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Mário Soares. "O PS tem de fazer uma grande separação de águas"

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Mário Soares. "O PS tem de fazer uma grande separação de águas" Empty Mário Soares. "O PS tem de fazer uma grande separação de águas"

Mensagem por Vitor mango Sáb Jun 11, 2011 2:07 am

Mário Soares. "O PS tem de fazer uma grande separação de águas"
Publicado em 11 de Junho de 2011 | Actualizado há 7 horas
O fundador acredita que a saída de Sócrates permitirá "renovação do partido". "O PS tem de mudar", diz
.
O ?Qi? é uma parceria entre o canal Q (só disponível no MEO e na internet) e o jornal i. Todas as sextas-feiras, às 23h10, discutimos como mudar a política. A entrevista será publicada no i de sábado
Foi ontem para o ar o primeiro "Qi", um programa feito em parceria entre o canal Q e o jornal i. Para discutir como mudar a política convidámos Mário Soares - who else? O fundador do PS acredita que fará bem ao seu partido "uma cura de oposição" e que a demissão de Sócrates facilitará a renovação do PS, que vai acontecer, acredita o ex-Presidente da República, qualquer que venha a ser o líder. A promiscuidade entre política e negócios é condenada por Soares, que defende que também o PS "precisa de fazer uma grande separação de águas" e que "tem de mudar".

Neste mundo tão dominado pelos financeiros e os economistas e pela ditadura dos mercados, até que ponto é que precisamos de um regresso à política?

É preciso voltar à política, que é uma das actividades mais nobres do ser humano desde a Grécia. Sem política não podemos andar para diante. O que se está a passar um pouco por toda a parte - pior na Europa do que na América - é que a política está a ficar subordinada aos mercados. Já não é o Estado que manda, são os mercados, que não se sabe para onde é que vão e quem os domina.

Mas numa altura em que estão tão desacreditados os economistas e os financeiros, não seria a oportunidade para os políticos recuperarem o lugar que lhes é devido?

Eu esperava isso. Quando escrevi "O Elogio da Política", no fim de 2009, pensei que, com esta crise terrível, depois de os banqueiros terem ficado tão desvairados que andaram a pedir aos políticos para os salvarem, era altura de fazer o elogio da política e voltarmos à política. Mas não é isso que está a suceder, pelo menos na Europa.

Mas porque não emergiram novos rostos na Europa?

É uma pergunta fácil de fazer, mas difícil de responder. O que eu sei é que os políticos que aparecem hoje não estão à altura das circunstâncias.

O senhor é muito crítico em relação a Angela Merkel, Sarkozy, Berlusconi...

Cameron... Todos. Não há excepções. Até aqui havia três países da União Europeia que eram governados por socialistas, os gregos, os espanhóis e os portugueses, embora alguns com influências de Tony Blair. Desses três, dois já foram vítimas dos mercados. E é possível que o mesmo possa acontecer a Espanha, o que é muitíssimo mais perigoso para a Europa. Está a ser muito triste o que se está a passar na Europa. A Grécia é o berço da democracia, da filosofia, da ciência e trata-se a Grécia como se fosse assim uma pequena coisa? Uma pátria que teve Aristóteles e Platão!

O próprio Sócrates entrou um bocadinho nessa via blairista e de subordinação aos mercados...

Nos primeiros anos, quando apareceu, foi um pouco influenciado por Tony Blair, mas felizmente mudou de ideias. O próprio Guterres também tinha ficado um pouco deslumbrado com Blair, mas isso passou rapidamente...

Felizmente, na sua opinião...

Felizmente. Eu sempre fui contra Blair! Nunca achei que tivesse mérito. É um homem inteligente, pessoalmente muito simpático, mas um homem sem princípios que queria subir na vida e enriquecer, como enriqueceu. Ele hoje é um potentado.

O senhor acha que a promiscuidade entre a política e os negócios também destruiu a política nos últimos anos?

A política é uma actividade nobre, mas tem de ser desinteressada e não se pode misturar com o negocismo. Política e negócios são coisas incompatíveis. Quando cheguei a Portugal, depois do 25 de Abril, falei com o meu camarada Zenha. Éramos os dois advogados de profissão e decidimos entregar o cartão, porque um advogado defende interesses privados e um político defende interesses só públicos. Fomos os dois à Ordem e entregámos os nossos cartões. O Zenha, quando abandonou o Partido Socialista, e depois do desastre que teve nas eleições, regressou à advocacia. Eu não regressei mais.

Mas esse escrúpulo não existe hoje...

Pelo contrário. Há muitos advogados que persistem, que estão lá exactamente porque lhes convém, porque lhes dá maneira de entrar nas esferas do Estado onde se podem discutir interesses económicos.

Isso acaba por ser tráfico de influências...

Exactamente. É isso mesmo

Mas isso acontece em todos os partidos, inclusivamente no Partido Socialista. Não há uma forma de resistir?

Nós terminámos um ciclo e vamos entrar noutro. Penso que o Partido Socialista, para rapidamente poder voltar a ter a posição no mundo político e no Estado que merece, precisa de fazer uma grande separação de águas. O PS tem de mudar.

E com estas duas candidaturas, António José Seguro e Francisco Assis, há condições para a mudança?

Acho que a grande lição veio de Sócrates. Sócrates perdeu as eleições e assumiu a responsabilidade de as ter perdido. Disse-o no discurso, que foi um dos melhores que fez. Podia-se não ter retirado, porque foi eleito por 93%. Eu perdi algumas eleições e não me retirei de secretário-geral do Partido Socialista. Não era obrigatório, ninguém lhe pediu para fazer. Mas ele fez e isso foi um acto que eu aplaudo. Um acto muito inteligente da parte dele. Agora vai à sua vida, não vai ser deputado, vai estar fora certamente... E isso é muito bom porque dá a possibilidade de haver uma renovação dentro do Partido Socialista. E ele voltará nessa altura.

Acha que Sócrates voltará?

Estou convencido que daqui a seis meses, ou talvez um ano, as pessoas começam a dizer que Sócrates afinal não era assim tão mau...

Mas voltar para quê? Candidato à Presidência da República?

Isso depende da vontade dele.

Mas não acredita que ele feche a porta à política...

Acho que ele não tem a ideia de deixar a política. Tem a ideia é de fazer uma pausa, meditar, estudar, reflectir, ler. E depois se verá. E isso é inteligente, a meu ver.

Não acredita que este governo que foi eleito agora dure até ao fim da legislatura?

Até ao fim da legislatura é possível que dure. Depende. Mas vai ter problemas muitíssimo difíceis. Em primeiro lugar, o entendimento entre os dois partidos que vão constituir o governo não vai ser fácil. A ideia que uns e outros têm do que é o Estado varia muito...

Já o entendimento entre o PSD e o próprio PSD às vezes é difícil...

Neste momento toda a gente se rendeu à vitória do Pedro Passos Coelho. E mesmo aqueles que eram contra ele agora ficam calmos.

Foi dos poucos socialistas a elogiar Passos Coelho...

Sempre disse que o Passos Coelho era um homem do ponto de vista moral bastante sério e um homem inteligente, isso sempre achei. Conheço-o desde o tempo da JSD. E dei-me sempre bem com ele.

Acha que ele tem perfil para aguentar o país nesta altura?

Primeiro, o povo português escolheu-o. Quando Sócrates foi escolhido, também mal se o conhecia, essa é que é a verdade.

Em relação ao PS, e depois dessa terceira via, qual é o caminho ideológico que o partido pode explorar? Virar à esquerda, à direita?

Não se trata disso. Trata-se de ser socialista e democrático. São as duas coisas importantes. O Bloco parecia ser uma renovação que podia, inclusivamente, influenciar os socialistas portugueses. Eu desfilei com eles em várias alturas, na guerra do Iraque e noutros momentos. Mas o Bloco desta vez foi muito mau, no meu entender, porque passou a ser muito visivelmente trotskista, já não é estalinista. Não sei qual deles é o melhor. Bem, o Trotsky era muito mais brilhante, porque foi um grande escritor também e era um homem extraordinário... Mas o trotskismo passou de moda. E perdeu. Depois da morte do Trotsky o que foi o trotskismo? Não foi nada em parte nenhuma do mundo, porque é que havia de ser aqui em Portugal?

Acha que estar na oposição vai fazer bem ao PS?

Acho que sim e era indispensável. Na altura a que se chegou era indispensável.

E em relação a estas duas candidaturas que se perfilam no PS tem preferência?

Sou amigo de ambos. Ambos me telefonaram e falaram comigo. Eu sou o militante número um do Partido Socialista desde sempre, mas não tenho nenhuma função no partido, não tenho nenhuma militância partidária.

Quais são as qualidades de um e de outro?

Eu não vou votar no partido, não fui a mais nenhum congresso depois de deixar de ser secretário-geral do PS.

Mas não nos pode adiantar nada sobre isso?

Ambos têm grande qualidade intelectual e moral. Aí não há diferença. O resto depende dos amigos que tiverem e de muitos factores. Mas a renovação vai-se fazer, qualquer que seja o líder. Mas independentemente disso, não sei quem vai ser o próximo secretário-geral. E ambos têm, um e outro, um temperamento bastante cordial e uma camaradagem que permite que qualquer que seja o que ganhe não fique zangado com o outro, antes pelo contrário.

Mas acha que os dois juntos conseguem renovar o PS?

Às vezes dizem que é uma humilhação perder. Eu convidava as pessoas para ministros e para outras coisas e elas diziam-me: se perder é uma humilhação... E eu dizia não é nada. Perder em democracia é tão honroso como ganhar. É absolutamente normal. E isso o Sócrates entendeu bem.

Falou já que fazia falta ao PS uma cura de oposição. Estamos num partido que já está doente ao fim de seis anos de poder? Que doenças é que tem e como se podem curar essas doenças?

Ser da oposição é uma coisa, ter doenças é outra. Não falei em doenças. Mas acho que realmente a cura da oposição se impunha, porque houve seis anos de governação. Seis anos é muito ano. E com grandes dificuldades, com grandes problemas, com grandes modificações no plano interno português e europeu. Portanto, agora é preciso uma cura da oposição e ainda bem que vai haver essa cura. Para o Partido Socialista é altamente estimulante, do meu ponto de vista.

E qual é a medicação ou a modificação?

Tem a ver com as mudanças de liderança do PS. Vai haver um congresso, vai haver muita discussão, e essa discussão vai ser política. Alguns já disseram que tinha de haver a discussão das ideias e as concepções para o futuro.

Ou seja regressar às ideias e deixar um pouco para trás...

Regressar às ideias e à ideologia.

O PS está entalado entre um compromisso que fez com a troika e a recuperação de um eleitorado de esquerda que neste momento pode vir a ser capitalizado por causa do descontentamento, do desemprego...

Uma coisa é evidente. Houve uma mudança de governo. Há um compromisso assinado a três e agora a responsabilidade passa a ser do governo e não da oposição. Era o que faltava era que o Partido Socialista tivesse sido e agora continuasse a ser o responsável.

Não acha que uma vez que não vai haver eleições tão cedo, estes dois candidatos não sejam para queimar?

Acho que não, mas veremos.

Têm o fantasma de António Costa...

Eu achei bem que ele não se candidatasse nesta altura, porque já tínhamos uma experiência. O Dr. Jorge Sampaio era presidente da Câmara de Lisboa quando foi eleito secretário-geral do Partido Socialista. E era muito difícil exercer essas duas funções. António Costa foi muito consciencioso em tomar essa decisão.

Mas há quem defenda que Costa se deve tornar presidente do PS e ser o futuro candidato a primeiro-ministro. Acha que isto faz algum sentido?

Li isso no i, mas acho que não tem pés para andar.

E outra hipótese de ele se estar a guardar para a presidência da República?

Não sei. Haverá outros, com certeza.

A nível mundial, há sinais de esperança? É um grande fã de Obama.

Sou um grande fã de Obama e estou muito satisfeito com o que se está a passar na costa sul do Mediterrâneo. Desde a Mauritânia até ao próximo Oriente, todo o Magrebe, está tudo em ebulição e aquilo não fica na mesma. Essa ideia de que o dinheiro é que vale, e os ditadores ficam no terreno, acabou. As populações estão a acabar com isso.

Mas há o risco de movimentos extremistas como a Al-Qaeda ou a Irmandade Muçulmana.

A Al-Qaeda apanhou um grande golpe com a morte de Bin Laden e com Obama.

A Espanha ainda não está imune a cair numa falência como nós caímos. E se isso acontecer é o fim do euro?

Não posso dizer que seja o fim do euro. Mas se a Espanha for vitimada pelos mercados, penso que a Europa vai tremer muito. E ou há uma modificação para mudar todo o sistema, e isso seria óptimo, ou então a Europa entra numa situação muito grave. A União Europeia não resiste ao desaparecimento do euro.

Mas a Alemanha não tem de acordar? A Alemanha também depende do euro...

Então não depende! Uma grande parte das exportações alemãs não vão para a China nem para a Rússia, vão para a Europa... O projecto europeu é um dos mais invejados no mundo inteiro.

Falávamos da total ausência de líderes europeus...

Neste momento, não há, mas podem surgir.

Durão Barroso tem sido um bom presidente da Comissão?

Eu sou suspeito, porque eu achei que ele fez mal em se demitir do governo português para ir para a Comissão Europeia, porque ganhava mais. Na altura da reeleição, fiz um documento que foi subscrito por vários ex-líderes dos partidos socialistas europeus, a dizer que era indispensável que houvesse um líder socialista e que a família socialista, por definição, não deveria votar num líder da direita. Votou! E Sócrates teve aí uma grande responsabilidade, porque veio dizer que votava por "uma questão de patriotismo". Ora, o patriotismo é o patriotismo europeu. Mas Durão Barroso está numa situação muito difícil. O presidente da Europa não se entende com ele, perdeu a confiança dos dois grandes países, a Alemanha e a França...

O que é que é essencial nos líderes? O comprometimento com uma causa ou a capacidade de fazer compromissos e juntar as pessoas?

O líder tem de ter várias qualidades, a primeira das quais a coragem. O líder que não é corajoso não é líder. Depois, seriedade absoluta. Se o político não exerce uma acção desinteressada de serviço público não é um político a sério.

Sendo agnóstico, fez algumas alianças com a Igreja em momentos difíceis...

Mais do que alianças, conspiração. Eu conspirei activamente, posso dizê-lo hoje, com D. António Ribeiro.

Conte-nos lá...

Se todos os párocos não tivessem dito nas igrejas que seria bom que todas as pessoas fossem para Fonte Luminosa, não teríamos tido aquela manifestação que derrubou, no fundo, o caminho para que se estava a dirigir o país.


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Tags: mários soares, ps, entrevista, qi,

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Mensagem por Joao Ruiz Sáb Jun 11, 2011 9:02 am

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Acho que a grande lição veio de Sócrates. Sócrates perdeu as eleições e assumiu a responsabilidade de as ter perdido. Disse-o no discurso, que foi um dos melhores que fez. Podia-se não ter retirado, porque foi eleito por 93%. Eu perdi algumas eleições e não me retirei de secretário-geral do Partido Socialista. Não era obrigatório, ninguém lhe pediu para fazer. Mas ele fez e isso foi um acto que eu aplaudo. Um acto muito inteligente da parte dele. Agora vai à sua vida, não vai ser deputado, vai estar fora certamente... E isso é muito bom porque dá a possibilidade de haver uma renovação dentro do Partido Socialista. E ele voltará nessa altura.

Acha que Sócrates voltará?

Estou convencido que daqui a seis meses, ou talvez um ano, as pessoas começam a dizer que Sócrates afinal não era assim tão mau...

Mas voltar para quê? Candidato à Presidência da República?

Isso depende da vontade dele.

Mas não acredita que ele feche a porta à política...

Acho que ele não tem a ideia de deixar a política. Tem a ideia é de fazer uma pausa, meditar, estudar, reflectir, ler. E depois se verá. E isso é inteligente, a meu ver.

Na mouche.

Essa é também a minha opinião, com a diferença que acho que a opinião geral sobre José Sócrates vai mudar muito mais rapidamente... se é que não começou já a mudar...

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