Nostalgia reaccionária
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Nostalgia reaccionária
16 Março 2011
Nostalgia reaccionária
A
ideia de felicidade em articulação com a de natureza pródiga só podia
ser interpretada como possibilidade de intervenção técnica (económica,
industrial) em favor do homem. Passou-se da interpretação teológica da
natureza para a teleologia da felicidade e do Paraíso ao alcance da mão
armada com a tecnologia. Era o progresso. O progresso trouxe mais vidas,
multiplicou-as, trouxe mais comunicação, máquinas, informação, cidades,
consumo. Trouxe tudo, até dinamite, metralhadoras, campos de
concentração, combóios de morte, cidades crescendo como metástases de
cancro.
Para
controlar as forças do progresso, o Estado tornou-se mais forte,
cresceu sobre os homens e as sociedades. Cresceu em polícias secretas,
em vigilância, bilhetes de identidade e passaportes. A violência passou a
ser impessoal, coisa de massas e em nome destas nasceram as ideologias
da felicidade colectiva contra a felicidade dos indivíduos. Foi
necessário inventar as guerras totais para pôr fim às ideologias totais.
A bomba atómica p arecia ser a última ratio da irracionalidade lúcida.
Esperavam que, depois de Hiroshima, se voltasse à felicidade. Ora, a
natureza, voltou a ser mal, destrói a presunção da potência humana e a
tecnologia vai matando o planeta. Onde antes havia o bárbaro
especializado no ferro das espadas, temos hoje os novos bárbaros
manipulando as gónadas e os átomos. Conseguiram ? Pois, olhem para o
Japão. Estamos a assistir em directo ao fim da tradição racional
ocidental.
Assisti há minutos a uma intervenção de Patrick Monteiro
de Barros cantando hossanas à tecnologia. Registo velho do optimismo do
homem-deus, tão velho como Comte ou Júlio Verne. O discurso soa a
exultação fingida. O homem fala em "crescimento", "desenvolvimento" e
mercado como se tais coisas fossem um bem em si. Sim, no fundo, na
perspectiva dele, tem razão: dinheiro, negócios e mais nada. Que venham
uns Virgilios e se calem, de vez, os bárbaros da baixa feitiçaria.
Publicada por
Combustões
em
16.3.11
0
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Nostalgia reaccionária
A
natureza deixou de ser um mal nos séculos XVII e XVIII para passar a
ser o local onde se localizava a perfeição divina. Julgaram os filósofos
que os homens se aperfeiçoariam através da natureza e apresentaram-na
como imagem da perfeição divina, a imagem da divindade. Daí que a
ciência, a nova relação do homem com Deus, destronasse a "superstição". A
ciência traria a felicidade. Onde antes havia o temor reverencial,
passou a haver cientistas em busca de leis inscritas por Deus; depois,
os engenheiros simplificaram a ciência, aplicando-a às máquinas e
destronaram os cientistas chamando-lhes "especuladores" vãos.
natureza deixou de ser um mal nos séculos XVII e XVIII para passar a
ser o local onde se localizava a perfeição divina. Julgaram os filósofos
que os homens se aperfeiçoariam através da natureza e apresentaram-na
como imagem da perfeição divina, a imagem da divindade. Daí que a
ciência, a nova relação do homem com Deus, destronasse a "superstição". A
ciência traria a felicidade. Onde antes havia o temor reverencial,
passou a haver cientistas em busca de leis inscritas por Deus; depois,
os engenheiros simplificaram a ciência, aplicando-a às máquinas e
destronaram os cientistas chamando-lhes "especuladores" vãos.
A
ideia de felicidade em articulação com a de natureza pródiga só podia
ser interpretada como possibilidade de intervenção técnica (económica,
industrial) em favor do homem. Passou-se da interpretação teológica da
natureza para a teleologia da felicidade e do Paraíso ao alcance da mão
armada com a tecnologia. Era o progresso. O progresso trouxe mais vidas,
multiplicou-as, trouxe mais comunicação, máquinas, informação, cidades,
consumo. Trouxe tudo, até dinamite, metralhadoras, campos de
concentração, combóios de morte, cidades crescendo como metástases de
cancro.
Para
controlar as forças do progresso, o Estado tornou-se mais forte,
cresceu sobre os homens e as sociedades. Cresceu em polícias secretas,
em vigilância, bilhetes de identidade e passaportes. A violência passou a
ser impessoal, coisa de massas e em nome destas nasceram as ideologias
da felicidade colectiva contra a felicidade dos indivíduos. Foi
necessário inventar as guerras totais para pôr fim às ideologias totais.
A bomba atómica p arecia ser a última ratio da irracionalidade lúcida.
Esperavam que, depois de Hiroshima, se voltasse à felicidade. Ora, a
natureza, voltou a ser mal, destrói a presunção da potência humana e a
tecnologia vai matando o planeta. Onde antes havia o bárbaro
especializado no ferro das espadas, temos hoje os novos bárbaros
manipulando as gónadas e os átomos. Conseguiram ? Pois, olhem para o
Japão. Estamos a assistir em directo ao fim da tradição racional
ocidental.
Assisti há minutos a uma intervenção de Patrick Monteiro
de Barros cantando hossanas à tecnologia. Registo velho do optimismo do
homem-deus, tão velho como Comte ou Júlio Verne. O discurso soa a
exultação fingida. O homem fala em "crescimento", "desenvolvimento" e
mercado como se tais coisas fossem um bem em si. Sim, no fundo, na
perspectiva dele, tem razão: dinheiro, negócios e mais nada. Que venham
uns Virgilios e se calem, de vez, os bárbaros da baixa feitiçaria.
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Combustões
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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