Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Os pobrezinhos

3 participantes

Ir para baixo

Os pobrezinhos Empty Os pobrezinhos

Mensagem por Viriato Dom Dez 26, 2010 7:50 am

A apropriação da pobreza

Rui Herbon

Ao ver agora o escandaloso aproveitamento da pobreza como matéria de propaganda presidencial, não pude deixar de lembrar as saborosas páginas que António Alçada Baptista dedicou aos pobres, e ao universo da caridade em que eles estavam metidos, no primeiro volume de Peregrinação Interior. A pobreza era então um fenómeno que estava e se reproduzia, naturalmente, na sociedade portuguesa (poucos desconfiavam então da naturalidade das coisas), e pousava nas casas e nas pessoas como se fosse uma visita de nosso senhor Jesus Cristo, como um dia ironizou António José Saraiva. O que é interessante, do ponto de vista sociológico, na descrição de Alçada, é a forma como os pobres se tornavam uma espécie de coisas, um contingente apreciado para conquista de estatuto social, que subia na relação directa do número de pobres abençoados pela protecção do senhor ou da senhora. Ter um pobre era qualquer coisa. Às vezes queixavam-se: «O meu pobre está impossível». Outros desfaziam confusões, como no telefonema que Alçada recria: «Afinal não foi o meu pobre que morreu, foi o teu».



Pelos vistos, o actual presidente da república tem muitos pobrezinhos. O problema não é sua excelência fazer acções de caridadezinha – se é que faz –, que devem ser contidas nos estritos limites da impessoalidade. A questão é que o problema da fome é, por natureza, uma situação com tal dimensão social, que assume uma fronteira clara de dignidade, que em caso algum deve ser ultrapassada. Por isso, a apropriação da pobreza como bandeira de propaganda, em palavras e imagens (basta lembrar o casamento do antigo sem-abrigo), é sempre uma falta de senso e uma indignidade.


Viriato
Viriato

Pontos : 16657

Ir para o topo Ir para baixo

Os pobrezinhos Empty Re: Os pobrezinhos

Mensagem por Viriato Seg Dez 27, 2010 3:16 am

Luís M. Jorge, Um natal supé feliz. Excertos:



«[...] o país foi consumido por uma orgia salazarenga de caridade e devoção. Os sem-abrigo casaram-se em barda, as mães de Cascais fizeram soufflés aos entrevados, a Júlia e o Goucha entrevistaram manetas, tuberculosos e débeis mentais. Os alcoólicos sorveram sopa com cheirinho, muito boa, muito quentinha. Um patego da Guarda trajou de pai natal e deu chocolates do Lidl à terceira idade. [...] Portugal está em júbilo, porque bastou um ano de crise para reencontrar os seus pobrezinhos no adro da igreja, os seus velhos de pés em chaga, os meninos escalavrados a lamber o ranho e a estender as mãos. E já tinhamos todos tantas saudades. Na televisão, uma dondoca serve bacalhau aos desempregados e deseja-me um Natal supé feliz. Para si também, tia. Vemo-nos no reveillon — ou no céu, se Deus quiser.»
Viriato
Viriato

Pontos : 16657

Ir para o topo Ir para baixo

Os pobrezinhos Empty Re: Os pobrezinhos

Mensagem por Joao Ruiz Seg Dez 27, 2010 3:57 am

.
Se não fosse trágico, dava para rir..


lol! lol! lol! lol! lol! lol! lol! lol!

_________________
Amigos?Longe! Inimigos? O mais perto possível!
Joao Ruiz
Joao Ruiz

Pontos : 32035

Ir para o topo Ir para baixo

Os pobrezinhos Empty Re: Os pobrezinhos

Mensagem por Vitor mango Seg Dez 27, 2010 6:19 am

Viriato escreveu:Luís M. Jorge, Um natal supé feliz. Excertos:



«[...] o país foi consumido por uma orgia salazarenga de caridade e devoção. Os sem-abrigo casaram-se em barda, as mães de Cascais fizeram soufflés aos entrevados, a Júlia e o Goucha entrevistaram manetas, tuberculosos e débeis mentais. Os alcoólicos sorveram sopa com cheirinho, muito boa, muito quentinha. Um patego da Guarda trajou de pai natal e deu chocolates do Lidl à terceira idade. [...] Portugal está em júbilo, porque bastou um ano de crise para reencontrar os seus pobrezinhos no adro da igreja, os seus velhos de pés em chaga, os meninos escalavrados a lamber o ranho e a estender as mãos. E já tinhamos todos tantas saudades. Na televisão, uma dondoca serve bacalhau aos desempregados e deseja-me um Natal supé feliz. Para si também, tia. Vemo-nos no reveillon — ou no céu, se Deus quiser.»
Ainda tenho na memoria o livro da 3ª ou 4* classe em que um puto vinha trazer á porta um prato de sopa
O xalaxar e o Cerejeira nem sequer tinha vergonha na puta da cara para saberem que tem fome nao pode estar a espera da caridade alheia
Um estado social nao faz caridade mas estica a mão e resolve com dignidade
Vitor mango
Vitor mango

Pontos : 118184

Ir para o topo Ir para baixo

Os pobrezinhos Empty Re: Os pobrezinhos

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo


 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos