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NATAL NAS TRINCHEIRAS

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NATAL NAS TRINCHEIRAS Empty NATAL NAS TRINCHEIRAS

Mensagem por Vitor mango Seg Dez 05, 2011 11:10 am

NATAL NAS TRINCHEIRAS


A
única coisa que separava os dois exércitos, naquela noite fria de
Dezembro de 1914, era um pedaço de terra lamacenta chamado Terra de
Ninguém. De repente, um cântico rompeu o ar gelado, celebrando o Natal
em alemão, e logo um outro se lhe seguiu, em inglês.

Durante
algum tempo, os inimigos deixaram de se guerrear e comportaram-se como
amigos. Estima-se que, nesta trégua de Natal não oficial, participaram
cerca de cem mil soldados.

Foi um momento único na história da humanidade.



Os
presentes tinham sido abertos e o jantar acabara. Depois de um longo
passeio pelos campos cobertos de neve, o jovem Thomas aconchegou-se
junto do avô e disse:

— Avô, este Natal foi o meu preferido. E tu, tens algum Natal favorito?
— Tenho, Thomas — respondeu o avô Francis. — Passei-o muito longe de casa, durante o primeiro Inverno da Grande Guerra.
— Estiveste na guerra, avô? — perguntou a pequena Nora, subindo para o colo dele. — Foste um herói?
O avô sorriu e sugeriu:
— E se começássemos pelo princípio?
As duas crianças aproximaram-se ainda mais dele.

Foi em 1914. Os meus companheiros e eu estávamos há já várias semanas
no campo de batalha. Sentíamo-nos sozinhos e assustados, embora
tentássemos ser corajosos. Tínhamos passado um mês longo e frio em
trincheiras lamacentas, que eram, naquela altura, a nossa casa.

Sabíamos
que não haveria tréguas no combate e que passaríamos o Natal ali mesmo.
Aquela véspera de Natal aconteceu numa noite igual à de hoje. Os céus
estavam a clarear e a geada cobria a Terra de Ninguém, o campo que nos
separava dos soldados alemães.

E
ali estávamos nós, diante das trincheiras inimigas, à espera… Aparte as
bombas e as batalhas, a guerra consiste em esperar. Esperar para ver
quem vai dar o próximo passo. Nessa noite, sentimos que iam ser os
Alemães. E tínhamos razão. De repente, uma sentinela fez sinal a pedir
silêncio e ficámos todos calados.

Foi então que um som rasgou o frio da noite gelada.
O
som provinha do lado inimigo da Terra de Ninguém e um soldado inglês
que sabia alemão disse tratar-se de um cântico de Natal. Em breve, todos
os Alemães entoavam a mesma canção. Quando terminaram, decidimos
responder-lhes com um cântico de Natal que todos conhecíamos.

Depois,
os Alemães entoaram “Noite Feliz”, ao qual nos juntámos, com a letra
cantada em inglês. Foi como se a terra inteira entoasse o mesmo cântico…
Nunca pensei que cantar fosse tão sagrado. De repente, a sentinela de vigia gritou:

— Aproxima-se alguém!
E,
enquanto apontávamos as espingardas à escuridão de Dezembro, deparámos
com algo de extraordinário. Uma figura vinha até nós através da Terra de
Ninguém. Numa mão trazia uma bandeira branca, e na outra uma árvore de
Natal cheia de velinhas. Era um gesto tão surpreendente e corajoso que
não pude deixar de saltar da trincheira e de ir ter com aquele soldado.

Fui
o primeiro de muitos. Em breve, todos os soldados de ambos os lados se
encontravam fora das trincheiras. Era tudo tão novo e estranho que, no
início, estávamos nervosos. Passado pouco tempo, porém, trocávamos já
pequenas lembranças – chocolates, conservas de carne, tudo o que
pudéssemos partilhar. Quando mostrámos uns aos outros fotografias de
casa e da família, deixámos de ser soldados e de ser inimigos. Éramos
apenas filhos e pais, longe da família e de casa.

Um dos nossos rapazes trouxe um acordeão e um dos deles começou a tocar violino. E acabámos por improvisar… um baile. Foi uma bela
festa de Natal! Mas a alvorada em breve nos anunciou que tínhamos de
regressar. Regressar às trincheiras, voltar a esperar. Pensar no que nos
tinha acontecido e em qual seria o nosso próximo passo.

Esta é minha recordação favorita de Natal. Hoje sou um homem diferente por causa do rapaz que fui naquela noite.
O avô abraçou os netos com força.
— Será que fui um herói? Penso que, naquela noite, todos fomos heróis.


NOTA HISTÓRICA

Embora
este conto seja um relato ficcional, a trégua de Natal de 1914 foi um
facto histórico, e teve lugar na linha de batalha entre a costa da
Bélgica, a norte, e a fronteira da Suíça, a sul.

Quatro
meses antes, no início da Grande Guerra, como a Primeira Guerra Mundial
ficou conhecida, milhões de homens por toda a Europa tinham-se alistado
em resposta aos apelos dos seus líderes. Muitos achavam que a guerra
seria curta e que estaria terminada no Natal. Mas, quando o Inverno
começou, milhares de soldados tinham já sido mortos ou feridos e a dura
realidade do campo de batalha impôs-se.

Em Dezembro de 1914, as Forças Aliadas (Bélgica, França,
e Inglaterra) estavam num impasse com os Alemães, cada um dos lados à
espera de que o outro capitulasse. As tropas estavam protegidas por
trincheiras cavadas à pressa. Estas valas estreitas, embora mais fundas
do que a altura dos soldados, eram parca protecção para o frio invernal.

Entre
os dois exércitos havia uma extensão de terreno árido chamada Terra de
Ninguém, mais larga do que dois campos de futebol juntos. Nalguns
sítios, porém, o intervalo entre as duas facções não excedia os 30
metros. Nestes locais, os inimigos estavam tão perto que conseguiam
ouvir-se falar.

Assim
tão perto, muito terão pensado no aspecto que teria o inimigo. Estariam
satisfeitos por se encontrarem naqueles buracos húmidos, a lutar em
nome do Kaiser ou do Rei, ou prefeririam estar em casa? À medida que se
aproximava a véspera de Natal, muitos soldados devem ter pensado em casa
e na paz. Alguns tinham recebido encomendas da família com ofertas
festivas. As próprias famílias reais da Alemanha e da Inglaterra tinham
enviado prendas para as suas tropas e a Alemanha tinha mesmo enviado árvores de Natal para os homens que combatiam na frente.

Naquela
noite, foram muitos os que quiseram parar de lutar, por breves horas
que fosse. Alguns chegaram mesmo a fazer o relato desse evento em
diários e cartas.





John McCutcheon; Henri Sørensen
Christmas in the trenches
Atlanta, Peachtree Publishers, 2006
(Tradução e adaptação)

_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
NATAL NAS TRINCHEIRAS Batmoon_e0
Vitor mango
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