para ela quando foram já alcançados resultados.
Então, o que deviam fazer os líderes palestinianos?
O que devem fazer os líderes: liderar o seu povo mas eles não são líderes, são negociadores profissionais, transformaram-se nisso, fizeram disso uma profissão. Vão aos EUA, ficam em bons hotéis, são bem tratados, até porque os palestinianos se tornaram na coqueluche de toda a gente, mas não fazem nada...
E o primeiro-ministro Salam Fayyad? Todos o aplaudem como sendo um tecnocrata competente...
Fayyad apenas está a criar um estado policial na Cisjordânia, igual ao do Egipto e à Jordânia, onde as pessoas têm medo.
Isso significa que não há diferença entre a Fatah (de Abbas), que governa a Cisjordânia, e o Hamas em Gaza?
O Hamas é um governo que foi eleito pelo povo e que nunca teve a oportunidade de governar, agora é menos popular
Porque, como dizem os críticos, se tornou igual à Fatah que perdeu as eleições?
Não totalmente. Na Cisjordânia, a liderança palestiniana é encarada como colaboracionista de Israel. Quando houve a invasão de Gaza quase não houve protestos na Cisjordânia porque foram reprimidos. E foram os colaboracionistas palestinianos que facilitaram a invasão da Faixa de Gaza porque onde se encontrava a polícia palestiniana e por onde seria mais fácil Israel avançar com as suas tropas; depois, porque a própria liderança palestiniana terá instado Israel a avançar e eliminar o máximo de gente do Hamas que conseguisse. Isso era falado em Genebra, no conselho de defesa dos direitos humanos. São colaboracionistas. Nisso, o Hamas é diferente. Mantém a sua posição de defesa do povo palestiniano.
Para avançar com as negociações, Netanyahu está a exigir que os palestinianos reconheçam Israel como um Estado judaico. Concorda?
Ninguém sabe o que isso é. Não existe qualquer constituição de Israel que o defina como Estado judaico. Estão a pedir aos palestinianos que reconheçam um conceito com o qual, parece, ninguém concorda. Israel existe, é um facto indiscutível. E nunca foi utilizado esse conceito, ou expressão, nas negociações entre [Menahem] Begin e [Anwar] Sadat que levaram ao acordo de paz entre Israel e o Egipto em 1979 , assim como nas negociações entre Yitzhak Rabin e o rei Hussein que assinaram o acordo de paz em 1994. Nunca há qualquer menção ao Estado judaico.
Então como explica essa exigência?
Basicamente, Netanyahu não quer ser responsabilizado pelo fracasso do processo de paz, portanto, como os palestinianos exigem o fim da colonização judaica, ele exige o reconhecimento de Israel como Estado judaico e assim não será o único culpado...
Mas há a possibilidade de se chegar à paz?
É muito fácil, Israel apenas tem de cumprir a lei internacional que é, aliás, muito clara: tem de retirar de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental; há que fazer algumas alterações menores em termos de fronteiras e resolver a questão dos refugiados, alguns deles com compensações.
A propósito de alterações de fronteiras. O discurso de Avigdor Lieberman (MNE israelita) na ONU, sobre a transferência de população e de terra no quadro do processo de paz, está a irritar os judeus americanos.
E têm de estar irritados, porque o que Lieberman está a dizer é que os palestinianos árabes [que têm cidadania israelita] não são leais a Israel e, portanto, tem de se alterar a fronteira para que sejam excluídos de Israel. Se olhar para as sondagens na Europa e na América, muitas delas revelam que os judeus desses países são mais leais a Israel do que ao seu país. Assim e se seguirmos a lógica de Lieberman e com base no seu argumento, teremos de desenhar fronteiras em Miami, Nova Iorque, Chicago, Los Angeles para excluir os judeus americanos. Desenhar fronteiras com base em lealdades? Lieberman tocou num nervo muito especial dos judeus americanos. A ideia não agrada.
Sendo judeu, como se sentiu quando, em 2008, as autoridades israelitas o barraram à sua chegada ao aeroporto de Telavive, o expulsaram por um período de dez anos?
Deixei de ser judeu nesse dia [riu-se]... Não, nada disso. Não senti nada. A verdade é que nem saquer ia a Israel mas à Cisjordânia visitar uns amigos. Não tenho qualquer sentimento de agressividade, ódio, inimizade para com Israel. Mas para mim não é um Estado judaico porque ser militarista não é ser judeu, ser racista não é ser judeu, ser arrogante não é ser judeu...
Deram-lhe alguma explicação para não o deixar entrar?
Não. Mais tarde os jornais revelaram que a razão se prendia com o facto de eu ter contactado com o Hezbollah (grupo xiita libanês e inimigo figadal de Israel).
E teve?
Estive no Sul do Líbano e encontrei-me com um vice-comandante do Hezbollah. Conversamos mas como não percebo nada de questões militares não lhe poderia dar qualquer indicação de como lançar os seus rockets contra Israel.
Ainda acredita que o maior problema de Israel é uma questão de direitos humanos?
Todo o país tem o direito de ser o que quiser mas há que definir-se. E Israel não é apenas uma entidade estranha no mundo árabe, ele persiste em sê-lo. Quer ser parte da UE, quer ser a Europa no mundo árabe porque despreza em absoluto árabes e muçulmanos; não resulta. Tem de haver uma mudança de mentalidade, da aceitação do outro, o nível de arrogância e de desprezo tem de mudar.
E as novas gerações não são diferentes?
Não; são piores do que os mais velhos. Sessenta por cento dos adolescentes, por exemplo, não quer ter árabes na sua sala de aulas.
Não está de todo optimista.
Estamos a viver momentos mutissimo maus, talvez como nunca aconteceu. Israel está a ficar cada vez mais isolado e com a ideia de que está cercado e vai precisar de se afirmar. Para isso, irá procurar fazer algo que marque; prepara-se para atacar o Líbano.
Porquê?
Por causa da ajuda do Irão ao Hezbollah. Israel não vai deixar que o Hezbollah tenha outra vitória; vai fazer algo espectacular porque precisa de mostrar que as suas capacidades não estão diminuidas, apesar do fracasso da operação (da Mossad, serviços secretos) no Dubai, do ataque contra o Mavi Marmara (barco turco da ?flotilha da Liberdade?). A aproximação da Turquia ao Irão, as relações entre o Iraque e o Irão, tudo isso dá a Israel a sensação de estrangulamento; precisam de fazer algo que leve o mundo árabe a temê-lo. Sente que tem de fazer o que fez em 1967, um knock-out aos seus vizinhos; neste caso será o Líbano.
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