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As luzes de Natal

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As luzes de Natal Empty As luzes de Natal

Mensagem por Vitor mango Qui Dez 22, 2011 1:34 am

As luzes de Natal

Antes
de o meu pai morrer, o Natal era uma época mágica nos longos e escuros
invernos de Bathrurst, em New Brunswick. Os dias frios e tempestuosos
começavam cedo, logo no fim de setembro. A dada altura, acendiam-se as
luzes de Natal e a expectativa crescia. Por alturas da véspera de Natal,
o vulgar pinheiro que o meu pai arrastara até nossa casa dez dias antes
adquiria uma vida própria, plena de magia e de luz. O seu brilho era de
tal forma maravilhoso que conseguia, sozinho, afastar toda a escuridão
do inverno.

Na
véspera de Natal, pouco antes da meia noite, agasalhávamo-nos bem e
íamos à missa do galo. A beleza do som do coro causava-me arrepios e,
quando a minha irmã mais velha, que era solista, cantava Noite Feliz, a minha face corava de orgulho.

No
dia de Natal de manhã, eu era o primeiro a levantar. Saía da cama
atabalhoadamente e descia em direção ao brilho intenso da sala de estar.
Embora tentasse manter-me direito, os olhos cheios de sono faziam-me
cambalear. Quando entrava na sala, via-me diante do esplendor do Natal.
Os meus olhos toldados e cheios de sono criavam uma auréola à volta de
cada luz, amplificando-a e aquecendo-a. Após uns breves instantes,
esfregava os olhos e via uma infinidade de fitas e laços e um amontoado
de presentes coloridos. Nunca me esquecerei da sensação do primeiro
vislumbre dessa manhã. Após alguns minutos a sós com a magia do Natal,
ia buscar os meus irmãos e juntos acordávamos os nossos pais.

Certa
noite de novembro, quando faltava um mês para o Natal, eu estava
sentado à mesa da sala de jantar a jogar o Solitário. A minha mãe estava
ocupada na cozinha, mas, de vez em quando, aproximava-se da sala de
estar para ouvir o seu programa de rádio preferido.

Embora
estivesse escuro e frio lá fora, o interior da casa estava agradável. O
meu pai tinha-me prometido que à noite jogaríamos as cartas, mas já
estava quase na hora de ir para a cama e ele ainda não tinha chegado.
Quando o ouvi entrar pela porta da cozinha, levantei-me de um salto e
fui ao seu encontro. Embora lançasse um olhar preocupado à minha mãe, o
que achei estranho, abraçou-me quando corri para os seus braços. Adorava
abraçar o meu pai numa noite de inverno. O casaco grosso e frio
comprimia-se contra a minha cara e o cheiro do gelo misturava-se com o
cheiro da lã.


que desta vez foi diferente. Depois dos segundos iniciais do abraço
habitual, o seu corpo começou a ficar hirto. Fiquei um pouco assustado
com esta reação anormal e senti-me aliviado quando a minha mãe me
arrancou dos braços dele. Naquela altura, não compreendi que o meu pai
acabava de sofrer um enfarte. Pediram-me para descer para o quarto de
jogos e para brincar com os meus irmãos. Do fundo da escada, vi chegar o
médico e o padre. Mais tarde, vi os enfermeiros entrar e depois vi-os
sair, transportando uma maca coberta com uma manta vermelha. Não chorei
na noite da morte do meu pai, nem no dia do funeral. Não que reprimisse
as lágrimas. Simplesmente, não tinha lágrimas para chorar.

Na
manhã do dia de Natal, como habitualmente, fui o primeiro a
levantar-me. Mas este ano era diferente. A manhã já despontava no céu.
Mais acordado do que de costume, desci para a sala de estar. Só me
apercebi de que havia algo de estranho quando entrei na sala. Em vez de
ficar ofuscado com as luzes brilhantes, conseguia ver tudo com nitidez
naquela sala sombria. Conseguia ver o pinheiro, os presentes e até,
através da janela, um pouco do exterior. O meu pai já não estava
presente para assegurar que as luzes do pinheiro tinham ficado acesas.
Quebrara-se a magia do Natal da minha infância.

Entretanto,
os anos passaram. Durante a minha juventude, voluntariei-me sempre para
trabalhar no Natal. O dia de Natal não era bom, nem era mau. Era mais
um dia cinzento de inverno, com a vantagem de receber algum dinheiro
extra pelo facto de trabalhar.

Depois
apaixonei-me e casei-me. O primeiro Natal do nosso filho foi o melhor
que eu tinha tido em vinte anos. À medida que ele foi crescendo, o Natal
foi melhorando. Quando a nossa filha nasceu, já recuperáramos algumas
tradições familiares e o Natal tornou-se, de novo, uma época
maravilhosa. Era divertido esperar pelo Natal, ver a excitação das
crianças e, acima de tudo, passar o dia de Natal com a minha família. Na
véspera de Natal, continuei a tradição iniciada pelo meu pai e deixava
as luzes do pinheiro ligadas naquela noite para que, de manhã, as
crianças pudessem viver aquela experiência maravilhosa.

Numa
noite de Natal, tinha o meu filho nove anos, a mesma idade que eu tinha
quando o meu pai faleceu, enquanto via a missa do galo na televisão
adormeci no sofá. O coro cantava lindamente e a última coisa de que me
lembro foi de desejar ouvir outra vez a minha irmã a entoar Noite Feliz.
Acordei de manhã cedo com o barulho que o meu filho fazia enquanto
descia para a sala de jantar. Vi-o parar e olhar o pinheiro,
boquiaberto. Então, lembrei-me da minha infância e soube que o meu pai
me tinha amado da mesma forma que eu amava o meu filho. Soube que ele
tinha sentido por mim uma mistura de orgulho, de alegria e de amor
ilimitado. E, naquele instante, soube como me tinha zangado com o meu
pai por ele ter morrido e quanto amor tinha escondido durante toda a
minha vida por causa desse sentimento de raiva.

Senti-me
um rapazinho, cujas lágrimas estavam prestes a brotar, e não havia
palavras para exprimir a imensa pena e a alegria irresistível que
experimentava em simultâneo. Esfreguei os olhos com as costas da mão
para ver melhor. Com os olhos húmidos e a visão toldada, olhei para o
meu filho que estava diante do pinheiro. Meu Deus, que pinheiro
magnífico! Era o pinheiro da minha infância.

Através
das lágrimas, as luzes do pinheiro irradiavam um brilho quente e
cintilante. Os amarelos, verdes, vermelhos e azuis, tremeluzentes e
suaves, envolveram-nos. Tinham-me sido roubados pela morte do meu pai.
Mas, ao amar o meu filho tanto quanto o meu pai me amara, pude ver, uma
vez mais, as luzes de Natal. E, a partir desse dia, recuperei toda a
magia e alegria do Natal.

Michael Hogan
J. Canfield, M. V. Hansen, J. Matthews, R. Aaron
Chicken Soup for the Canadian Soul
Florida, HCI, 2010
(Tradução e adaptação)

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
As luzes de Natal Batmoon_e0
Vitor mango
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