Respeito sem temores reverenciais
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Respeito sem temores reverenciais
Respeito sem temores reverenciais
De
um investigador canadiano residente no Sudeste-Asiático, recebi hoje
uma simpática manifestação a propósito do livrinho que há um mês
apresentei na Siam Society. Diz-me o historiador que se lhe revelou uma
perspectiva que desconhecia e documentação à qual aqueles que não
dominam a nossa língua não têm acesso, acrescentando que a
invisibilidade editorial portuguesa no circuito livreiro é uma das
causas para a não-existência de Portugal; ou seja, quem não aparece não
é, não existe, está de fora. Tudo o que se fizer para divulgar os
imensos recursos bibliográficos e arquivísticos portugueses merece
aplauso e se à divulgação se adicionar a perspectiva portuguesa -
conquanto séria, fundamentada e rigorosa - pode-se fazer serviço sem
atropelo da deontologia académica e amor pelo conhecimento.
um investigador canadiano residente no Sudeste-Asiático, recebi hoje
uma simpática manifestação a propósito do livrinho que há um mês
apresentei na Siam Society. Diz-me o historiador que se lhe revelou uma
perspectiva que desconhecia e documentação à qual aqueles que não
dominam a nossa língua não têm acesso, acrescentando que a
invisibilidade editorial portuguesa no circuito livreiro é uma das
causas para a não-existência de Portugal; ou seja, quem não aparece não
é, não existe, está de fora. Tudo o que se fizer para divulgar os
imensos recursos bibliográficos e arquivísticos portugueses merece
aplauso e se à divulgação se adicionar a perspectiva portuguesa -
conquanto séria, fundamentada e rigorosa - pode-se fazer serviço sem
atropelo da deontologia académica e amor pelo conhecimento.
No
que às coisas portuguesas da Ásia respeita, confesso que já só leio
duas ou três autoridades e as restantes, tão estafadas na repetição de
coisas sempre glosadas e tão apegadas à miséria das cronologias,
ponho-as de parte. Como suspeitava, parece que tudo está por fazer no
que ao Oriente português respeita. As pessoas não gostam de trabalhar,
pelo que se encavalitam em meia dúzia de topos, não se dão ao trabalho
de ler exaustivamente fontes secundárias e primárias, portuguesas como
estrangeiras, falta-lhes capacidade hermenêutica, não se conseguem
libertar de etiquetas e lugares-comuns; enfim, estão cegas ou
deixaram-se enredar na teia de medos e temores reverenciais. Depois, há a
atitude. A universidade portuguesa ensina o medo, inibe a liberdade,
erige altares e mitos e não se dá ao trabalho de se aventurar no
desconhecido.
que às coisas portuguesas da Ásia respeita, confesso que já só leio
duas ou três autoridades e as restantes, tão estafadas na repetição de
coisas sempre glosadas e tão apegadas à miséria das cronologias,
ponho-as de parte. Como suspeitava, parece que tudo está por fazer no
que ao Oriente português respeita. As pessoas não gostam de trabalhar,
pelo que se encavalitam em meia dúzia de topos, não se dão ao trabalho
de ler exaustivamente fontes secundárias e primárias, portuguesas como
estrangeiras, falta-lhes capacidade hermenêutica, não se conseguem
libertar de etiquetas e lugares-comuns; enfim, estão cegas ou
deixaram-se enredar na teia de medos e temores reverenciais. Depois, há a
atitude. A universidade portuguesa ensina o medo, inibe a liberdade,
erige altares e mitos e não se dá ao trabalho de se aventurar no
desconhecido.
Estava
ontem a dar os últimos retoques num capítulo referente à Missão de Frei
Francisco das Chagas Ribeiro ao Sião, entre 1783-85 e pasmei com
algumas passagens, plenas de disparates que encontrei em escritos de
dois investigadores portugueses que verteram opinião sobre essa
embaixada. Parece que tendo a evidência em frente dos olhos, se
mostraram incapazes de compreender e interpretar o mais escorreito
português dos documentos. Depois, glosando uma obra francesa de finais
do século XIX, encontrei, pela voz de um francês, aquilo que os nossos
preclaros "historiadores" não haviam conseguido ler... em português !
ontem a dar os últimos retoques num capítulo referente à Missão de Frei
Francisco das Chagas Ribeiro ao Sião, entre 1783-85 e pasmei com
algumas passagens, plenas de disparates que encontrei em escritos de
dois investigadores portugueses que verteram opinião sobre essa
embaixada. Parece que tendo a evidência em frente dos olhos, se
mostraram incapazes de compreender e interpretar o mais escorreito
português dos documentos. Depois, glosando uma obra francesa de finais
do século XIX, encontrei, pela voz de um francês, aquilo que os nossos
preclaros "historiadores" não haviam conseguido ler... em português !
Afinal
- e isso não compreenderam as nossas sumidades - houve uma Entente
luso-francesa na Ásia entre 1777 e 1789. Portugal, que saíra vitorioso
da Guerra dos Sete Anos, não queria uma Inglaterra demasiado forte -
aliada, mas perigosa - fez as pazes com Roma a respeito das jurisdições
apostólicas, aceitou engrenar na "Liga dos Neutrais" congeminada pelo
conde Vergennes, o homem que dominou a política externa de Luís XVI e
juntou-se à França na intervenção no Vietname. Está lá tudo nos
documentos, mas a culpa não é dos documentos, mas de quem os não
consegue ler.
- e isso não compreenderam as nossas sumidades - houve uma Entente
luso-francesa na Ásia entre 1777 e 1789. Portugal, que saíra vitorioso
da Guerra dos Sete Anos, não queria uma Inglaterra demasiado forte -
aliada, mas perigosa - fez as pazes com Roma a respeito das jurisdições
apostólicas, aceitou engrenar na "Liga dos Neutrais" congeminada pelo
conde Vergennes, o homem que dominou a política externa de Luís XVI e
juntou-se à França na intervenção no Vietname. Está lá tudo nos
documentos, mas a culpa não é dos documentos, mas de quem os não
consegue ler.
Publicada por
Combustões
em
22.3.11
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Etiquetas:
500 anos de relações entre Portugal e a Tailândia; 500 ปี ความสัมพันธ์ไทยโปรตุเกส
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 117576
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