O meu partido é Portugal
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O meu partido é Portugal
O meu partido é Portugal
3 de Dezembro, 2010Por José António Saraiva
Há precisamente um ano, um número considerável de comentadores (de esquerda e de direita) vaticinava que dificilmente Cavaco Silva teria condições para se recandidatar.Estava-se em pleno caso das escutas - o qual, segundo os mesmos comentadores, seria muito provavelmente o Watergate do inquilino de Belém.Muitas dessas pessoas depressa perceberam que se tinham enganado.Mas não desistiram das suas obsessões.E ainda há meia dúzia de semanas, com base em duvidosas sondagens, afirmavam que a probabilidade de um Presidente não ser reeleito nunca fora tão grande como nestas eleições.O homem capaz de o derrotar era, está bem de ver, Manuel Alegre.Agora, com os candidatos todos assumidos, generalizou-se a ideia oposta: que as presidenciais serão para Cavaco Silva um fácil passeio.O extraordinário disto é que muitos dos que o afirmam hoje são exactamente os mesmos que há um ano anunciavam a sua morte política e há menos de dois meses admitiam a sua derrota! E dizem-no com o mesmo ar sério com que antes diziam o contrário. O bom comentário político é aquele que resiste ao tempo.Ora, poucos comentadores produzem hoje comentários capazes de resistir, já não digo aos anos, mas a um escasso par de meses.Defendem-se eles dizendo que a conjuntura muda.Mas isso já sabiam quando faziam os vaticínios!Assim, ou se achavam capazes de ver um pouco além da ponta do próprio nariz ou se calavam para não errarem tantas vezes.Há um mês, quando escrevi que Cavaco se aproximaria dos 60% e Alegre dificilmente chegaria aos 35%, muito boa gente escandalizou-se.Hoje, várias sondagens já apontam para valores ainda mais extremados.E não é muito difícil perceber porquê.Para lá de ter a enorme vantagem de já estar em Belém, de ser um valor seguro, de não ter de andar a criticar ninguém (ao contrário dos outros candidatos, que passam a vida a criticá-lo a ele, colocando-o no centro do jogo político), Cavaco dispõe de duas enormes vantagens conjunturais.A primeira é a crise financeira e económica; a segunda é o descrédito dos partidos.A crise amplia necessariamente o capital de esperança no Presidente da República, que é a última reserva do sistema político.Ainda por cima, sendo ele economista e tendo sido primeiro-ministro em tempo de vacas gordas, não admira que seja visto um pouco como o Salvador do país, caso a situação ainda dê mais para o torto.A segunda vantagem de que Cavaco dispõe é o descrédito actual dos partidos políticos.Há cada vez mais pessoas a não acreditarem nos partidos, a terem sobre eles uma opinião negativa, a acharem que só querem servir-se e não servir a nação, a acusarem-nos de pôr os interesses próprios acima dos interesses comuns e de só quererem o poleiro para distribuir lugares pelos amigos.Ora esta crise dos partidos beneficiaria sempre o Presidente - e ainda beneficia mais Cavaco pois ele pertence a uma estirpe de homens públicos que não se identificam muito com os partidos.Uma estirpe a que pertencem também Salazar, Spínola ou Eanes - e à qual não pertencem Soares, Cunhal ou Sá Carneiro.Neste aspecto, uns e outros estão nos antípodas: os primeiros situam-se no campo do serviço público, os segundos no campo da luta partidária e ideológica.Recorde-se uma frase que Cavaco disse no anúncio da candidatura e a que os media deram pouca atenção mas que a assistência sublinhou com aplausos: «O meu partido é Portugal».Subliminarmente, Cavaco apresenta-se como o candidato de todos os portugueses, como o Presidente capaz de os unir - ao contrário dos outros, que se assumem como candidatos de facção e portanto dividem o país: Alegre apresenta-se como candidato da esquerda, Francisco Lopes como candidato comunista e Defensor Moura como candidato de alguns socialistas; neste aspecto, Nobre é o que se coloca mais longe dos partidos (mas talvez demasiado longe do mundo da política para suscitar confiança).É curioso que, tendo sido Cavaco ministro das Finanças um ano (1979-80), primeiro-ministro 10 anos (1985-95) e Presidente da República cinco anos (2006-11), continua a projectar a imagem de homem não político - ou, pelo menos, com um pé fora do sistema.É certo que essa imagem é em parte construída pela sua propaganda.Mas não deixa de ser genuína - pois tem que ver com a sua natureza.Cavaco não se dá bem com as máquinas partidárias, com os truques da política, sendo tipicamente um homem talhado para servir o Estado.Por tudo isto - porque as suas qualidades pessoais (seriedade, rigor, competência, patriotismo) inspiram confiança e porque na situação actual é beneficiado pelo descrédito dos políticos e pela crise que o país vive -, Cavaco Silva vai ter uma vitória esmagadora.É certo que a esquerda em Portugal é normalmente maioritária.Mas não é menos certo que o mesmo Cavaco, candidatando-se pelo PSD, conseguiu numas eleições legislativas mais de 50% dos votos.Quer isto dizer que o factor pessoal pode sobrepor-se à divisão esquerda-direita - e é seguramente o que sucederá em 23 de Janeiro.Se não for, podem cobrar-me por esta previsão.Tags: José António Saraiva, Política a Sério, Opinião
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3 de Dezembro, 2010Por José António Saraiva
Há precisamente um ano, um número considerável de comentadores (de esquerda e de direita) vaticinava que dificilmente Cavaco Silva teria condições para se recandidatar.Estava-se em pleno caso das escutas - o qual, segundo os mesmos comentadores, seria muito provavelmente o Watergate do inquilino de Belém.Muitas dessas pessoas depressa perceberam que se tinham enganado.Mas não desistiram das suas obsessões.E ainda há meia dúzia de semanas, com base em duvidosas sondagens, afirmavam que a probabilidade de um Presidente não ser reeleito nunca fora tão grande como nestas eleições.O homem capaz de o derrotar era, está bem de ver, Manuel Alegre.Agora, com os candidatos todos assumidos, generalizou-se a ideia oposta: que as presidenciais serão para Cavaco Silva um fácil passeio.O extraordinário disto é que muitos dos que o afirmam hoje são exactamente os mesmos que há um ano anunciavam a sua morte política e há menos de dois meses admitiam a sua derrota! E dizem-no com o mesmo ar sério com que antes diziam o contrário. O bom comentário político é aquele que resiste ao tempo.Ora, poucos comentadores produzem hoje comentários capazes de resistir, já não digo aos anos, mas a um escasso par de meses.Defendem-se eles dizendo que a conjuntura muda.Mas isso já sabiam quando faziam os vaticínios!Assim, ou se achavam capazes de ver um pouco além da ponta do próprio nariz ou se calavam para não errarem tantas vezes.Há um mês, quando escrevi que Cavaco se aproximaria dos 60% e Alegre dificilmente chegaria aos 35%, muito boa gente escandalizou-se.Hoje, várias sondagens já apontam para valores ainda mais extremados.E não é muito difícil perceber porquê.Para lá de ter a enorme vantagem de já estar em Belém, de ser um valor seguro, de não ter de andar a criticar ninguém (ao contrário dos outros candidatos, que passam a vida a criticá-lo a ele, colocando-o no centro do jogo político), Cavaco dispõe de duas enormes vantagens conjunturais.A primeira é a crise financeira e económica; a segunda é o descrédito dos partidos.A crise amplia necessariamente o capital de esperança no Presidente da República, que é a última reserva do sistema político.Ainda por cima, sendo ele economista e tendo sido primeiro-ministro em tempo de vacas gordas, não admira que seja visto um pouco como o Salvador do país, caso a situação ainda dê mais para o torto.A segunda vantagem de que Cavaco dispõe é o descrédito actual dos partidos políticos.Há cada vez mais pessoas a não acreditarem nos partidos, a terem sobre eles uma opinião negativa, a acharem que só querem servir-se e não servir a nação, a acusarem-nos de pôr os interesses próprios acima dos interesses comuns e de só quererem o poleiro para distribuir lugares pelos amigos.Ora esta crise dos partidos beneficiaria sempre o Presidente - e ainda beneficia mais Cavaco pois ele pertence a uma estirpe de homens públicos que não se identificam muito com os partidos.Uma estirpe a que pertencem também Salazar, Spínola ou Eanes - e à qual não pertencem Soares, Cunhal ou Sá Carneiro.Neste aspecto, uns e outros estão nos antípodas: os primeiros situam-se no campo do serviço público, os segundos no campo da luta partidária e ideológica.Recorde-se uma frase que Cavaco disse no anúncio da candidatura e a que os media deram pouca atenção mas que a assistência sublinhou com aplausos: «O meu partido é Portugal».Subliminarmente, Cavaco apresenta-se como o candidato de todos os portugueses, como o Presidente capaz de os unir - ao contrário dos outros, que se assumem como candidatos de facção e portanto dividem o país: Alegre apresenta-se como candidato da esquerda, Francisco Lopes como candidato comunista e Defensor Moura como candidato de alguns socialistas; neste aspecto, Nobre é o que se coloca mais longe dos partidos (mas talvez demasiado longe do mundo da política para suscitar confiança).É curioso que, tendo sido Cavaco ministro das Finanças um ano (1979-80), primeiro-ministro 10 anos (1985-95) e Presidente da República cinco anos (2006-11), continua a projectar a imagem de homem não político - ou, pelo menos, com um pé fora do sistema.É certo que essa imagem é em parte construída pela sua propaganda.Mas não deixa de ser genuína - pois tem que ver com a sua natureza.Cavaco não se dá bem com as máquinas partidárias, com os truques da política, sendo tipicamente um homem talhado para servir o Estado.Por tudo isto - porque as suas qualidades pessoais (seriedade, rigor, competência, patriotismo) inspiram confiança e porque na situação actual é beneficiado pelo descrédito dos políticos e pela crise que o país vive -, Cavaco Silva vai ter uma vitória esmagadora.É certo que a esquerda em Portugal é normalmente maioritária.Mas não é menos certo que o mesmo Cavaco, candidatando-se pelo PSD, conseguiu numas eleições legislativas mais de 50% dos votos.Quer isto dizer que o factor pessoal pode sobrepor-se à divisão esquerda-direita - e é seguramente o que sucederá em 23 de Janeiro.Se não for, podem cobrar-me por esta previsão.Tags: José António Saraiva, Política a Sério, Opinião
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