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Boas notícias (Regional)
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Mãe e filhas estão a sarar feridas com 12 anos
por ISALTINA PADRÃO
Hoje
Na casa onde o pai violou as duas filhas durante anos há nova vida: nasceu 'Maria'. O passado está cada vez mais longe.
Sorrisos, alguns deles transformados até em gargalhadas genuínas. Foi este o cenário que encontrámos ao entrar naquele apartamento, em Samora Correia, onde há ano e meio nos receberam três rostos femininos com o semblante carregado. Os doze anos de violações por parte do pai (palavra que, aliás, não existe lá em casa) deixaram marcas profundas, é certo. Marcas que, quando muito, diluir-se-ão no tempo. Mas nunca se apagarão. As três, mãe e filhas, sabem-no. Mas também se orgulham de estarem a conseguir, aos poucos, deixar para trás um passado cruel e vislumbrar um futuro "normal". Algo que o passado nunca lhes permitiu.
Muita coisa mudou de há ano e meio para cá. Coisas que estão a fazer desta uma "família normal" a uma velocidade que ninguém, nem as próprias, esperaria. Certo é que a grande mudança chegou sob forma humana, com o nascimento de "Maria", chamemos-lhe assim para proteger a identidade desta bebé de cinco meses. Uma identidade que mãe, avó e tia já não escondem e que há ano e meio faziam questão de preservar.
Agora são: Cristina Lourenço, uma mãe que nunca escondeu o nome mas a cara sim; Susana, a jovem de 20 anos a quem na altura ocultámos o rosto e chamámos "Joana"; e, por último, Rita - outrora apelidada de "Raquel", cuja imagem não apareceu no nosso jornal por ser menor mas que hoje já tem 19 anos. Agora já não há vergonha nem culpa - porque sabem que, a existir, como considerou o tribunal, ela nunca lhes pertenceu. E por isso dão a cara. E não escondem o nome. E falam delas - das memórias amargas do passado (pouco, porque dizem que "já passou"), do deslumbramento do presente (muito, porque é o que as preenche), e das expectativas para o futuro (algo de que têm esperança).
É nesse presente, de que muito falam, que a equipa de reportagem do DN se deixa envolver. Nem podia ser de outro jeito. A seguir ao sorriso de Cristina que nos abre a porta de casa e nos assalta a vista, outro dos cinco sentidos que logo nos é despertado é o olfacto: a casa cheira toda ela a bebé. Respira-se "Maria" por todo o lado. É ela quem ocupa mais espaço, físico e emocional, naquele T2, onde os momentos de dor começam a dar lugar ao prazer, ao riso, a uma vida já com alguma cor.
Para ajudar nisso, Filó,o companheiro de Susana e o pai de "Maria", não hesitou em mudar o quarto do casal logo que o teste de gravidez confirmou que Susana estava de esperanças "de uma menina"; não tinham dúvidas". Acertaram e o vestido rosa-velho comprado antes de saberem o sexo do bebé revelou-se útil. Assim como o mesmo tom rosa-velho, que predomina no quarto onde dormem Susana, Filó e "Maria", claro. A parede pintada de verde simboliza seguramente a esperança, a certa altura perdida, que agora está a renascer "aos poucos, tudo aos poucos".
Susana está nas nuvens. Há ano é meio tinha-nos confessado que gostava de constituir família, apesar de ter receio que acontecesse a uma filha sua o mesmo que lhe aconteceu. Hoje diz que já concretizou um sonho, que chegou a temer nunca ser possível: "Já tenho a minha família. A 'Maria' foi planeada e muito desejada, e sei que não lhe vai acontecer nada de mal. Com o Filó [o seu único namorado] sinto-me segura. Ele é um pai e um companheiro muito presente."
Rita é testemunha disso. Com o cunhado descobriu que "não há só homens maus", como pensava até então. Mas isso não faz demover esta jovem de ideias fixas. Há ano e meio garantia ao DN que não queria casar nem constituir família. Agora mantém as mesmas ideias. "Casar não é para mim. Gosto muito do Filó e adoro a 'Maria' [de quem até toma conta], mas eu não quero isso para mim". "Essa decisão tem a ver com o que te aconteceu no passado?", perguntamos. "Não, não mesmo", garante-nos.
Perante o à-vontade na resposta e de nos dizer que não se importa de falar do passado, recuamos no tempo. O senhor Carlos - começámos por tratar o pai pelo nome -, faz falta cá em casa? Enquanto a mãe abana negativamente a cabeça, as filhas respondem em sintonia: "Nenhuma." A palavra pai nunca é dita naquela conversa. Asseguram que nunca falam dele, nem tratando-o pela condição de progenitor, nem pelo nome próprio. Garantem que nunca o visitaram na prisão, nem querem fazê-lo. "Não sabemos sequer para onde foi transferido, nem queremos saber", afirma a mãe, Cristina.
Uma certeza têm Susana e Rita: 22 anos de prisão é muito pouco para quem fez o que fez. Apesar disso, não têm dúvidas de que um dos dias mais felizes das suas vidas foi aquele em que Carlos Oliveira Correia foi condenado pelas 3600 violações a cada uma das filhas.
Foram essas violações que conduziram Carlos à cadeia e Susana e Rita ao psicólogo. Há já algum tempo que prescindiram do acompanhamento e dizem sentir-se "quase felizes" e prontas para enfrentar a vida. Susana é efectiva num lar, ao qual regressou no final de Outubro após a licença de maternidade. O dinheiro dela, juntamente com o de Filó, que trabalha nas obras e faz uns biscates, tem um destino: uma casa só para eles.
Rita sai todos as tardes à procura de trabalho. Até agora, nada, mas ela não é esquisita e vai agarrar o que aparecer. "Tenho de estar ocupada e dar algum dinheiro para casa", justifica. Cristina mantém o seu trabalho como empregada doméstica num lar e na casa de três patroas. Perante este cenário, não se queixam da vida e dizem que "dá para as despesas". Mesmo com a "Maria" a "sugar dinheiro" para fraldas
In DN
Mãe e filhas estão a sarar feridas com 12 anos
por ISALTINA PADRÃO
Hoje
Na casa onde o pai violou as duas filhas durante anos há nova vida: nasceu 'Maria'. O passado está cada vez mais longe.
Sorrisos, alguns deles transformados até em gargalhadas genuínas. Foi este o cenário que encontrámos ao entrar naquele apartamento, em Samora Correia, onde há ano e meio nos receberam três rostos femininos com o semblante carregado. Os doze anos de violações por parte do pai (palavra que, aliás, não existe lá em casa) deixaram marcas profundas, é certo. Marcas que, quando muito, diluir-se-ão no tempo. Mas nunca se apagarão. As três, mãe e filhas, sabem-no. Mas também se orgulham de estarem a conseguir, aos poucos, deixar para trás um passado cruel e vislumbrar um futuro "normal". Algo que o passado nunca lhes permitiu.
Muita coisa mudou de há ano e meio para cá. Coisas que estão a fazer desta uma "família normal" a uma velocidade que ninguém, nem as próprias, esperaria. Certo é que a grande mudança chegou sob forma humana, com o nascimento de "Maria", chamemos-lhe assim para proteger a identidade desta bebé de cinco meses. Uma identidade que mãe, avó e tia já não escondem e que há ano e meio faziam questão de preservar.
Agora são: Cristina Lourenço, uma mãe que nunca escondeu o nome mas a cara sim; Susana, a jovem de 20 anos a quem na altura ocultámos o rosto e chamámos "Joana"; e, por último, Rita - outrora apelidada de "Raquel", cuja imagem não apareceu no nosso jornal por ser menor mas que hoje já tem 19 anos. Agora já não há vergonha nem culpa - porque sabem que, a existir, como considerou o tribunal, ela nunca lhes pertenceu. E por isso dão a cara. E não escondem o nome. E falam delas - das memórias amargas do passado (pouco, porque dizem que "já passou"), do deslumbramento do presente (muito, porque é o que as preenche), e das expectativas para o futuro (algo de que têm esperança).
É nesse presente, de que muito falam, que a equipa de reportagem do DN se deixa envolver. Nem podia ser de outro jeito. A seguir ao sorriso de Cristina que nos abre a porta de casa e nos assalta a vista, outro dos cinco sentidos que logo nos é despertado é o olfacto: a casa cheira toda ela a bebé. Respira-se "Maria" por todo o lado. É ela quem ocupa mais espaço, físico e emocional, naquele T2, onde os momentos de dor começam a dar lugar ao prazer, ao riso, a uma vida já com alguma cor.
Para ajudar nisso, Filó,o companheiro de Susana e o pai de "Maria", não hesitou em mudar o quarto do casal logo que o teste de gravidez confirmou que Susana estava de esperanças "de uma menina"; não tinham dúvidas". Acertaram e o vestido rosa-velho comprado antes de saberem o sexo do bebé revelou-se útil. Assim como o mesmo tom rosa-velho, que predomina no quarto onde dormem Susana, Filó e "Maria", claro. A parede pintada de verde simboliza seguramente a esperança, a certa altura perdida, que agora está a renascer "aos poucos, tudo aos poucos".
Susana está nas nuvens. Há ano é meio tinha-nos confessado que gostava de constituir família, apesar de ter receio que acontecesse a uma filha sua o mesmo que lhe aconteceu. Hoje diz que já concretizou um sonho, que chegou a temer nunca ser possível: "Já tenho a minha família. A 'Maria' foi planeada e muito desejada, e sei que não lhe vai acontecer nada de mal. Com o Filó [o seu único namorado] sinto-me segura. Ele é um pai e um companheiro muito presente."
Rita é testemunha disso. Com o cunhado descobriu que "não há só homens maus", como pensava até então. Mas isso não faz demover esta jovem de ideias fixas. Há ano e meio garantia ao DN que não queria casar nem constituir família. Agora mantém as mesmas ideias. "Casar não é para mim. Gosto muito do Filó e adoro a 'Maria' [de quem até toma conta], mas eu não quero isso para mim". "Essa decisão tem a ver com o que te aconteceu no passado?", perguntamos. "Não, não mesmo", garante-nos.
Perante o à-vontade na resposta e de nos dizer que não se importa de falar do passado, recuamos no tempo. O senhor Carlos - começámos por tratar o pai pelo nome -, faz falta cá em casa? Enquanto a mãe abana negativamente a cabeça, as filhas respondem em sintonia: "Nenhuma." A palavra pai nunca é dita naquela conversa. Asseguram que nunca falam dele, nem tratando-o pela condição de progenitor, nem pelo nome próprio. Garantem que nunca o visitaram na prisão, nem querem fazê-lo. "Não sabemos sequer para onde foi transferido, nem queremos saber", afirma a mãe, Cristina.
Uma certeza têm Susana e Rita: 22 anos de prisão é muito pouco para quem fez o que fez. Apesar disso, não têm dúvidas de que um dos dias mais felizes das suas vidas foi aquele em que Carlos Oliveira Correia foi condenado pelas 3600 violações a cada uma das filhas.
Foram essas violações que conduziram Carlos à cadeia e Susana e Rita ao psicólogo. Há já algum tempo que prescindiram do acompanhamento e dizem sentir-se "quase felizes" e prontas para enfrentar a vida. Susana é efectiva num lar, ao qual regressou no final de Outubro após a licença de maternidade. O dinheiro dela, juntamente com o de Filó, que trabalha nas obras e faz uns biscates, tem um destino: uma casa só para eles.
Rita sai todos as tardes à procura de trabalho. Até agora, nada, mas ela não é esquisita e vai agarrar o que aparecer. "Tenho de estar ocupada e dar algum dinheiro para casa", justifica. Cristina mantém o seu trabalho como empregada doméstica num lar e na casa de três patroas. Perante este cenário, não se queixam da vida e dizem que "dá para as despesas". Mesmo com a "Maria" a "sugar dinheiro" para fraldas
In DN
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