São selos, senhores !
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: "Revolta em marcha" :: Caixote para esmolas politicas :: Vomitorio para almas empenadas o :: Armazenagem de temas
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São selos, senhores !
São selos, senhores !
Foi
anteontem apresentada em simultâneo em Lisboa e Ayutthaya, antiga
capital do Sião, a emissão filatélica conjunta luso-tailandesa alusiva
aos 500 anos de relações entre os dois países. A convite da
administração dos CTT foi-me pedida colaboração na condição de
investigador doutorando do Instituto do Oriente /Universidade Técnica de
Lisboa. Os trabalhos que serviram para ilustrar os selos agora à venda
em todas as estações de correios de Portugal e Tailândia são do pintor
português Carlos Barahona Possollo, meu amigo de há muito, bem como da
artista plástica tailandesa Mayuree Narknisorn. O texto explicativo, em
inglês e português, é de minha autoria.
anteontem apresentada em simultâneo em Lisboa e Ayutthaya, antiga
capital do Sião, a emissão filatélica conjunta luso-tailandesa alusiva
aos 500 anos de relações entre os dois países. A convite da
administração dos CTT foi-me pedida colaboração na condição de
investigador doutorando do Instituto do Oriente /Universidade Técnica de
Lisboa. Os trabalhos que serviram para ilustrar os selos agora à venda
em todas as estações de correios de Portugal e Tailândia são do pintor
português Carlos Barahona Possollo, meu amigo de há muito, bem como da
artista plástica tailandesa Mayuree Narknisorn. O texto explicativo, em
inglês e português, é de minha autoria.
Por
iniciativa de uma das maiores instituições culturais portuguesas, está
previsto para o início do Outono em Lisboa a inauguração de importante
exposição que pela primeira vez reunirá a mais relevante documentação
alusiva à relação entre os dois países. Uma vez mais de parabéns todos
quantos se têm dedicado com entusiasmo a estas celebrações. No que nos
diz respeito, ainda falta concluir o tal livro de meio milhar de páginas
que dedicarei a todos quantos, na Tailândia como em Portugal, exigem
passar do registo de divulgação para o conhecimento das fontes sobre
aquelas relações existentes na Tailândia, Portugal, França, Macau e
Índia.
Publicada por
Combustões
em
22.7.11
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comentários
Etiquetas:
500 anos de relações entre Portugal e a Tailândia; 500 ปี ความสัมพันธ์ไทยโปรตุเกส
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: São selos, senhores !
vemos esta bandeira no selo ai atras
Do que se trata
vamos la abanar o assunto
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Vitor mango- Pontos : 118178
Re: São selos, senhores !
Ordem de Cristo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação,
pesquisa
A Ordem de Cristo é uma ordem religiosa e militar, criada a 14 de Março de 1319 pela Bula Papal Ad ea ex-quibus de João XXII, que, deste modo, acedia ao pedidos do rei Dom Dinis. Recebeu o nome de Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e foi herdeira das propriedades e privilégios da Ordem do Templo.
Em Maio desse mesmo ano, numa cerimónia solene que contou com a participação do Arcebispo de Évora, do Alferes-Mor do Reino D. Afonso de Albuquerque e de outros membros da cúria régia, o rei Dom Dinis ratificou, em Santarém, a criação da nova Ordem.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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pesquisa
Ordem de Cristo | |
Santa Sé | |
Ativa | |
Papa (Bento XVI) | |
Portugal, 15 de março de 1319 | |
Papa João XXII | |
Ordo Militiae Jesu Christo | |
Em Maio desse mesmo ano, numa cerimónia solene que contou com a participação do Arcebispo de Évora, do Alferes-Mor do Reino D. Afonso de Albuquerque e de outros membros da cúria régia, o rei Dom Dinis ratificou, em Santarém, a criação da nova Ordem.
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Vitor mango- Pontos : 118178
Re: São selos, senhores !
quando os templarios cairam em desgraça e Filipinho o bellus se assenhoreou do cacau dos templarios Portugal que nestas coisas nao alinha kom as caboiadas deu nova volta ao disco e tocou o mesmo
masi tarde o manel King faria o mesmo kus judeus
Mudamos o nome á poia e deixamos la as moscas no banquete
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Mudamos o nome á poia e deixamos la as moscas no banquete
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: São selos, senhores !
D. Dinis e a supressão da Ordem do Templo (1312):
o processo de formação da identidade nacional em Portugal
Imagem 1
Lateral do castelo templário
de Tomar (séc. XII, no Ribatejo, atualmente na Freguesia São
João Baptista, Concelho de Tomar, Distrito de Santarém).
As Ordenações Afonsinas apenas registram a idéia
corrente no século XV: os templários - ordem religiosa-militar criada
na Palestina em 1120 por Hugo de Payens - foram suprimidos por seus inúmeros
pecados, entre eles o da sodomia (LEHMANN, 1989: 165). As inúmeras acusações
levantadas no processo movido pelo rei da França, Filipe IV, o Belo
(1285-1314), não impediram que o rei de Portugal, D. Dinis (1279-1325),
agisse de maneira diferente com os templários portugueses.
As acusações eram: "...bestialidade, adoração de ídolos,
negação de sacramentos; de vender a alma ao Diabo e adorá-lo na forma
de um enorme gato; de sodomia entre eles e relações
com demônios e súcubos; de exigir dos iniciados que negassem Deus, Cristo
e a Virgem; de cuspir três vezes, urinar e pisar na cruz, e dar o "beijo
da vergonha" no prior da Ordem, na boca, no pênis e nas nádegas..." (TUCHMAN,
1990: 41).
A transferência dos bens templários para a Ordem de São
João de Jerusalém - conforme decisão do Concílio de Vienne (1311-1312)
-, não aconteceu em Portugal - a Ordem de São João foi criada na Palestina
pouco antes da Primeira Cruzada ("...duas famílias amalfitanas, os Mauris
e os Pantaleonis, em 1048, solicitaram ao califa fatímida Mustansir Billah
[1036-1094], por intermédio de ricos presentes, permissão muçulmana para
construção de um hospício, um hospital e um convento [...] com o objetivo
de acolher e abrigar peregrinos que afluíam à cidade de Jerusalém" - COSTA,
1994: 14).
Posteriormente, a Ordem do Hospital foi adaptada para
uma ordem militar, sem abandonar sua origem assistencialista). Como veremos,
D. Dinis agiu de maneira extremamente oportuna, ao nacionalizar os bens
da Ordem do Templo, fortalecendo ainda mais a coroa lusa frente ao papado.
Este artigo pretende discutir a supressão dos templários
e a criação da Ordem de Cristo, inserindo-os dentro de um âmbito maior,
o da lenta formação de uma identidade nacional portuguesa. Este processo,
precoce em relação às demais potências européias, possibilitou aos lusos
a dianteira na expansão marítima dos séculos XVI-XVII. Para isso, precisamos
antes introduzir o tema no espaço e no tempo a que diz respeito.
*
Os templários causam aos historiadores dificuldades interpretativas:
"...são ainda hoje (e sobretudo hoje) uma instituição difícil de entender"
(SARAIVA, 1988: 265). Em recente e ainda inédita palestra proferida na
Universidade Estácio de Sá (1993), o Dr. Rui Vieira da Cunha, ao se referir
aos templários, salientou que não desejava aparecer com "novos fantasmas".
Isso se deve em parte ao grande número de lendas que
se formaram já a partir da execução do último grão-mestre, Jacques de
Molay, além de ordens maçônicas que se intitulam herdeiras da Ordem do
Templo. Jacques de Molay teria lançado uma maldição sobre o rei francês
e seus descendentes até a 13.ª geração, no momento de sua execução na
ilha de Sena, em 18.03.1314, convocando Filipe, o Belo e o papa Clemente
V para se encontrarem com ele perante Deus dentro de um ano.
O fato é que Clemente V morreu um mês depois, e Filipe
após sete meses, aos 46 anos. Além disso, "...em sucessão, Luís X, Filipe
V e Carlos IV reinaram menos de seis anos cada e morreram com 27, 28 e
33 anos respectivamente, sem deixar sucessor masculino, apesar de terem
tido os três juntos um total de seis esposas" (TUCHMAN, 1990: 43).
Deixando este caminho místico de lado, resta ater-nos
às fontes. Para podermos levantar as questões propostas acima, é necessário
traçar o caminho político percorrido por D. Dinis no curto período de
1307-1319, anos que englobam a prisão dos templários na França e a criação
da Ordem de Cristo em Portugal. Não abordaremos o processo em si, já bastante
conhecido (BARBER, 1991), mas o que se passou em Portugal, particularmente
as relações entre D. Dinis e o papado.
Já em 1306, pressionado por Filipe, o Belo, o
papa Clemente V (1305-1314) ordenou que se reunisse um Concílio na Espanha,
com o objetivo de investigar o comportamento dos templários na Península.
A reunião deu-se em Salamanca, com a presença do arcebispo de Santiago,
além de onze bispos, entre eles o de Lisboa, D. João de Soalhães (ALMEIDA,
volume I, 1967: 154). O fato é que nada foi constatado que comprometesse
os freires do Templo.
Após a prisão dos templários na França em 1307, Clemente
V, através da bula Callidis serpentis (30.12.1308), solicitou a
D. Dinis que fizesse o mesmo com os templários portugueses. O rei luso
não atendeu ao pedido do papa. Além disso, os templários e seu mestre,
D. Frei Vasco Fernandes, haviam se ausentado do reino, por razões desconhecidas.
Imagem
2
Conjunto arquitetônico de Tomar.
Fortunato de Almeida levanta a possibilidade de terem
ido se justificar perante o papa (ALMEIDA, volume I, 1967: 155). Consideramos
tal hipótese improvável. Desde 1309 o papado achava-se em Avignon, perto
da foz do Ródano, feudo do reino de Nápoles e Sicília, mas sob influência
política da França (TUCHMAN, 1990: 25); os templários franceses estavam
presos. D. Vasco Fernandes não se arriscaria a ser capturado pela simples
tentativa de conversar com Clemente V. É mais provável que estivesse aguardando
o desenrolar dos acontecimentos.
Devemos discutir a posição tomada por D. Dinis. Portugal
já havia tido inúmeros problemas com a Igreja: Em 1192 o cardeal Rinério
lançou sentenças de excomunhão e interdito sobre Portugal e Leão; em 1208,
Sancho I foi excomungado e morreu nessa condição, em 1210. Só em 1213
o papa Inocêncio III ordenou aos juizes eclesiásticos que absolvessem
Afonso II de excomunhão (com uma multa de 50.000 cruzados).
Mas a querela entre Portugal e a Igreja não parou aí:
em 1218 o bispo de Lugo renova o processo de excomunhão; em 1220, o arcebispo
de Braga excomungou novamente Afonso II. Honório III confirmou a excomunhão
e ameaçou expor o reino de Portugal à conquista de outros soberanos, além
de absolver seus vassalos do juramento de fidelidade. Afonso II
também morreu excomungado, em 1223. Em 1231, Portugal
sofreu novo interdito papal, levantado em 1233 pelo papa Gregório IX.
Os conflitos desembocaram em 1245, na deposição de Sancho II e a guerra
civil (MATTOSO, s/d).
Agora, o momento era oportuno para tentar resolver a
questão dos bens templários: a Ordem do Templo possuía um imenso território
em terras lusas, espaço que seria entregue ao papado, em Avignon, portanto,
sob influência direta de Filipe, o Belo. Todos sabem que a Península
Ibérica espelhava a rivalidade entre França e Inglaterra - que mais tarde
desembocaria na Guerra dos Cem Anos, em 1328: Castela, pró-França, Portugal,
pró-Inglaterra. Com a eclosão da guerra, a posição de Portugal foi a seguinte:
Afonso IV optou pela Inglaterra, em nível de neutralidade militar (relações
diplomáticas e acordos comerciais).
Nesse intrincado jogo político internacional, os bens
templários poderiam criar um cisma geopolítico no reino português. Além
disso, houve propostas de união das duas ordens hierosolimitanas, templários
e hospitalários (DEMUGER, 1986: 236). Isto significaria a união dos bens
lusitanos do Hospital e do Templo: seria um "estado dentro do estado",
já que rivalizaria com o rei português em termos de posses senhoriais.
Diante da posição de D. Dinis, Clemente V, em 1310, determinou
que se realizasse novo Concílio, novamente para investigar a conduta dos
templários ibéricos. Reuniram-se duas assembléias: uma em Medina del Campo
- onde foram citados os templários de Castela e Leão - e outra novamente
em Salamanca, com a presença do bispo de Lisboa, D. João da Guarda, e
do bispo da Guarda, D. Vasco. Os acusados foram mais uma vez inocentados,
mas "os prelados abstiveram-se de proferir sentença, que reservaram para
o Papa" (ALMEIDA, volume I, 1967: 155)
Para precaver-se contra qualquer medida papal, D. Dinis
firmou um pacto com seu genro, Fernando IV de Castela (1285-1312). Os
monarcas se comprometiam a defender as posses templárias de seus respectivos
reinos (21 de janeiro de 1310. O rei de Aragão poderia, se quisesse, entrar
no pacto) (ALMEIDA, volume I, 1967: 155).
A firme postura dos reis de Portugal e Castela levou
Clemente V a incluir a seguinte cláusula em sua bula Ad providam
(2 de maio de 1312): todos os bens da Ordem do Templo seriam transferidos
para a Ordem do Hospital, exceto os situados nos reinos de Castela, Aragão,
Portugal e Maiorca.
Inserida nesta mesma bula, havia a seguinte condição:
os reis da Península eram obrigados a não alienarem as propriedades templárias,
até que a Igreja tomasse uma decisão definitiva.
Com o novo papa, João XXII (1316-1334), os procuradores
portugueses alegaram que a transferência dos bens templários para a Ordem
do Hospital acarretaria danos à coroa. Embora os hospitalários, desde
Frei Afonso Peres Farinha, sempre estiveram em afinidade com a coroa,
o fato é que a Ordem do Hospital portuguesa era subordinada ao grão-comendador
da Hispânia, que residia em Castela (MATTOSO, 1986: vol. II, 164).
O grão-comendador era a autoridade máxima da ordem na
Península, subordinado diretamente ao grão-mestrado, que nesse período
residia na ilha de Rodes - em 1291 a ordem havia sido expulsa da Palestina
pelos muçulmanos. Isso futuramente provocaria problemas quanto à gerência
dos bens em terras portuguesas, além de proporcionar ao rei de Castela
algum tipo de pretensão territorial em tempo de guerra.
Esta relativa autonomia dos hospitalários portugueses
em relação ao comendador da Hispânia não seria suficiente para resolver
alguma questão hierárquica de maior importância: o grão-comendador da
ordem residia em Castela, eterna rival de Portugal. Como afirma Erdmann,
"Só lhe interessava (a D. Dinis) que o rico património (templário) não
saísse para fora do país. É o que teria acontecido, pelo menos em parte,
se os bens passassem para os cavaleiros de S. João" (ERDMANN, 1940: 51).
A preocupação de D. Dinis com a demarcação territorial
do reino de Portugal não era injustificada; os freires portugueses da
Ordem de Santiago (ou Calatrava), que desde 1288 não estavam mais sujeitos
ao mestre de Castela por decisão do papa Nicolau IV (1288-1292), voltavam
agora a sê-lo, por decreto de Bonifácio VIII (1294-1303). A subordinação
da Ordem de Santiago portuguesa ao mestre de Castela só foi resolvida
oficialmente em 1319, pelas bulas Olim felicis (27 de fevereiro
de 1319) e Tunc digne (1 de julho do mesmo ano), ambas do papa
João XXII; os freires portugueses de Calatrava não ficavam mais sujeitos
à Castela (Bula do papa Nicolau IV: Pastoralis officii [17 de setembro
de 1288]; bula de Bonifácio VIII: Ab antiquis retro [20 de julho
de 1295] - ALMEIDA, volume I, 1967: 151).
Imagem 3
Na distribuição das
fortificações das ordens militares, levou-se em conta a
proteção militar das cidades de Lisboa e Santarém.
Os hospitalários (no mapa, seus domínios
estão marcados por listras verticais
cinzas) defendiam a entrada pelo Tejo ao norte, a partir
do Zêzere, com base em Belver e Crato. Da mesma forma, os templários
(listras inclinadas para a direita), tinham fortificações
em Castelo Branco, Soure, Pombal e Tomar. Os cavaleiros da Ordem
de Avis (listras horizontais laranjas),
controlavam a via que vinha de Badajoz e Mérida. A Ordem
de Santiago (listras verdes
inclinadas para a esquerda) participou diretamente da vitoriosa conquista
do Alentejo. Assim, recebeu em troca o controle da estrada que vinha do
Sul: Mértola, Beja e Aljustrel, até Alcácer do Sal.
Ressalte-se, por fim, o talhe geográfico do reino de Portugal,
quase que totalmente baseado na existência das ordens militares,
fosse para a guerra ou para as atividades de repovoamento. Os principais
castelos estão marcados por pontos vermelhos; os mosteiros em quadrados
azuis. In: MATTOSO, José (dir.). História de
Portugal - A Monarquia Feudal (1096-1480), Lisboa, Editorial Estampa,
s/d, p. 212.
Isto poderia causar sério transtorno à coroa, pois os
cavaleiros de Santiago receberam dos reis portugueses muitos castelos
limítrofes com o reino de Castela. A ordem crescera de importância desde
quando da conquista do Algarve durante a campanha militar de 1249-1250
e as subseqüentes doações de Afonso III (1245-1279) (MARQUES, 1994: 125-152).
Somando isso à questão da subordinação dos hospitalários portugueses ao
mestre de Castela, criava-se um problema essencial para a soberania portuguesa.
Ambas as ordens (Santiago e do Hospital) possuíam um vasto território
no reino, além do problema templário.
Mas voltemos ao caso do Templo. Os procuradores portugueses
apresentaram a João XXII a seguinte proposta: em Castro Marim, castelo
do reino de Algarve, na fronteira com os muçulmanos, seria fundada uma
(nova) ordem monástico-militar portuguesa de cavalaria, e D. Dinis doaria
o castelo e todos os direitos que exercia nele.
O papa concordou (bula de João XXII, Ad ea ex quibus)
(ALMEIDA, volume I, 1967: 351), e a ordem foi estabelecida no dito castelo,
com igreja paroquial de Santa Maria do Castelo, no bispado de Silves,
seguindo a regra de Santiago (Calatrava) - pouco depois, aproximadamente
em 1338, a Ordem do Templo transferiu-se para Tomar.
O papa, através das bulas Venientes e Ad ea
ex quibus (15 e 14 de março de 1319), denominou-a Cavalaria de Nosso
Senhor Jesus Cristo, com Gil Marques ocupando a posição de mestre (já
era mestre da casa de Avis, outra ordem religiosa-militar de grande força
política em Portugal). Os futuros mestres seriam eleitos pelos freires
professos, e a supervisão da ordem ficava sob a responsabilidade do abade
de Alcobaça.
Imagem 4
Torre de Menagem do Castelo, em Castelo Branco. In: LEITE, Ana
Cristina. Castelo Branco. Lisboa: Editorial Presençsa,
1991, p. 11. "Eu, Pedro Alvito, mestre da milícia do Templo
com o convento de Portugal, queremos restaurar e povoar Castelo Branco.
A vós, presentes e futuros, damos o foro e costumes de Elvas, e
que duas partes dos cavaleiros vão ao fossado, e a terça
parte fique na Vila, e façam fossado uma vez por ano" (Primeiro
Foral de Castelo Branco, c. 1213).
Com Gil Marques como mestre da Ordem de Cristo, D. Dinis
resolvia o problema do controle sobre a Ordem do Templo. A Ordem de Cristo
recebeu da coroa portuguesa todos os bens templários, a vila de Castro
Marim, e a da maior parte dos ex-freires do Templo. De acordo com seus
estatutos, feitos em 1321, a Ordem de Cristo tinha um efetivo relativamente
pequeno: 69 cavaleiros armados e montados, 9 clérigos e 6 sargentos, num
total de 84 freires.
Os sargentos (sergentes) eram uma espécie de escudeiros.
Serviam os monges-cavaleiros, vestiam-lhes e preparavam as armas, cuidando
dos cavalos e do serviço de limpeza. Com o passar do tempo, passaram a
receber o hábito religioso. O efetivo foi pouco depois alterado, pois
na Constituição de Tomar de 1326 se diz o seguinte: "Ordenamos, e estabelecemos,
e outorgamos, que para todo o sempre haja na dita nossa ordem oitenta
e seis freires, ao menos, como dito é. Dos quais sejam setenta e um freires
cavaleiros, guisados de cavalos, e armas, e outros (quinze) serem clérigos,
e sergentes" (ALMEIDA, volume I, 1967: 156).
Este número reduzido caracterizava a Ordem de Cristo
como um corpo militar de elite, permanentemente pronto para entrar em
combate. Daí sua importância para a coroa portuguesa e para o processo
de Reconquista, pois, como afirma Humberto Baquero Moreno, "...na Península
Ibérica durante a época medieval o exército não constituiu um corpo armado
com caráter de permanência, procedendo apenas ao recrutamento de homens
quando as necessidades de natureza militar assim o impunham" (MORENO,
1991: 29-40).
Assim, este corpo de elite supria uma necessidade vital
para a consolidação e o fortalecimento do estado português. Ele, assim
como as outras ordens militares em solo luso, atendia à necessidade do
estado de possuir um exército permanente, mesmo que em número limitado.
De qualquer forma, assim se deu a nacionalização dos
bens templários em terras portuguesas. A Ordem de Cristo ficava assim
"praticamente à mercê da coroa" (MATTOSO, 1986: vol. II, 164). D. Dinis
mostrou grande perspicácia política, aproveitando o momento que se lhe
oferecera. Portugal caminhava a passos largos para a afirmação de sua
identidade nacional, forjada desde Afonso Henriques com uma mentalidade
de cruzada, que tinha nas ordens militares - especialmente agora em sua
própria ordem - seu maior paradigma.
A Ordem de Cristo, situada no âmbito da esfera política
da coroa, a partir do século XV, alargou seus horizontes, direcionando
e conduzindo a expansão marítima lusitana. Como entendemos, a criação
de uma ordem militar portuguesa está inserida dentro do lento processo
de formação da identidade nacional portuguesa, vital para o processo de
expansão lusitana dos séculos seguintes: "Mas a facilidade de comunicações
não era bastante para diluir os propósitos localistas e o espírito de
bairro que animava todos os municípios durante a Idade Média, ajudando
a travar o surto de uma consciência nacional, que só a unidade de língua
e a necessidade de defesa contra o Castelhano puderam ao fim cimentar"
(MARQUES, 1987: 02).
Seu maior incentivador foi o infante D. Henrique, terceiro
filho de D. João I (1385-1433), que, em 1420, aos 26 anos, tornou-se mestre
português da ordem, combatendo os mouros em Ceuta e ajudando Portugal
a se expandir para além-mar:
A permanência dessa mentalidade de cruzada, que insistia
em se prolongar para além dos séculos XII-XII, levou os navegantes portugueses
a caminhos desconhecidos; essa mesma mentalidade de cruzada motivou o
rei Afonso V, o Africano (1432-1481), nas palavras de Armindo de Souza,
"um cruzado fora de época, o último cruzado", a ousar penetrar na África:
"Em 1458 conquista-se Alcácer Ceguer. Em 1463-1464, tenta-se Tânger, mas
desiste-se. Em 1469 é a vez de Anafé, a actual Casablanca, que logo se
abandonou, por ficar situada desconfortavelmente ao sul. Em 1471 cai Arzila."
(SOUZA, s/d: 505-506).
Esse impulso conquistador trouxe Portugal para um papel
de destaque no palco maior dos atos humanos, a História. No cerne dessas
realizações está sua mentalidade de cruzada, resquício medieval último,
legado direto deixado pelas ordens militares:
Na verdade, é o português cabralino o último cruzado.
As caravelas que aportam no Brasil têm em sua estampa a velha cruz templária,
eterno símbolo da cruzada contra o "outro". Esse foi um motivo maior do
processo de formação da identidade nacional portuguesa.
*
Bibliografia
o processo de formação da identidade nacional em Portugal
Ricardo da Costa (Ufes)
In:
Cultura e Imaginário no Ocidente Medieval. Arrabaldes
- Cadernos de História. Série I.
Niterói: Uff,
1996, p. 90-95.
In:
Cultura e Imaginário no Ocidente Medieval. Arrabaldes
- Cadernos de História. Série I.
Niterói: Uff,
1996, p. 90-95.
*
"Sobre tôdolos pecados, bem parece
ser mais torpe, sujo e desonesto o pecado da sodomia, e não é achado
outro tão aborrecido ante Deus e o mundo como ele; (...) e por este
pecado foi destruída a Ordem do Templo per toda a Cristandade em um
dia..." (Ordenaçoens do Senhor Rey D. Affonso V. Parte I, livro
V, tomo XVII, p. 86-89. Citado em MARQUES, 1987: 128-129).
Imagem 1
Lateral do castelo templário
de Tomar (séc. XII, no Ribatejo, atualmente na Freguesia São
João Baptista, Concelho de Tomar, Distrito de Santarém).
As Ordenações Afonsinas apenas registram a idéia
corrente no século XV: os templários - ordem religiosa-militar criada
na Palestina em 1120 por Hugo de Payens - foram suprimidos por seus inúmeros
pecados, entre eles o da sodomia (LEHMANN, 1989: 165). As inúmeras acusações
levantadas no processo movido pelo rei da França, Filipe IV, o Belo
(1285-1314), não impediram que o rei de Portugal, D. Dinis (1279-1325),
agisse de maneira diferente com os templários portugueses.
As acusações eram: "...bestialidade, adoração de ídolos,
negação de sacramentos; de vender a alma ao Diabo e adorá-lo na forma
de um enorme gato; de sodomia entre eles e relações
com demônios e súcubos; de exigir dos iniciados que negassem Deus, Cristo
e a Virgem; de cuspir três vezes, urinar e pisar na cruz, e dar o "beijo
da vergonha" no prior da Ordem, na boca, no pênis e nas nádegas..." (TUCHMAN,
1990: 41).
A transferência dos bens templários para a Ordem de São
João de Jerusalém - conforme decisão do Concílio de Vienne (1311-1312)
-, não aconteceu em Portugal - a Ordem de São João foi criada na Palestina
pouco antes da Primeira Cruzada ("...duas famílias amalfitanas, os Mauris
e os Pantaleonis, em 1048, solicitaram ao califa fatímida Mustansir Billah
[1036-1094], por intermédio de ricos presentes, permissão muçulmana para
construção de um hospício, um hospital e um convento [...] com o objetivo
de acolher e abrigar peregrinos que afluíam à cidade de Jerusalém" - COSTA,
1994: 14).
Posteriormente, a Ordem do Hospital foi adaptada para
uma ordem militar, sem abandonar sua origem assistencialista). Como veremos,
D. Dinis agiu de maneira extremamente oportuna, ao nacionalizar os bens
da Ordem do Templo, fortalecendo ainda mais a coroa lusa frente ao papado.
Este artigo pretende discutir a supressão dos templários
e a criação da Ordem de Cristo, inserindo-os dentro de um âmbito maior,
o da lenta formação de uma identidade nacional portuguesa. Este processo,
precoce em relação às demais potências européias, possibilitou aos lusos
a dianteira na expansão marítima dos séculos XVI-XVII. Para isso, precisamos
antes introduzir o tema no espaço e no tempo a que diz respeito.
*
Os templários causam aos historiadores dificuldades interpretativas:
"...são ainda hoje (e sobretudo hoje) uma instituição difícil de entender"
(SARAIVA, 1988: 265). Em recente e ainda inédita palestra proferida na
Universidade Estácio de Sá (1993), o Dr. Rui Vieira da Cunha, ao se referir
aos templários, salientou que não desejava aparecer com "novos fantasmas".
Isso se deve em parte ao grande número de lendas que
se formaram já a partir da execução do último grão-mestre, Jacques de
Molay, além de ordens maçônicas que se intitulam herdeiras da Ordem do
Templo. Jacques de Molay teria lançado uma maldição sobre o rei francês
e seus descendentes até a 13.ª geração, no momento de sua execução na
ilha de Sena, em 18.03.1314, convocando Filipe, o Belo e o papa Clemente
V para se encontrarem com ele perante Deus dentro de um ano.
O fato é que Clemente V morreu um mês depois, e Filipe
após sete meses, aos 46 anos. Além disso, "...em sucessão, Luís X, Filipe
V e Carlos IV reinaram menos de seis anos cada e morreram com 27, 28 e
33 anos respectivamente, sem deixar sucessor masculino, apesar de terem
tido os três juntos um total de seis esposas" (TUCHMAN, 1990: 43).
Deixando este caminho místico de lado, resta ater-nos
às fontes. Para podermos levantar as questões propostas acima, é necessário
traçar o caminho político percorrido por D. Dinis no curto período de
1307-1319, anos que englobam a prisão dos templários na França e a criação
da Ordem de Cristo em Portugal. Não abordaremos o processo em si, já bastante
conhecido (BARBER, 1991), mas o que se passou em Portugal, particularmente
as relações entre D. Dinis e o papado.
Já em 1306, pressionado por Filipe, o Belo, o
papa Clemente V (1305-1314) ordenou que se reunisse um Concílio na Espanha,
com o objetivo de investigar o comportamento dos templários na Península.
A reunião deu-se em Salamanca, com a presença do arcebispo de Santiago,
além de onze bispos, entre eles o de Lisboa, D. João de Soalhães (ALMEIDA,
volume I, 1967: 154). O fato é que nada foi constatado que comprometesse
os freires do Templo.
Após a prisão dos templários na França em 1307, Clemente
V, através da bula Callidis serpentis (30.12.1308), solicitou a
D. Dinis que fizesse o mesmo com os templários portugueses. O rei luso
não atendeu ao pedido do papa. Além disso, os templários e seu mestre,
D. Frei Vasco Fernandes, haviam se ausentado do reino, por razões desconhecidas.
Imagem
2
Conjunto arquitetônico de Tomar.
Fortunato de Almeida levanta a possibilidade de terem
ido se justificar perante o papa (ALMEIDA, volume I, 1967: 155). Consideramos
tal hipótese improvável. Desde 1309 o papado achava-se em Avignon, perto
da foz do Ródano, feudo do reino de Nápoles e Sicília, mas sob influência
política da França (TUCHMAN, 1990: 25); os templários franceses estavam
presos. D. Vasco Fernandes não se arriscaria a ser capturado pela simples
tentativa de conversar com Clemente V. É mais provável que estivesse aguardando
o desenrolar dos acontecimentos.
Devemos discutir a posição tomada por D. Dinis. Portugal
já havia tido inúmeros problemas com a Igreja: Em 1192 o cardeal Rinério
lançou sentenças de excomunhão e interdito sobre Portugal e Leão; em 1208,
Sancho I foi excomungado e morreu nessa condição, em 1210. Só em 1213
o papa Inocêncio III ordenou aos juizes eclesiásticos que absolvessem
Afonso II de excomunhão (com uma multa de 50.000 cruzados).
Mas a querela entre Portugal e a Igreja não parou aí:
em 1218 o bispo de Lugo renova o processo de excomunhão; em 1220, o arcebispo
de Braga excomungou novamente Afonso II. Honório III confirmou a excomunhão
e ameaçou expor o reino de Portugal à conquista de outros soberanos, além
de absolver seus vassalos do juramento de fidelidade. Afonso II
também morreu excomungado, em 1223. Em 1231, Portugal
sofreu novo interdito papal, levantado em 1233 pelo papa Gregório IX.
Os conflitos desembocaram em 1245, na deposição de Sancho II e a guerra
civil (MATTOSO, s/d).
Agora, o momento era oportuno para tentar resolver a
questão dos bens templários: a Ordem do Templo possuía um imenso território
em terras lusas, espaço que seria entregue ao papado, em Avignon, portanto,
sob influência direta de Filipe, o Belo. Todos sabem que a Península
Ibérica espelhava a rivalidade entre França e Inglaterra - que mais tarde
desembocaria na Guerra dos Cem Anos, em 1328: Castela, pró-França, Portugal,
pró-Inglaterra. Com a eclosão da guerra, a posição de Portugal foi a seguinte:
Afonso IV optou pela Inglaterra, em nível de neutralidade militar (relações
diplomáticas e acordos comerciais).
Nesse intrincado jogo político internacional, os bens
templários poderiam criar um cisma geopolítico no reino português. Além
disso, houve propostas de união das duas ordens hierosolimitanas, templários
e hospitalários (DEMUGER, 1986: 236). Isto significaria a união dos bens
lusitanos do Hospital e do Templo: seria um "estado dentro do estado",
já que rivalizaria com o rei português em termos de posses senhoriais.
Diante da posição de D. Dinis, Clemente V, em 1310, determinou
que se realizasse novo Concílio, novamente para investigar a conduta dos
templários ibéricos. Reuniram-se duas assembléias: uma em Medina del Campo
- onde foram citados os templários de Castela e Leão - e outra novamente
em Salamanca, com a presença do bispo de Lisboa, D. João da Guarda, e
do bispo da Guarda, D. Vasco. Os acusados foram mais uma vez inocentados,
mas "os prelados abstiveram-se de proferir sentença, que reservaram para
o Papa" (ALMEIDA, volume I, 1967: 155)
Para precaver-se contra qualquer medida papal, D. Dinis
firmou um pacto com seu genro, Fernando IV de Castela (1285-1312). Os
monarcas se comprometiam a defender as posses templárias de seus respectivos
reinos (21 de janeiro de 1310. O rei de Aragão poderia, se quisesse, entrar
no pacto) (ALMEIDA, volume I, 1967: 155).
A firme postura dos reis de Portugal e Castela levou
Clemente V a incluir a seguinte cláusula em sua bula Ad providam
(2 de maio de 1312): todos os bens da Ordem do Templo seriam transferidos
para a Ordem do Hospital, exceto os situados nos reinos de Castela, Aragão,
Portugal e Maiorca.
Inserida nesta mesma bula, havia a seguinte condição:
os reis da Península eram obrigados a não alienarem as propriedades templárias,
até que a Igreja tomasse uma decisão definitiva.
Com o novo papa, João XXII (1316-1334), os procuradores
portugueses alegaram que a transferência dos bens templários para a Ordem
do Hospital acarretaria danos à coroa. Embora os hospitalários, desde
Frei Afonso Peres Farinha, sempre estiveram em afinidade com a coroa,
o fato é que a Ordem do Hospital portuguesa era subordinada ao grão-comendador
da Hispânia, que residia em Castela (MATTOSO, 1986: vol. II, 164).
O grão-comendador era a autoridade máxima da ordem na
Península, subordinado diretamente ao grão-mestrado, que nesse período
residia na ilha de Rodes - em 1291 a ordem havia sido expulsa da Palestina
pelos muçulmanos. Isso futuramente provocaria problemas quanto à gerência
dos bens em terras portuguesas, além de proporcionar ao rei de Castela
algum tipo de pretensão territorial em tempo de guerra.
Esta relativa autonomia dos hospitalários portugueses
em relação ao comendador da Hispânia não seria suficiente para resolver
alguma questão hierárquica de maior importância: o grão-comendador da
ordem residia em Castela, eterna rival de Portugal. Como afirma Erdmann,
"Só lhe interessava (a D. Dinis) que o rico património (templário) não
saísse para fora do país. É o que teria acontecido, pelo menos em parte,
se os bens passassem para os cavaleiros de S. João" (ERDMANN, 1940: 51).
A preocupação de D. Dinis com a demarcação territorial
do reino de Portugal não era injustificada; os freires portugueses da
Ordem de Santiago (ou Calatrava), que desde 1288 não estavam mais sujeitos
ao mestre de Castela por decisão do papa Nicolau IV (1288-1292), voltavam
agora a sê-lo, por decreto de Bonifácio VIII (1294-1303). A subordinação
da Ordem de Santiago portuguesa ao mestre de Castela só foi resolvida
oficialmente em 1319, pelas bulas Olim felicis (27 de fevereiro
de 1319) e Tunc digne (1 de julho do mesmo ano), ambas do papa
João XXII; os freires portugueses de Calatrava não ficavam mais sujeitos
à Castela (Bula do papa Nicolau IV: Pastoralis officii [17 de setembro
de 1288]; bula de Bonifácio VIII: Ab antiquis retro [20 de julho
de 1295] - ALMEIDA, volume I, 1967: 151).
Imagem 3
Na distribuição das
fortificações das ordens militares, levou-se em conta a
proteção militar das cidades de Lisboa e Santarém.
Os hospitalários (no mapa, seus domínios
estão marcados por listras verticais
cinzas) defendiam a entrada pelo Tejo ao norte, a partir
do Zêzere, com base em Belver e Crato. Da mesma forma, os templários
(listras inclinadas para a direita), tinham fortificações
em Castelo Branco, Soure, Pombal e Tomar. Os cavaleiros da Ordem
de Avis (listras horizontais laranjas),
controlavam a via que vinha de Badajoz e Mérida. A Ordem
de Santiago (listras verdes
inclinadas para a esquerda) participou diretamente da vitoriosa conquista
do Alentejo. Assim, recebeu em troca o controle da estrada que vinha do
Sul: Mértola, Beja e Aljustrel, até Alcácer do Sal.
Ressalte-se, por fim, o talhe geográfico do reino de Portugal,
quase que totalmente baseado na existência das ordens militares,
fosse para a guerra ou para as atividades de repovoamento. Os principais
castelos estão marcados por pontos vermelhos; os mosteiros em quadrados
azuis. In: MATTOSO, José (dir.). História de
Portugal - A Monarquia Feudal (1096-1480), Lisboa, Editorial Estampa,
s/d, p. 212.
Isto poderia causar sério transtorno à coroa, pois os
cavaleiros de Santiago receberam dos reis portugueses muitos castelos
limítrofes com o reino de Castela. A ordem crescera de importância desde
quando da conquista do Algarve durante a campanha militar de 1249-1250
e as subseqüentes doações de Afonso III (1245-1279) (MARQUES, 1994: 125-152).
Somando isso à questão da subordinação dos hospitalários portugueses ao
mestre de Castela, criava-se um problema essencial para a soberania portuguesa.
Ambas as ordens (Santiago e do Hospital) possuíam um vasto território
no reino, além do problema templário.
Mas voltemos ao caso do Templo. Os procuradores portugueses
apresentaram a João XXII a seguinte proposta: em Castro Marim, castelo
do reino de Algarve, na fronteira com os muçulmanos, seria fundada uma
(nova) ordem monástico-militar portuguesa de cavalaria, e D. Dinis doaria
o castelo e todos os direitos que exercia nele.
O papa concordou (bula de João XXII, Ad ea ex quibus)
(ALMEIDA, volume I, 1967: 351), e a ordem foi estabelecida no dito castelo,
com igreja paroquial de Santa Maria do Castelo, no bispado de Silves,
seguindo a regra de Santiago (Calatrava) - pouco depois, aproximadamente
em 1338, a Ordem do Templo transferiu-se para Tomar.
O papa, através das bulas Venientes e Ad ea
ex quibus (15 e 14 de março de 1319), denominou-a Cavalaria de Nosso
Senhor Jesus Cristo, com Gil Marques ocupando a posição de mestre (já
era mestre da casa de Avis, outra ordem religiosa-militar de grande força
política em Portugal). Os futuros mestres seriam eleitos pelos freires
professos, e a supervisão da ordem ficava sob a responsabilidade do abade
de Alcobaça.
Imagem 4
Torre de Menagem do Castelo, em Castelo Branco. In: LEITE, Ana
Cristina. Castelo Branco. Lisboa: Editorial Presençsa,
1991, p. 11. "Eu, Pedro Alvito, mestre da milícia do Templo
com o convento de Portugal, queremos restaurar e povoar Castelo Branco.
A vós, presentes e futuros, damos o foro e costumes de Elvas, e
que duas partes dos cavaleiros vão ao fossado, e a terça
parte fique na Vila, e façam fossado uma vez por ano" (Primeiro
Foral de Castelo Branco, c. 1213).
Com Gil Marques como mestre da Ordem de Cristo, D. Dinis
resolvia o problema do controle sobre a Ordem do Templo. A Ordem de Cristo
recebeu da coroa portuguesa todos os bens templários, a vila de Castro
Marim, e a da maior parte dos ex-freires do Templo. De acordo com seus
estatutos, feitos em 1321, a Ordem de Cristo tinha um efetivo relativamente
pequeno: 69 cavaleiros armados e montados, 9 clérigos e 6 sargentos, num
total de 84 freires.
Os sargentos (sergentes) eram uma espécie de escudeiros.
Serviam os monges-cavaleiros, vestiam-lhes e preparavam as armas, cuidando
dos cavalos e do serviço de limpeza. Com o passar do tempo, passaram a
receber o hábito religioso. O efetivo foi pouco depois alterado, pois
na Constituição de Tomar de 1326 se diz o seguinte: "Ordenamos, e estabelecemos,
e outorgamos, que para todo o sempre haja na dita nossa ordem oitenta
e seis freires, ao menos, como dito é. Dos quais sejam setenta e um freires
cavaleiros, guisados de cavalos, e armas, e outros (quinze) serem clérigos,
e sergentes" (ALMEIDA, volume I, 1967: 156).
Este número reduzido caracterizava a Ordem de Cristo
como um corpo militar de elite, permanentemente pronto para entrar em
combate. Daí sua importância para a coroa portuguesa e para o processo
de Reconquista, pois, como afirma Humberto Baquero Moreno, "...na Península
Ibérica durante a época medieval o exército não constituiu um corpo armado
com caráter de permanência, procedendo apenas ao recrutamento de homens
quando as necessidades de natureza militar assim o impunham" (MORENO,
1991: 29-40).
Assim, este corpo de elite supria uma necessidade vital
para a consolidação e o fortalecimento do estado português. Ele, assim
como as outras ordens militares em solo luso, atendia à necessidade do
estado de possuir um exército permanente, mesmo que em número limitado.
De qualquer forma, assim se deu a nacionalização dos
bens templários em terras portuguesas. A Ordem de Cristo ficava assim
"praticamente à mercê da coroa" (MATTOSO, 1986: vol. II, 164). D. Dinis
mostrou grande perspicácia política, aproveitando o momento que se lhe
oferecera. Portugal caminhava a passos largos para a afirmação de sua
identidade nacional, forjada desde Afonso Henriques com uma mentalidade
de cruzada, que tinha nas ordens militares - especialmente agora em sua
própria ordem - seu maior paradigma.
A Ordem de Cristo, situada no âmbito da esfera política
da coroa, a partir do século XV, alargou seus horizontes, direcionando
e conduzindo a expansão marítima lusitana. Como entendemos, a criação
de uma ordem militar portuguesa está inserida dentro do lento processo
de formação da identidade nacional portuguesa, vital para o processo de
expansão lusitana dos séculos seguintes: "Mas a facilidade de comunicações
não era bastante para diluir os propósitos localistas e o espírito de
bairro que animava todos os municípios durante a Idade Média, ajudando
a travar o surto de uma consciência nacional, que só a unidade de língua
e a necessidade de defesa contra o Castelhano puderam ao fim cimentar"
(MARQUES, 1987: 02).
Seu maior incentivador foi o infante D. Henrique, terceiro
filho de D. João I (1385-1433), que, em 1420, aos 26 anos, tornou-se mestre
português da ordem, combatendo os mouros em Ceuta e ajudando Portugal
a se expandir para além-mar:
"...o Infante foi, até a sua morte, o
principal impulsionador dos empreendimentos de descoberta (...) Graças
à sua imensa fortuna e aos bens da Ordem de Cristo, de que se tornou
grão-mestre, podia arcar com as enormes despesas que as expedições exigiam"
(TEYSSIER, 1992).
A permanência dessa mentalidade de cruzada, que insistia
em se prolongar para além dos séculos XII-XII, levou os navegantes portugueses
a caminhos desconhecidos; essa mesma mentalidade de cruzada motivou o
rei Afonso V, o Africano (1432-1481), nas palavras de Armindo de Souza,
"um cruzado fora de época, o último cruzado", a ousar penetrar na África:
"Em 1458 conquista-se Alcácer Ceguer. Em 1463-1464, tenta-se Tânger, mas
desiste-se. Em 1469 é a vez de Anafé, a actual Casablanca, que logo se
abandonou, por ficar situada desconfortavelmente ao sul. Em 1471 cai Arzila."
(SOUZA, s/d: 505-506).
Esse impulso conquistador trouxe Portugal para um papel
de destaque no palco maior dos atos humanos, a História. No cerne dessas
realizações está sua mentalidade de cruzada, resquício medieval último,
legado direto deixado pelas ordens militares:
"...sabia-se que a penetração em África
seria uma guerra aos mouros como as precedentes lutas multi-seculares.
Também nos marroquinos se viam ‘mouros’ (...) A seguir a estas conquistas
em Marrocos, as viagens marítimas desenvolveram-se ao longo da costa
ocidental africana. Aludimos atrás à parte que nelas teve a Ordem de
Cristo, continuadora dos templários (...). O papel desempenhado pela
ideia de cruzada desde os descobrimentos portugueses está, pois, ìntimamente
ligado à sua anterior evolução nas guerras com os mouros" (ERDMANN,
1940: p. 57-58).
Na verdade, é o português cabralino o último cruzado.
As caravelas que aportam no Brasil têm em sua estampa a velha cruz templária,
eterno símbolo da cruzada contra o "outro". Esse foi um motivo maior do
processo de formação da identidade nacional portuguesa.
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Bibliografia
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Re: São selos, senhores !
]A firme postura dos reis de Portugal e Castela levou
Clemente V a incluir a seguinte cláusula em sua bula Ad providam
(2 de maio de 1312): todos os bens da Ordem do Templo seriam transferidos
para a Ordem do Hospital, exceto os situados nos reinos de Castela, Aragão,
Portugal e Maiorca. [/size
[size=18]Tomates so foram descobertos pelos espanhois na america mas o nosso King soube meter o Papa no pianinho
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