Quando os filhos matam o pai para proteger a mãe
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Quando os filhos matam o pai para proteger a mãe
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Quando os filhos matam o pai para proteger a mãe
por RUTE COELHO, ALFREDO TEIXEIRA e JOANA CAPUCHO
Hoje
Três mães, de Oeiras, Porto e Aveiro, contam como os maridos que as agrediam foram assassinados pelos próprios filhos. Hoje, olham para trás e não lamentam o crime cometido
São jovens que fintaram a ordem natural da vida e não chegaram a ver os pais morrer na velhice. Num impulso, mataram o homem que agredia a mãe. A justiça condenou-os pelo homicídio depois de analisadas as atenuantes do crime. No coração das mães, estes filhos parricidas estão perdoados. Cumpriram o desejo mais íntimo delas, o de que o agressor morresse, como explica um psicólogo.
"A morte do meu marido foi um alívio", descreve ao DN Isaltina Ramos, 41 anos, vítima de violência doméstica por mais de duas décadas. Todas as semanas, esta mulher desloca-se ao local que é agora o centro da sua vida: o Estabelecimento Prisional do Linhó, Sintra. Vai visitar o filho, Carlos Ramos, 23 anos, que está a cumprir pena de nove anos de prisão pelo homicídio do pai.
Na noite de 27 de Janeiro de 2009, na casa da família em Porto Salvo, Oeiras, acabou de forma trágica um ciclo de violência doméstica que afectou uma família inteira. O pai, alcoólico, que batia na mulher e nos três filhos, foi assassinado pelo seu filho mais velho.
Carlos, então com 22 anos, discutiu com o pai, que vinha alcoolizado e até o terá ameaçado com uma catana. O filho, num impulso, agarrou num machado e desferiu-lhe um golpe mortal na cabeça. Isaltina não assistiu ao momento de horror. "Eu tinha saído de casa há um mês e estava refugiada no apartamento da minha patroa. O Carlos é que nunca quis deixar a casa com medo que o pai a destruísse numa das suas fúrias quando chegava bêbedo. Os meus dois filhos mais novos, hoje com 9 e 18 anos, já viviam em casa do meu pai."
Mãe destroçada e vítima reiterada, Isaltina acalenta sentimentos mistos, entre o "alívio" pela morte do agressor e a "pena" pelo futuro do filho, que fica "marcado no cadastro e pela sociedade".
A noite do crime ficará para sempre imprimida na sua memória. "Fui eu que limpei o sangue todo da casa, do tecto às paredes. Foi um choque quando a polícia foi a casa buscar o meu filho."
Carlos foi condenado no tribunal de Oeiras a nove anos de prisão. Em tribunal declarou: "Foi umclique que me fez matar o meu pai." Esgotou os recursos até ao Supremo Tribunal de Justiça, que manteve a sentença da primeira instância.
No último mês foi transferido do Estabelecimento Prisional de Caxias para o E. P. do Linhó.
"Eu estou a morar na minha casa. Na casa onde tudo aconteceu", conta Isaltina. Nem Carlos nem a mãe tiveram, até agora, qualquer apoio psicológico que os ajudasse a superar o trauma vivido. O apoio psicológico - antes e depois da condenação - é fundamental nestes casos, concordam o psicólogo Daniel Cotrim e o ex--bastonário dos Advogados, Rogério Alves.
Carlos Ramos cresceu num ambiente de violência e habituou-se a ser o protector da mãe. "Com 5 anos começou a levar porrada do pai porque já me queria defender das agressões." Isaltina, que agora se desdobra a fazer limpezas para sustentar a família, garante ter feito "várias queixas" contra o marido agressor na PSP, a primeira das quais há 20 anos. Chegou a ser esfaqueada pelo marido e queimada com pontas de cigarro. O drama doméstico foi num crescendo. Até ao "limite extremo" atingido pelo filho.
Chora a noite toda. João Carlos Pereira Pinto nunca afirmou estar arrependido, mas ainda hoje por vezes é surpreendido pela companheira a chorar na cama e anda sempre com a fotografia do pai na carteira. Nunca mais esquecerá a noite de 15 de Janeiro de 1993, quando matou o pai com quatro facadas, em casa, na Rua Nova do Monte Xisto, em Guifões, Matosinhos. Tinha apenas 19 anos quando cometeu o crime.
Foi condenado a seis anos de prisão, mas cumpriu apenas três anos e oito meses de pena. Actualmente, está em França. Tem duas filhas, uma com 14 anos, fruto de um anterior relacionamento, e uma bebé de cinco meses.
"Ultrapassei bem toda esta tragédia porque a minha vida era o inferno", conta a mãe de João, Margarida Pinto, de 59 anos. Com Agostinho Pinto esteve casada 22 anos. Tiveram nove filhos. "Foi uma vida de muita pancada, de maus tratos, físicos e verbais", conta Margarida, tapando a cara com as mãos. Está sentada à mesa da sala de jantar. Em cima do aparador está a fotografia do marido.
Agostinho "nunca foi um pai afectivo". Homem trabalhador, de 45 anos, tinha problemas com o álcool e era obsessivo com os ciúmes. Foram anos de tortura.
"Chegava a casa com os copos e eu e os filhos é que pagávamos." Era negociante de gado. A mulher deixou o emprego para cuidar da casa, dos filhos e do campo.
Sempre que regressava das feiras, alcoolizado, agredia Margarida. A mulher chegou a apresentar queixa por maus tratos, até deixou uma vez a casa com os filhos, mas regressou.
Na noite fatídica, Agostinho discutiu com a mulher. "Queres uma casa? Esta não te chega?", gritava, irado. Um dos filhos foi chamar João Carlos, que estava em casa de um vizinho. Quando regressaram, tiveram de partir uma janela porque o pai tinha trancado todas as portas. "Por azar, estava uma faca em cima da mesa e o João pegou nela. Foram quatro facadas", afirma a mãe.
"Se o meu marido fosse vivo, os meus filhos já nem se conheciam uns aos outros. Hoje, estão todos perto de mim."
Fernanda Couto, agora com 63 anos, recorda com tristeza a tragédia que, a 14 de Agosto de 1994, destruiu a sua família e chocou Soutelo, na freguesia da Branca, em Albergaria-a-Velha. Durante quase 20 anos, a mulher foi vítima dos maus tratos do marido que, constantemente, levavam à intervenção do filho mais novo, António Augusto.
Naquela noite, o filho, de 21 anos, envolveu-se numa luta com o pai, Daniel Nogueira, que culminou na morte do pai.
Um desfecho que até era previsível. "O meu marido batia-me e o meu filho revoltava-se e metia-se no meio para me defender", conta Fernanda Couto, ao DN. Foi assim durante todo o casamento. "O meu marido sempre me tratou mal. Tinha problemas com o álcool e andava com outras mulheres".
Ao fim de 19 anos de casamento, Fernanda e Daniel divorciaram-se, mas o homem, na altura com 44 anos, recusava-se a sair da casa que era propriedade da sogra.
Na noite quente de 14 de Agosto, António e o pai foram a uma festa numa localidade da freguesia. Os problemas começaram na festa, onde o homem, já alcoolizado, terá danificado o carro do filho, levando à intervenção da GNR. Quando ambos chegaram à porta de casa, a discussão ia acesa. "O pai tinha um pau e ia atirar--lhe uma pedra. O meu filho pegou no pau para se defender e acertou-lhe com ele na cabeça", esclarece Fernanda. O homem foi conduzido ao hospital de Aveiro, onde acabou por falecer.
Fernanda Couto sublinha que o filho "agiu em legítima defesa" e diz que o ex-marido tentou matar António algum tempo antes.
Depois do divórcio, Fernanda só desejava que Daniel saísse de casa para o seu martírio acabar. "Entretanto, a namorada do meu filho engravidou e ele trouxe-a para nossa casa. Foi quando o problema se tornou maior, porque eu tinha alguém a fazer-me companhia", disse ao DN. António Augusto, o mais novo de três irmãos, esteve dois anos preso pelo homicídio do pai.
Carlos, João e António praticaram um crime contra naturam, mas já eram vítimas antes disso.
In DN
Quando os filhos matam o pai para proteger a mãe
por RUTE COELHO, ALFREDO TEIXEIRA e JOANA CAPUCHO
Hoje
Três mães, de Oeiras, Porto e Aveiro, contam como os maridos que as agrediam foram assassinados pelos próprios filhos. Hoje, olham para trás e não lamentam o crime cometido
São jovens que fintaram a ordem natural da vida e não chegaram a ver os pais morrer na velhice. Num impulso, mataram o homem que agredia a mãe. A justiça condenou-os pelo homicídio depois de analisadas as atenuantes do crime. No coração das mães, estes filhos parricidas estão perdoados. Cumpriram o desejo mais íntimo delas, o de que o agressor morresse, como explica um psicólogo.
"A morte do meu marido foi um alívio", descreve ao DN Isaltina Ramos, 41 anos, vítima de violência doméstica por mais de duas décadas. Todas as semanas, esta mulher desloca-se ao local que é agora o centro da sua vida: o Estabelecimento Prisional do Linhó, Sintra. Vai visitar o filho, Carlos Ramos, 23 anos, que está a cumprir pena de nove anos de prisão pelo homicídio do pai.
Na noite de 27 de Janeiro de 2009, na casa da família em Porto Salvo, Oeiras, acabou de forma trágica um ciclo de violência doméstica que afectou uma família inteira. O pai, alcoólico, que batia na mulher e nos três filhos, foi assassinado pelo seu filho mais velho.
Carlos, então com 22 anos, discutiu com o pai, que vinha alcoolizado e até o terá ameaçado com uma catana. O filho, num impulso, agarrou num machado e desferiu-lhe um golpe mortal na cabeça. Isaltina não assistiu ao momento de horror. "Eu tinha saído de casa há um mês e estava refugiada no apartamento da minha patroa. O Carlos é que nunca quis deixar a casa com medo que o pai a destruísse numa das suas fúrias quando chegava bêbedo. Os meus dois filhos mais novos, hoje com 9 e 18 anos, já viviam em casa do meu pai."
Mãe destroçada e vítima reiterada, Isaltina acalenta sentimentos mistos, entre o "alívio" pela morte do agressor e a "pena" pelo futuro do filho, que fica "marcado no cadastro e pela sociedade".
A noite do crime ficará para sempre imprimida na sua memória. "Fui eu que limpei o sangue todo da casa, do tecto às paredes. Foi um choque quando a polícia foi a casa buscar o meu filho."
Carlos foi condenado no tribunal de Oeiras a nove anos de prisão. Em tribunal declarou: "Foi umclique que me fez matar o meu pai." Esgotou os recursos até ao Supremo Tribunal de Justiça, que manteve a sentença da primeira instância.
No último mês foi transferido do Estabelecimento Prisional de Caxias para o E. P. do Linhó.
"Eu estou a morar na minha casa. Na casa onde tudo aconteceu", conta Isaltina. Nem Carlos nem a mãe tiveram, até agora, qualquer apoio psicológico que os ajudasse a superar o trauma vivido. O apoio psicológico - antes e depois da condenação - é fundamental nestes casos, concordam o psicólogo Daniel Cotrim e o ex--bastonário dos Advogados, Rogério Alves.
Carlos Ramos cresceu num ambiente de violência e habituou-se a ser o protector da mãe. "Com 5 anos começou a levar porrada do pai porque já me queria defender das agressões." Isaltina, que agora se desdobra a fazer limpezas para sustentar a família, garante ter feito "várias queixas" contra o marido agressor na PSP, a primeira das quais há 20 anos. Chegou a ser esfaqueada pelo marido e queimada com pontas de cigarro. O drama doméstico foi num crescendo. Até ao "limite extremo" atingido pelo filho.
Chora a noite toda. João Carlos Pereira Pinto nunca afirmou estar arrependido, mas ainda hoje por vezes é surpreendido pela companheira a chorar na cama e anda sempre com a fotografia do pai na carteira. Nunca mais esquecerá a noite de 15 de Janeiro de 1993, quando matou o pai com quatro facadas, em casa, na Rua Nova do Monte Xisto, em Guifões, Matosinhos. Tinha apenas 19 anos quando cometeu o crime.
Foi condenado a seis anos de prisão, mas cumpriu apenas três anos e oito meses de pena. Actualmente, está em França. Tem duas filhas, uma com 14 anos, fruto de um anterior relacionamento, e uma bebé de cinco meses.
"Ultrapassei bem toda esta tragédia porque a minha vida era o inferno", conta a mãe de João, Margarida Pinto, de 59 anos. Com Agostinho Pinto esteve casada 22 anos. Tiveram nove filhos. "Foi uma vida de muita pancada, de maus tratos, físicos e verbais", conta Margarida, tapando a cara com as mãos. Está sentada à mesa da sala de jantar. Em cima do aparador está a fotografia do marido.
Agostinho "nunca foi um pai afectivo". Homem trabalhador, de 45 anos, tinha problemas com o álcool e era obsessivo com os ciúmes. Foram anos de tortura.
"Chegava a casa com os copos e eu e os filhos é que pagávamos." Era negociante de gado. A mulher deixou o emprego para cuidar da casa, dos filhos e do campo.
Sempre que regressava das feiras, alcoolizado, agredia Margarida. A mulher chegou a apresentar queixa por maus tratos, até deixou uma vez a casa com os filhos, mas regressou.
Na noite fatídica, Agostinho discutiu com a mulher. "Queres uma casa? Esta não te chega?", gritava, irado. Um dos filhos foi chamar João Carlos, que estava em casa de um vizinho. Quando regressaram, tiveram de partir uma janela porque o pai tinha trancado todas as portas. "Por azar, estava uma faca em cima da mesa e o João pegou nela. Foram quatro facadas", afirma a mãe.
"Se o meu marido fosse vivo, os meus filhos já nem se conheciam uns aos outros. Hoje, estão todos perto de mim."
Fernanda Couto, agora com 63 anos, recorda com tristeza a tragédia que, a 14 de Agosto de 1994, destruiu a sua família e chocou Soutelo, na freguesia da Branca, em Albergaria-a-Velha. Durante quase 20 anos, a mulher foi vítima dos maus tratos do marido que, constantemente, levavam à intervenção do filho mais novo, António Augusto.
Naquela noite, o filho, de 21 anos, envolveu-se numa luta com o pai, Daniel Nogueira, que culminou na morte do pai.
Um desfecho que até era previsível. "O meu marido batia-me e o meu filho revoltava-se e metia-se no meio para me defender", conta Fernanda Couto, ao DN. Foi assim durante todo o casamento. "O meu marido sempre me tratou mal. Tinha problemas com o álcool e andava com outras mulheres".
Ao fim de 19 anos de casamento, Fernanda e Daniel divorciaram-se, mas o homem, na altura com 44 anos, recusava-se a sair da casa que era propriedade da sogra.
Na noite quente de 14 de Agosto, António e o pai foram a uma festa numa localidade da freguesia. Os problemas começaram na festa, onde o homem, já alcoolizado, terá danificado o carro do filho, levando à intervenção da GNR. Quando ambos chegaram à porta de casa, a discussão ia acesa. "O pai tinha um pau e ia atirar--lhe uma pedra. O meu filho pegou no pau para se defender e acertou-lhe com ele na cabeça", esclarece Fernanda. O homem foi conduzido ao hospital de Aveiro, onde acabou por falecer.
Fernanda Couto sublinha que o filho "agiu em legítima defesa" e diz que o ex-marido tentou matar António algum tempo antes.
Depois do divórcio, Fernanda só desejava que Daniel saísse de casa para o seu martírio acabar. "Entretanto, a namorada do meu filho engravidou e ele trouxe-a para nossa casa. Foi quando o problema se tornou maior, porque eu tinha alguém a fazer-me companhia", disse ao DN. António Augusto, o mais novo de três irmãos, esteve dois anos preso pelo homicídio do pai.
Carlos, João e António praticaram um crime contra naturam, mas já eram vítimas antes disso.
In DN
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