O Médio Oriente não quer lá os Estados Unidos
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O Médio Oriente não quer lá os Estados Unidos
O Médio Oriente não quer lá os Estados Unidos
por Thomas Friedman, Publicado em 30 de Junho de 2011
Qualquer iniciativa política, de paz ou outra, para o Médio Oriente tem de partir dos que lá vivem. Os exemplos de fracasso e de rejeição quando os EUA interferiram sem convite tão têm fim
Quando o presidente Barack Obama anunciou a sua decisão de enviar mais tropas para o Afeganistão, em 2009, defendi que isso poderia resultar se se reunissem três condições: o Paquistão tornar-se um país diferente, o presidente Hamid Karzai do Afeganistão tornar-se um homem diferente e os Estados Unidos conseguirem de facto fazer aquilo que dizem estar a fazer, que é transformar o Afeganistão num verdadeiro país. Nenhuma destas condições se materializou, e por isso penso que as nossas alternativas no Afeganistão são perder mais cedo, perder mais tarde, perder em maior ou em menor escala. Por mim, voto por mais cedo e em menor escala.
A razão por que estou de pé atrás com o Afeganistão resulta da resposta a três perguntas: quando é que o Médio Oriente nos deixa contentes? Como acabou a Guerra Fria? Que teria feito Ronald Reagan? Vejamos cada uma por sua vez.
Quando é que o Médio Oriente nos deixou mais satisfeitos nas últimas décadas? Esta é fácil: 1. Quando Anwar Sadat fez a sua visita-surpresa a Jerusalém; 2. Quando a rebelião sunita no Iraque contra as forças pró-Al-Qaeda inverteu a situação no país; 3. Quando o regime dos talibãs no Afeganistão foi deposto por rebeldes afegãos apenas com apoio aéreo e de algumas centenas de tropas dos Estados Unidos; 4. Quando os israelitas e os palestinianos assinaram um acordo de paz secreto em Oslo; 5. Quando a Revolução Verde se deu no Irão; 6. Quando a Revolução dos Cedros irrompeu no Líbano; 7. Com os levantamentos democráticos na Tunísia, na Líbia, no Iémen, na Síria e no Egipto; 8. Quando Israel decidiu unilateralmente retirar do Sul do Líbano e de Gaza.
E que têm em comum todos estes acontecimentos? Os Estados Unidos quase não tiveram nada a ver com nenhum deles. Receberam o impulso dos próprios povos. Na maior parte dos casos não os previmos e não nos custaram um tostão.
Que conclusões podemos tirar daqui? A verdade mais profunda respeitante ao Médio Oriente: para os vermos com um sorriso no rosto, tudo tem de partir deles. Se não for assim, se não forem eles a tomar a iniciativa, se a ideia da paz não vier deles, não há tropas americanas capazes de encaminhar o dinheiro que ali pusermos e de o fazer dar frutos. Quando é com eles que começa, não precisam de nós nem nos querem lá muito tempo.
Quando as pessoas tomam uma iniciativa - como a formação da coligação original que depôs o governo dos talibãs, as manifestações dos egípcios na Praça Tahrir ou as diligências de paz do Egipto e de Israel -, o impulso é local e o apoio norte-americano pode ter um efeito multiplicador poderoso. Quando elas não estão interessadas - no caso afegão, numa governação decente - ou quando têm a impressão que nós estamos mais interessados que elas num certo resultado, o que fazem é pegar-nos amavelmente pela manga, endrominar-nos e vender-nos o mesmo tapete meia dúzia de vezes.
Quanto à maneira como a Guerra Fria acabou, é fácil. Acabou quando os dois poderes - a União Soviética e a China maoista, fontes do financiamento e do combustível ideológico dos inimigos dos Estados Unidos - entraram em colapso. A passagem do comunismo maoista ao capitalismo deu-se de forma pacífica, enquanto a da União Soviética foi mais trapalhona. Fim da Guerra Fria.
Desde então temo-nos envolvido cada vez mais com outro movimento global, o radicalismo islâmico. Quem o alimenta é o dinheiro e a ideologia da Arábia Saudita, do Paquistão e do Irão. O ataque do 11 de Setembro foi basicamente uma operação conjunta de paquistaneses e sauditas. Quanto aos bombardeamentos de interesses americanos no Líbano pensa-se que terão sido obra de agentes iranianos. No entanto, foram o Afeganistão e o Iraque a ser invadidos, porque a Arábia Saudita tinha petróleo, o Paquistão tinha armas nucleares e o Irão era demasiado grande. Tínhamos esperança que esta guerra produzisse mudanças nestes três países. Por enquanto, não produziu.
Até rompermos a combinação mesquita-dinheiro-poder no Irão, na Arábia Saudita e no Paquistão, que alimenta o jihadismo, tudo o que estamos a fazer no Afeganistão é atacar os sintomas. Os verdadeiros motores da violência radical islamita continuam lá. O problema é que para atacar o problema pela raiz seria precisa uma nova política energética norte-americana. Pois é.
George Will chamou a atenção para uma pergunta que o senador John McCain, um falcão no que respeita à Líbia e ao Afeganistão, fez recentemente: "Que teria dito Ronald Reagan?", subentendendo-se nas suas palavras que Reagan nunca teria deixado questões como a Líbia e o Afeganistão por encerrar. Por acaso até sei a resposta a esta: eu estava lá.
No dia 25 de Fevereiro de 1984, assisti na pista do aeroporto de Beirute a uma parada de anfíbios dos Marines, que avançaram pela pista até que a certa altura viraram à direita, atravessaram a praia de areia branca, entraram pelo Mediterrâneo e abandonaram o Líbano no seu veículo de transporte.
Depois de um bombista suicida ter morto 241 militares dos Estados Unidos, Reagan percebeu que estava metido numa guerra civil com um objectivo mal definido e um inimigo esquivo, cuja derrota não justificava o sacrifício que exigia. Decidiu por isso evitar mais perdas e deu meia volta e partiu. Teve consciência das consequências; afinal estava no meio da Guerra Fria, com uma potência nuclear como a União Soviética. Mesmo assim achou que ficar nos ia enfraquecer. Explicou na altura: "Não estamos a fugir com o rabo entre as pernas. Estamos a retirar para uma posição defensiva mais segura."
Oito anos mais tarde, a União Soviética estava no caixote do lixo da história, a América estava em ascensão e o Líbano continua a ver se resolve os seus problemas - sem nós.
Jornalista
Escreve à quinta-feira
Jornal i/The New York Times
por Thomas Friedman, Publicado em 30 de Junho de 2011
Qualquer iniciativa política, de paz ou outra, para o Médio Oriente tem de partir dos que lá vivem. Os exemplos de fracasso e de rejeição quando os EUA interferiram sem convite tão têm fim
Quando o presidente Barack Obama anunciou a sua decisão de enviar mais tropas para o Afeganistão, em 2009, defendi que isso poderia resultar se se reunissem três condições: o Paquistão tornar-se um país diferente, o presidente Hamid Karzai do Afeganistão tornar-se um homem diferente e os Estados Unidos conseguirem de facto fazer aquilo que dizem estar a fazer, que é transformar o Afeganistão num verdadeiro país. Nenhuma destas condições se materializou, e por isso penso que as nossas alternativas no Afeganistão são perder mais cedo, perder mais tarde, perder em maior ou em menor escala. Por mim, voto por mais cedo e em menor escala.
A razão por que estou de pé atrás com o Afeganistão resulta da resposta a três perguntas: quando é que o Médio Oriente nos deixa contentes? Como acabou a Guerra Fria? Que teria feito Ronald Reagan? Vejamos cada uma por sua vez.
Quando é que o Médio Oriente nos deixou mais satisfeitos nas últimas décadas? Esta é fácil: 1. Quando Anwar Sadat fez a sua visita-surpresa a Jerusalém; 2. Quando a rebelião sunita no Iraque contra as forças pró-Al-Qaeda inverteu a situação no país; 3. Quando o regime dos talibãs no Afeganistão foi deposto por rebeldes afegãos apenas com apoio aéreo e de algumas centenas de tropas dos Estados Unidos; 4. Quando os israelitas e os palestinianos assinaram um acordo de paz secreto em Oslo; 5. Quando a Revolução Verde se deu no Irão; 6. Quando a Revolução dos Cedros irrompeu no Líbano; 7. Com os levantamentos democráticos na Tunísia, na Líbia, no Iémen, na Síria e no Egipto; 8. Quando Israel decidiu unilateralmente retirar do Sul do Líbano e de Gaza.
E que têm em comum todos estes acontecimentos? Os Estados Unidos quase não tiveram nada a ver com nenhum deles. Receberam o impulso dos próprios povos. Na maior parte dos casos não os previmos e não nos custaram um tostão.
Que conclusões podemos tirar daqui? A verdade mais profunda respeitante ao Médio Oriente: para os vermos com um sorriso no rosto, tudo tem de partir deles. Se não for assim, se não forem eles a tomar a iniciativa, se a ideia da paz não vier deles, não há tropas americanas capazes de encaminhar o dinheiro que ali pusermos e de o fazer dar frutos. Quando é com eles que começa, não precisam de nós nem nos querem lá muito tempo.
Quando as pessoas tomam uma iniciativa - como a formação da coligação original que depôs o governo dos talibãs, as manifestações dos egípcios na Praça Tahrir ou as diligências de paz do Egipto e de Israel -, o impulso é local e o apoio norte-americano pode ter um efeito multiplicador poderoso. Quando elas não estão interessadas - no caso afegão, numa governação decente - ou quando têm a impressão que nós estamos mais interessados que elas num certo resultado, o que fazem é pegar-nos amavelmente pela manga, endrominar-nos e vender-nos o mesmo tapete meia dúzia de vezes.
Quanto à maneira como a Guerra Fria acabou, é fácil. Acabou quando os dois poderes - a União Soviética e a China maoista, fontes do financiamento e do combustível ideológico dos inimigos dos Estados Unidos - entraram em colapso. A passagem do comunismo maoista ao capitalismo deu-se de forma pacífica, enquanto a da União Soviética foi mais trapalhona. Fim da Guerra Fria.
Desde então temo-nos envolvido cada vez mais com outro movimento global, o radicalismo islâmico. Quem o alimenta é o dinheiro e a ideologia da Arábia Saudita, do Paquistão e do Irão. O ataque do 11 de Setembro foi basicamente uma operação conjunta de paquistaneses e sauditas. Quanto aos bombardeamentos de interesses americanos no Líbano pensa-se que terão sido obra de agentes iranianos. No entanto, foram o Afeganistão e o Iraque a ser invadidos, porque a Arábia Saudita tinha petróleo, o Paquistão tinha armas nucleares e o Irão era demasiado grande. Tínhamos esperança que esta guerra produzisse mudanças nestes três países. Por enquanto, não produziu.
Até rompermos a combinação mesquita-dinheiro-poder no Irão, na Arábia Saudita e no Paquistão, que alimenta o jihadismo, tudo o que estamos a fazer no Afeganistão é atacar os sintomas. Os verdadeiros motores da violência radical islamita continuam lá. O problema é que para atacar o problema pela raiz seria precisa uma nova política energética norte-americana. Pois é.
George Will chamou a atenção para uma pergunta que o senador John McCain, um falcão no que respeita à Líbia e ao Afeganistão, fez recentemente: "Que teria dito Ronald Reagan?", subentendendo-se nas suas palavras que Reagan nunca teria deixado questões como a Líbia e o Afeganistão por encerrar. Por acaso até sei a resposta a esta: eu estava lá.
No dia 25 de Fevereiro de 1984, assisti na pista do aeroporto de Beirute a uma parada de anfíbios dos Marines, que avançaram pela pista até que a certa altura viraram à direita, atravessaram a praia de areia branca, entraram pelo Mediterrâneo e abandonaram o Líbano no seu veículo de transporte.
Depois de um bombista suicida ter morto 241 militares dos Estados Unidos, Reagan percebeu que estava metido numa guerra civil com um objectivo mal definido e um inimigo esquivo, cuja derrota não justificava o sacrifício que exigia. Decidiu por isso evitar mais perdas e deu meia volta e partiu. Teve consciência das consequências; afinal estava no meio da Guerra Fria, com uma potência nuclear como a União Soviética. Mesmo assim achou que ficar nos ia enfraquecer. Explicou na altura: "Não estamos a fugir com o rabo entre as pernas. Estamos a retirar para uma posição defensiva mais segura."
Oito anos mais tarde, a União Soviética estava no caixote do lixo da história, a América estava em ascensão e o Líbano continua a ver se resolve os seus problemas - sem nós.
Jornalista
Escreve à quinta-feira
Jornal i/The New York Times
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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